Transição rápida
Capítulo encerrado: foi uma participação positiva do Benfica na primeira edição do novo Mundial de Clubes, dentro das expectativas consideradas no início razoáveis de passar a fase de grupos. Foi possível contrariar um ilustre e poderoso adversário nunca antes batido e discutir até ao fim a qualificação para os oitavos de final, com o já semifinalista Chelsea. Mas isso tudo já lá vai.
O acabar e o recomeçar, desta vez, quase colam e não há tempo a perder. Uma transição atípica por ser curta, como nunca, que obrigará as equipas participantes no Mundial a trabalhos forçados. Uma gestão especialmente complicada, podemos dizer inédita, que obrigará à criatividade das equipas técnicas, em conjunto com a resistência física e mental dos atletas.
Serão as esperadas dificuldades possíveis de minorar para uma época de sucesso? Os clubes tentam, entretanto, e em tempo recorde, resolver os sempre complicados dossiers que no final das épocas se acumulam. Quem sai e quem entra, é a questão. Agentes, negociações, empréstimos e regressos. Uma canseira estendida até ao fecho do mercado.
PSG
A equipa mais portuguesa do Mundial mantém-se como uma das favoritas depois de ter vencido o jogo com o Bayern cheio de peripécias. Além da emoção e incerteza do resultado, a lesão do jovem Musiala foi chocante, semelhante a uma outra que vivi há já muitos anos.
Então como agora, a lesão não resultou de entrada especialmente violenta, mas sim da posição mais vulnerável em que o lesionado é atingido. A dor é mais mental e resulta da imagem assustadora que vemos e não tanto da dor física provocada pelo choque. Pelo menos, comigo foi assim.
Claro que será sempre uma lesão muito grave, mas relativamente ao passado, o jovem alemão tem a seu favor não só a sua idade, que ajuda às recuperações físicas, como também uma realidade científica bem mais hábil e estabilizada, no que diz respeito aos meios de cirurgia e recuperação. Têm a palavra agora, não só o staff clínico que acompanhará este jovem especialmente talentoso, mas também a sua própria persistência e solidez mental.
De regresso ao jogo, o Bayern foi superior ao PSG na primeira parte, mas sentiu e muito o drama de Musiala, cujo episódio diminuiu a equipa. Mas a vida e o jogo são mundos de momentos e contrastes. Por um lado, João Neves desarma um adversário no momento certo e sem falta, soltando imediatamente na frente para o golo de Doué. Por outro, a melhor maneira que os colegas Pacho e Lucas Hernández arranjaram para festejar foi fazerem-se expulsar incompreensivelmente, colocando em risco a vantagem conseguida. Normalmente quem sofre é que se desorienta, mas não desta vez. Um teste aos nervos de qualquer mister.
O adivinho
Ao contrário do que Neuer vociferou publicamente, condenando Donnarumma pelo sucedido com Musiala, tratou-se de um lance como muitos outros, mas que por vezes correm mal.
A frustração do resultado e o próprio rendimento descontrola alguns atores. No que diz respeito ao guarda-redes alemão, foi dos jogadores em pior nível desta eliminatória. Falámos no recente exemplo de Trubin e do golo sofrido perante o Chelsea. Tentar adivinhar a intenção do avançado é, por vezes, fatal. Foi o que voltou a acontecer neste jogo, agora com o alemão. Descurar o lado pelo qual se é mais responsável deu em golo de Doué, outro jovem fenómeno da atualidade.
Também as saídas a jogar de Neuer só não deram mais golos ao PSG por acaso, tal o ridículo das suas decisões. Para completar, achei cobarde e muito injusto, responsabilizar um colega adversário, ainda mais num momento tão infeliz e traumático para os intervenientes.
Os manos
Embora católico, cada vez mais duvido do critério divino.
Havendo justiça, ela devia manter os melhores em vida. Tolerância pede-se para quem mais a merece, para as boas pessoas.
O efeito da consolação é, nestas alturas, impossível para qualquer família que perde os seus filhos. Diogo Jota, como o seu irmão André, mesmo vítimas do acaso, do destino, ou do que raio for, são homenageados não pela sua capacidade com bola, mas pela sua bondade e valor humano. É por isso que todos nós um dia gostaríamos de ser lembrados. Duas pessoas conhecidas e queridas que não veremos mais.
Luis Enrique também perdeu a sua pequena filha. Quando a ela se refere, consegue extraordinariamente suavizar a perda e dar-lhe um raio de luz e algum sentido, contrariando a natureza que nos arrasta para o desgosto. É um exercício único e que admiro muito, mas que é quase sobrehumano.
É assustador, entretanto, o que o mundo nos continua a trazer diariamente, com a morte de crianças anónimas, sem cara e muito menos culpa. É uma normalidade triste que já ouvimos sem reagir.
Estar ou não estar
Cada um lida com as cerimónias fúnebres consoante a sua religião, vontade e liberdade. No entanto, sem os dramatismos que ouvimos e lemos, penso que a condição de capitão da Seleção Nacional teria merecido de Cristiano Ronaldo a sua presença.
As pessoas são livres de criticar, sim, e fazem-no de preferência pela negativa. Nesse aspeto somos fortíssimos. Mas também há liberdade para decidir estar ou não estar. Na minha vida pessoal, desde a morte dos meus pais, dificilmente vou além do velório da pessoa falecida. Hoje, vejo e sinto o fenómeno triste da morte muito mais espiritual do que presencial.