Xano Edo: «A pressão que sinto é por querer dar títulos ao meu pai»
— Xano, por falar em renovação, é uma responsabilidade render um dos símbolos do Sporting, Ângelo Girão? Está preparado?
XE: É uma grande responsabilidade! Todos sabemos o que representa o Girão no mundo do hóquei, foi um dos melhores guarda-redes do mundo, ganhou tudo. Mas ele dizia-me que tinha de fazer o meu trabalho, a minha carreira, pouco a pouco, ir fazendo, sem ter de provar nada a ninguém. Foi um grande mentor no pouco tempo que partilhámos na Seleção. Este início de época foi merecido, demos aos adeptos os troféus e, a nível pessoal, também foi bom para tirar um bocado dessa pressão de cima.
— Até porque a pressão de render grandes guarda-redes não vem só do Girão, vem do apelido e da carreira do teu pai…
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— Sporting CP - Modalidades (@SCPModalidades) July 8, 2025
Bem-vindo, Xano Edo 🦁 pic.twitter.com/d9m5C7TpHj
XE: Sim! Foi a minha vida toda! Mas a minha família sempre decidiu levar isso como uma brincadeira, uma competição entre os dois. No meu primeiro Europeu, a minha mãe, e até o meu pai, dizia: ‘Já me estás a ganhar, começas cedo’. Mas, mais que pressão é uma ajuda e um privilégio, porque não estaria aqui, se não fosse também pelo meu pai.
— É mais fácil ter um treinador que também foi guarda-redes?
XE: Acho que sim. Pelo menos que compreende melhor. Preciso de muito treino específico. Se fizer uma semana boa de treino específico, chego aos jogos e sinto-me mais seguro a nível mental. O meu pai percebe isso, já foi guarda-redes, 20 anos a ser guarda-redes, a perceber o que se passa dentro da cabeça de um guarda-redes.
— E o que é que passa na cabeça do guarda-redes? Está sempre na corda bamba entre o herói e o vilão?
XE: Acho que sim. Afinal, somos a última linha depois do golo do adversário, não é? Sempre assumi bastante responsabilidade, mesmo que a culpa não fosse minha, acho que dá sempre para fazer um pouco mais. Às vezes, essa pressão não é tão boa, mas também leva-me a ser cada vez melhor. E acho que um guarda-redes passa, sobretudo, por trabalho mental, 60, 70% do trabalho é mental e, por isso, ter um pai guarda-redes que, mais do que a parte técnica, ajuda-me nessa parte, que é fundamental para chegar a sábado e estar ao meu melhor nível, é muito bom.
— Com esta herança, alguma vez pensou jogar noutra posição?
XE: Quando era mais pequeno até gostava. Joguei futebol, fui guarda-redes, experimentei ser jogador, mas vi que jogador não dava. Por isso, foi logo para a baliza [risos].
— E fica muito mal disposto quando perde?
XE: Sim.
— E o pai?
XE: Também [risos]. A minha mãe é o equilíbrio. Dá-me bastante calma, acho que herdei essa parte dela, e a parte competitiva do meu pai, o que me dá um certo equilíbrio, saber competir a um nível mais alto, mas com a calma que é preciso nesse tipo de jogos.
— E agora, no Sporting, a exposição será ainda maior
XE: O Sporting é um clube que te permite focares-te só no teu trabalho. Tem todas as condições possíveis para te fazer chegar ao teu máximo e acho que foi uma das coisas que mais notei. Além disso, o balneário é incrível. Se não fosse pelos que já cá estavam fazerem-nos sentir em casa, acho que não teríamos ganho ou não teríamos essa união que se demonstrou nas finais. Além das condições, ter um ambiente de família é fundamental.
— Não sente mais pressão por ser o filho do treinador?
XE: Não. Já senti, mas aprendi a lidar. O meu pai sempre me disse: ´Fazemos carreiras separadas. Eu agora sou treinador, tu és guarda-redes, foca-te no teu trabalho, não tens de te focar em mais nada’. E eu sempre fui assim. A única pressão que sinto é por querer dar títulos ao meu pai. A derrota que mais me doeu foi a final da Champions contra o Sporting, estava com o meu pai e sabia que ele não tinha ganho ainda. Se calhar era a final em que estava mais nervoso, não por ser o filho do treinador, mas por querer dar-lhe o título.
— Não sente que tem de trabalhar mais para provar que merece o lugar, que é seu não por ser filho do treinador, ou pior do treinador e ex-guarda-redes Edo Bosch?
XE: Se calhar, inconscientemente, penso nisso, mas desde pequeno que tive noção que seria assim. Por isso desenvolvi essa vontade de trabalhar mais, de treinar mais, de nunca me deixar acomodar. Sempre tive presente que tinha de dar mais para provar que mereço estar onde estou.
— Há um olhar atento sobre si?
XE: Acho que sim, que há mais atenção, mais expectativa, esperam sempre mais de mim, porque sabem quem sou, sabem de onde venho, a história da minha família. E isso faz com que tudo seja mais escrutinado, mais avaliado, mas também serve de motivação para mostrar em campo, através do trabalho, que estou aqui pelo meu esforço.
— E como vê o pai esta evolução?
EB: Para mim é um orgulho imenso. O meu objetivo como treinador e como pai é que ele cresça de forma autónoma, tome decisões, aprenda a ser responsável e a gerir emoções nos momentos importantes. O facto de ele lidar bem com a pressão, de procurar sempre dar mais, mostra-me que o caminho foi o certo. O importante é que ele seja feliz e sinta que valeu a pena todo o trabalho e sacrifício.
— Qual é o maior sonho? Qual é o objetivo coletivo e pessoal para esta época?
XE: O maior sonho é ajudar o Sporting a conquistar o campeonato nacional, contribuir para que o clube volte a ser campeão, devolver aos adeptos esse título tão especial. A nível pessoal, é continuar a crescer como guarda-redes, ganhar confiança, evoluir todos os dias. Ser o melhor guarda-redes do Mundo, consistente, completo e dar tranquilidade à equipa.
— O Xano disse que vinha para o Sporting ganhar tudo. Sem medo?
XE: Sem medo.
— E até agora, cumpriu.
XE: Tem corrido bastante bem. No ano passado, o Sporting já tinha uma equipa para ganhar tudo. Foi azar, depois perderam com o FC Porto, mas podia ter caído para qualquer um dos lados. Tinham jogadores muito experientes, o que dava uma certa tranquilidade nos jogos importantes. Não se pode fazer a comparação da equipa do ano passado para este, são jogadores completamente diferentes. Este ano é uma equipa mais jovem, com certos níveis de experiência. No ano passado era equipa com muita experiência, que sabia jogar e gerir mais os jogos em certos aspetos.
— Mais maturidade?
XE: Exatamente. Notou-se na final da Elite Cup contra o Benfica. Não soubemos jogar bem a final, mas, apesar da derrota, foi uma aprendizagem, para o Mundial e a Supertaça. A equipa deste ano é jovem, bastante trabalhadora e os jogadores que já cá estão, transmitem-nos maturidade para os grandes jogos também.
— Não há um favorito claro à vitória ou o FC Porto parte à frente?
XE: Não há. Todas as equipas têm possibilidades, umas mais que outras, mas a primeira jornada [Sporting empatou com Sanjoanense] provou que todas as equipas têm capacidade de ganhar. E ainda bem que assim é, vai ser um campeonato cheio de emoção.