Leandro Barreiro fica fora por lesão, de resto Mourinho faz alterações na equipa por mérito

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Treinador do Benfica fez a antevisão da partida com o Farense

— Vários jogos, pouco tempo de descanso, agora o Farense, da segunda divisão. Há uma mudança de chip para um jogo que pode ser chamado de final?

— É isso mesmo, finais.  Por isso, não tem havido mudança de chip. Não temos jogado nenhum jogo que nos possa permitir uma mudança de chip. Quando jogámos com o Nápoles, se não ganhássemos, estávamos fora. Não ganhar com o Moreirense seria também um golpe importante. Perder em Faro significa estar fora da Taça. Portanto, adversários diferentes, competições diferentes, mas o chip é sempre o mesmo, temos de ganhar. E acho que isso pode ajudar-nos, porque muitas vezes depois de um grande jogo, como aquele com o Nápoles, pode acontecer um bocadinho de relaxamento. E no jogo seguinte de campeonato as equipas muitas vezes não respondem da melhor maneira. Depois do Moreirense podia acontecer a mesma coisa relativamente ao Farense, mas sabemos que é uma final, sabemos que é difícil. O Benfica foi lá na época passada, na Taça, e teve dificuldades. A nossa equipa B, há um par de meses, esteve a ganhar lá confortavelmente e acabou por perder. Pela maneira que eles têm de jogar. Não são uma equipa que procura a estética do jogo, mas luta com as armas que tem, com o campo difícil e condições difíceis para o adversário. Portanto, temos de jogar a sério. Vou mudar alguma coisinha e vou mudar porque cada vez mais confio em toda a gente. Não vou mudar porque o jogador A, B ou C precisa de descansar, porque o jogador A, B ou C está em dificuldade. O jogador que está em dificuldade é o Barreiro e nem sequer estará na lista dos convocados. A partir daí, alguma mudança que eu possa fazer parte da minha confiança crescente em gente que tem tido menos oportunidades comigo. Começo a conhecê-los cada vez melhor, eles adaptam-se a mim também cada vez melhor. Os nossos treinos não parecem treinos, parecem jogos, que é uma coisa que me dá uma grande satisfação. Faremos 3 ou 4 alterações.

— Manterá o sistema e mudará as peças?

— Esta coisa de sistema hoje em dia é um bocadinho complicada de analisar, constrói-se de diferentes modos, pressiona-se de diferentes maneiras também. Obviamente que a mudança de alguns jogadores implica automaticamente que se tenha de modificar algumas coisas. Uma coisa é jogar com Aursnes na ala direita ou na ala esquerda, outra coisa é jogar, por exemplo, com Schjelderup, que é verdadeiramente um ala de iniciar as suas ações sempre a partir do exterior. São estas pequenas diferenças entre os jogadores que nos farão modificar alguma coisa, mas o Farense também é importante neste contexto. Apesar de querermos impor aquilo que somos também temos de adaptar-nos porque há coisas que é impossível contrariar se não nos adaptarmos.

— Após o jogo da Taça de Portugal com o Atlético criticou bastante a atitude dos jogadores, agora joga para a Taça com outra equipa de escalão inferior. Como está a preparar os jogadores para que a atitude não se repita?

— Acho que o jogo com o Atlético também marca um bocadinho a viragem na nossa equipa. Cada vez mais nos identificamos, cada vez mais nos conhecemos. Eu a eles, eles a mim, sabem que eu perdoo com todo o coração o erro que o Dahl cometeu com o Leverkusen ou o erro que o Tomás [Araújo] cometeu contra o Casa Pia, no penálti. Sabem que perdoo com todo o coração esse tipo de situações, mas que nunca aceitarei reduções nos níveis de concentração. Depois de tantos anos, é das coisas que nunca consegui ultrapassar. E não nos poderão apanhar de surpresa porque sabemos à partida que as condições não são as melhores. Há uma equipa extremamente física, que joga muito direto, que não se preocupa muito, por exemplo, com princípios de jogo como os do Atlético. Sabemos que vamos ter dificuldades e temos de ser capazes de responder. Já são três jogos consecutivos sem jogar na luz e temos de continuar.

— Ao longo da sua carreira ficou conhecido por ser um mestre dos mind games. Acabou de dizer que o seu discurso a seguir ao jogo para o Atlético marcou uma mudança na equipa. O principal alvo desses jogos psicológicos tem sido a própria equipa do Benfica? É uma forma de tirar rendimento de um plantel que não escolheu?

Desculpe, mas eu acho que aquilo que me tornou conhecido no futebol foram os títulos que eu ganhei e não o facto de dizer umas bacoradas de vez em quando. Obviamente, falar convosco é também um modo de chegar aos meus jogadores. Naquele caso específico do Atlético, aquilo que eu vos disse foi exatamente o mesmo que eu disse aos jogadores ao intervalo. Estávamos a falar de coisas muito objetivas. Cada jogo é um jogo e no futebol as coisas mudam muito rapidamente. Os estados de graça acabam e os momentos de grande dificuldade também acabam. Tudo tem um fim, seja transformar o bom no mau ou o mau em bom. Agora que vivemos um bom momento ao nível do jogo e ao nível dos resultados temos de ter esta capacidade e esta força mental de querer sempre mais. Queremos continuar na senda dos bons resultados e a jogar bem.

— Já confirmou que Leandro Barreiro estará ausente. Que onze é que o Benfica vai apresentar?

—  Leandro fica de fora e segunda-feira vamos ver como chega. E aproveito a oportunidade para desejar ao miúdo Vasco [Sousa, jogador do Moreirense, que fraturou o perónio] boa recuperação. É um ótimo jogador e parece um ótimo miúdo, da minha parte e da parte de todos nós aqui, que tudo corra bem e que ele recupere rapidamente. Não vamos facilitar, o ponto de partida do mudar é dar aos jogadores que merecem jogar e que não têm jogado muito a oportunidade de jogar. Não é ‘este jogador precisa muito de descansar e vamos fazê-lo descansar’. Não é esse o caso. De um modo muito objetivo e sem querer responder muito mais do que isto, Otamendi vai jogar. Há um par de jogadores que não vão jogar. Quando digo um par, digo não só um par, se calhar dois ou três. Mas aqueles que não vão jogar vão estar no banco. Ter estes jogadores no banco também me dá uma certa segurança. Vamos com o objetivo de ganhar a eliminatória e se pudermos ganhá-la em 90 minutos é melhor do que ganhá-la em 120, porque aí sim já estaremos a entrar em acumulação exagerada. É mais uma viagem. Não temos uma oportunidadezinha de jogar em casa. No primeiro sorteio foi o Mário Branco. No segundo sorteio foi o senhor Humberto Coelho. Quando houver sorteio outra vez, tem de ir outro que seja um bocadinho mais sortudo, porque só nos toca jogar fora de casa.

— Frederico Varandas respondeu ontem às suas críticas em relação à forma como os rivais se queixam da arbitragem. Disse que no Sporting não se chora. Sente que este clima à volta da arbitragem está a manchar o campeonato?

— Não sinto nada, nem comento nada. Li que o presidente do Sporting vai recandidatar-se no próximo ano e, apesar de ser algo que a mim não me diz respeito, aproveito para dar os parabéns pelo trabalho fantástico que tem feito desde que assumiu a presidência do Sporting.

— Depois da lesão de Lukebakio tem apostado em cinco médios. Que diferenças sente na dinâmica da equipa? Esta versão atual aproxima-se mais daquilo que quer para a equipa?

— Em termos de coesão da equipa, sim. Em termos de uma equipa compacta defensivamente, que parte de uma posição de base para depois poder pressionar. Estamos a conseguir fazê-lo muito bem. Depois, com segurança na gestão do jogo. Por exemplo, nos primeiros 15 ou 20 minutos em Moreira de Cónegos zero remates à nossa baliza. A equipa mesmo quando não está por cima no jogo, não está por baixo. Está sempre no controlo. Obviamente que ter gente rápida, gente ágil, que procura profundidade, dá outra dimensão ao jogo que eu gostaria de ter. Mas a equipa evoluiu muito bem neste sentido. O Aursnes e o Sudakov, a partir daquela posição, têm sabido fazer o link Play [jogo de ligação] muito bem. E a equipa vai crescendo. Da mesma maneira que quando tivemos um par de resultados negativos, fosse na Champions, fosse no campeonato, não houve pânico. Tivemos dois resultados bons na Champions e estamos a jogar bem no campeonato… calma.

— Manu Silva será uma das alterações?

— Sim, sim. O Manu joga, o Enzo [Barrenechea] vai sentar-se ao meu lado. São jogadores com um perfil parecido posicionalmente. Jogam nas mesmas zonas. São jogadores que interpretam muito bem o jogo, seja na fase defensiva, seja na fase ofensiva. Não são dois jogadores muito explosivos, muito rápidos, mas têm uma leitura de jogo e uma ocupação de espaço muito boa. São os dois fisicamente fortes, são os dois fortes na bola parada. São jogadores de um perfil muito parecido. Enquanto não havia Manu, estávamos ali um bocadinho limitados. Manu a crescer e a começar a aparecer é ótimo para nós, porque voltamos àquela máxima de dois jogadores por posição, que nos dá a estabilidade um bocadinho perdida.

— Vai haver alguma surpresa?

—  Banjaqui. É o único que vai estar convocado além daqueles que vieram de baixo, mas que já jogaram connosco. José Neto e Tiago Freitas foram para o Funchal, jogam hoje. Quero tê-los comigo, mas também quero que joguem. É importante que joguem muito para o desenvolvimento. Tiveram dois jogos no banco com a primeira equipa, Neto jogou meia dúzia de minutos em cada jogo, o Freitas jogou meia dúzia de minutos com o Nápoles, eles precisam de jogar. E hoje na Madeira é um jogo de primeira liga, porque o Marítimo é uma equipa de primeira liga [Liga 2, mas com histórico de Liga e candidato à subida], é um jogo bom para ele jogar em 90 minutos. Se não 90, o [Nélson] Veríssimo decidirá, porque tem toda a autonomia para decidir. Mas é importante para o desenvolvimento do Freitas e do Neto fazerem este jogo. E depois abrem porta a que gente que não tenha sido convocada seja convocada. Obrador regressa aos convocados e Banjaqui vai ser convocado pela primeira vez.

Pavlidis está em forma, vem de um jogo em que fez três golos, está entre os melhores marcadores da Europa do ano civil de 2025. Onde é que ele fica no ranking de José Mourinho? Tendo em conta que trabalha com um treinador que teve, entre outros jogadores, Drogba, Cristiano Ronaldo e Ibrahimovic.

— Não faço rankings. Foi sempre uma coisa que me recusei a fazer e já me pediram mil e uma vezes. ‘Qual é a sua equipa ideal?’ E eu recuso-me porque tenho um respeito tremendo por todos aqueles que me deram tanto, que me deram tanto a ganhar. E agora imaginem fazer aqui um exercício rapidamente. Quem foi o melhor guarda-redes que jogou para mim? Vítor Baía, Júlio César, Petr Cech, Thibaut Courtois, Hugo Lloris. Agora imaginem isto com lateral-direito, central, atacante. Eu não consigo fazer rankings. Agora, consigo identificá-lo como um ótimo jogador, um jogador de que eu gosto muito porque tem o golo, mas também tem o link play [jogo de ligação]. Às vezes digo que há atacantes que são muito bons porque marcam muitos golos. Mas no dia em que não marcam golos, a contribuição para a equipa é zero. E o Pavlidis é o tipo de atacante que se não marcar o seu contributo nunca é zero. Porque na fase defensiva trabalha muitíssimo, interpreta muito bem os timings de pressão, na fase ofensiva é um jogador que se não fosse um número 9 poderia perfeitamente ser um médio ofensivo porque tem essa qualidade de jogar e de construir. É um jogador de quem eu gosto muito. Estou muito contente. Gosto do crescimento que o Ivanovic está a ter. Gosto fundamentalmente da força psicológica de resistir a dois ou três meses praticamente sem jogar e com um rendimento muito baixo. Vamos melhorando todos um bocadinho de cada vez.