Pavlidis, avamçado do Benfica, corre para a bola para bater o penálti que resultou no único golo da partida do último sábado, 16 de agosto, em casa do Estrela da Amadora para a segunda jornada da Liga Portugal Betclic
Pavlidis, de penálti, faz o único golo da vitória do Benfica na Reboleira frente ao Estrela da Amadora (Foto: IMAGO) - Foto: IMAGO

Vitória feliz do Benfica

Visão de golo é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo avançado internacional português

A vitória do Benfica na Reboleira foi tão importante quanto insegura, ficando a certeza que não se consegue ganhar muitas vezes assim. No entanto, este é o melhor arranque de sempre e logo num cenário inédito, que se antevia muito complicado de ultrapassar.

Sabemos que, entre o final da última época e o início desta, o tempo era escasso e a exigência muita. Difícil era pedir uma resposta melhor tais as várias condicionantes. É, por isso, aceitável que na continuidade se percebam ainda algumas fragilidades. Taticamente, as equipas dependem muito do rendimento do seu meio-campo, quer em termos de equilíbrio defensivo, quer de chegada à área contrária, como ainda do domínio da posse de bola, o melhor meio para manter o adversário controlado e à distância.

Ninguém duvida do potencial de Ríos e Enzo, que fez o Benfica investir forte nas suas vindas. Já sabemos que o tempo é curto, mas igualmente que os melhores também o são pela capacidade que devem ter para abreviar a sua adaptação a novos contextos. Falhar tantos passes e cometer tantas faltas não condiz com aquilo que a equipa pede e precisa dos seus dois médios.

Despiques acalorados com adversários e árbitro sucederam-se, mostrando uma dupla emocionalmente pouco controlada. Claro que o que se passa no meio influi decisivamente a produção defensiva e atacante das equipas, em défice neste jogo.

Quanto a Ivanovic, pareceu-me vê-lo muito preso à responsabilidade posicional que lhe foi dada e sem a ligação com o centro do ataque que se pretende. A lógica de fixá-lo na meia direita, tendo em conta o meio de Pavlidis e a meia esquerda de Schjelderup, compreende-se, mas vem limitando a sua comunicação e dinâmica com Pavlidis.

Cumprir sem bola, sim, mas deve conseguir libertar-se, dando o necessário ênfase na parte ofensiva. Em vésperas de Istambul, o que se sentiu na Reboleira poderá interromper esta estrutura tática, tendo em conta as características do jogo?

Fica a dúvida. Ríos e Enzo são elementos fundamentais neste início de época, mas serão o suficiente, nesta fase, para confrontos mais exigentes?

As vitórias são todas bem-vindas, mas recorrendo a um velho chavão, nem está tudo bem quando se ganha, nem mal quando se perde. No caso do Benfica, embora esta última amostra não tenha sido famosa, era difícil fazer melhor neste frenético começo de temporada. O saldo é mais que positivo, mérito da gestão da equipa técnica e do sacrifício dos jogadores.

Pai herói

Sou saudosista de boas pessoas, dos meus pais, de familiares e dos bons amigos que perdi. Gosto de recordar as fases felizes por que passei no futebol, mas não lhes sinto a falta. Também não sonho com a passada juventude, associada à minha profissão de atleta, nem tão pouco com alguma notoriedade que então consegui. Grato e orgulhoso pelo que vivi, mas só isso. Números redondos é uma designação clássica que recupero, nesta que é a minha crónica 50 para a A BOLA. A propósito, o meu pai era alguém que gostava de escrever e fazia-o bem, além da arte futebolística que o fez famoso.

Reli o livro que a minha irmã Lena publicou sobre ele há já alguns anos. O Águas do Benfica fica na história do seu clube. Foi herói para muitos adeptos do Benfica e o Pai herói para nós, título que, por ser justo, viria a ser escolhido para o seu livro.

Curiosamente, um dos capítulos do trabalho publicado refere e transcreve algumas crónicas que o meu pai fez para o jornal A BOLA, tinha ele somente 22 anos... Esta ligação perdura comigo, algo que faço com empenho e gosto.

Herdei dele, se não o talento, pelo menos o gosto pela escrita. Números redondos festejam-se, assinalam-se, fazem-nos valorizar histórias vividas. Dois dos mais marcantes: fez 30 anos em maio que deixei de jogar, em 1995 e, para terminar em beleza, neste quinze de agosto, o feliz aniversário de casamento dos meus pais, que aconteceu há já 70 anos.

Rodrigo Mora

Éum facto que a entrada de Francesco Farioli tem produzido efeitos positivos no FC Porto. No entanto, é no mínimo discutível esta situação de Rodrigo Mora, depois de uma afirmação tão clara de capacidade e influência no jogo da sua equipa. A teoria que travava os talentos até serem maiores de idade, só porque sim, perdeu, entretanto, muita da sua validade. Lembro-me, desde logo, de Yamal, que sendo um fenómeno, está longe de ser um caso único, de como precoce pode ser a afirmação de um atleta.

Musiala, do Bayern, é só outro exemplo de imposição adolescente, a tempo inteiro, nas melhores equipas do mundo. Fará sentido Rodrigo Mora voltar para trás? O início da época tem sido positivo para Farioli, mas é difícil contrariar as evidências que os colegas do Mora sentem, os adeptos veem e a imprensa relata.

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