«Tentativa de explorar pressuposto errado de que os benfiquistas são estúpidos»
Gonçalo Almeida Ribeiro, ex-vice-presidente do Tribunal Constitucional, proposto pela candidatura de João Noronha Lopes para a presidência da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, procedeu à formalização da lista nesta sexta-feira de manhã, no Estádio da Luz, e falou em exclusivo a A BOLA. Informações avançadas pela CNN Portugal sobre problemas na vida empresarial do gestor foram refutadas.
— A formalização da lista de João Noronha Lopes está feita, é mais um passo seguro rumo às eleições do dia 25 de outubro?
— É isso mesmo, viemos formalizar as candidaturas aos três órgãos sociais e à comissão de remunerações, entregámos todos os elementos que são exigidos para o efeito e estamos preparados para nas eleições no dia 25 promover a mudança no Benfica.
— Como estão os níveis de confiança da candidatura?
— Os níveis de confiança estão altos, mas não posso deixar de dizer, perante essa pergunta, que foi com estupefação e repugnância que assisti a uma peça televisiva que é reveladora de que se instalou um receio muito grande, diria mesmo um pânico, de que a candidatura de João Noronha Lopes possa, como todos esperamos, ter êxito. Quando uma pessoa com independência, competência e intransigência como João Noronha Lopes se coloca ao serviço do Benfica, isso constitui uma grande ameaça para a pusilanimidade, a incapacidade, a promiscuidade e a rapacidade que há muitos anos tomaram conta do clube. Por isso vemo-lo com grande otimismo, porque estes ataques são sintomáticos de que esta candidatura é fortíssima.
— Estão preparados para o endurecimento da campanha a todos os níveis até 25 de outubro?
— Endurecimento é um eufemismo, eu creio que isto ultrapassa todas as marcas daquilo que é admissível. Estamos a falar de uma pessoa que tem um percurso profissional extraordinário, um gestor de nível mundial, uma pessoa que acumulou riqueza, que lhe permitiu ter uma vida financeira desafogada, enquanto gestor, com remuneração que está documentada, é pública e notória. E, portanto, as fontes de riqueza do candidato são fontes conhecidas. Dedicou-se, precisamente por ter uma vida financeira desafogada, a investir em várias empresas, empresas essas que para qualquer pessoa com alguns conhecimentos de gestão estão a cumprir uma trajetória de crescimento normal. Ontem fiquei estupefacto quando assisti a um contabilista que caiu do céu a tentar explorar uma pretensa iliteracia financeira dos benfiquistas para passar uma ideia completamente absurda sobre uma empresa em particular de que João Noronha Lopes é sócio. E eu creio que essa tentativa de explorar a ignorância e iliteracia baseia-se no pressuposto errado de que os benfiquistas são estúpidos e não sabem que o clube está há muito tempo colonizado por interesses inconfessáveis e precisa desesperadamente de uma mudança para que não aconteça ao Benfica o que aconteceu às realidades dos grandes clubes de futebol europeus, que deixaram de ser uma comunidade, uma instituição dos seus sócios, e passaram a ser uma coisa diferente, que é propriedade de alguém, de um oligarca, de um empresário, de um fundo, de uma sociedade. Não é isso que nós, os sócios do Benfica, queremos que o Benfica seja, e para que não o seja é necessário que se encontre um equilíbrio entre duas coisas: associativismo, a participação ativa dos sócios na vida do clube, e profissionalismo, a capacidade de o clube ser governado por aqueles que entre os seus sócios deram mostras profissionais de serem capazes de tornar o Benfica competitivo, transparente, criterioso e audaz.
— Vai liderar a mesa da Assembleia Geral, por isso deixe-me colocar-lhe uma questão em relação ao voto eletrónico. Há ceticismo em relação ao voto eletrónico e é por causa disso que não irá estar nestas eleições. Acredita que serão eleições justas e corretas ou há algum receio de que possa haver batota?
— São questões diferentes. Quanto à questão do voto eletrónico, há duas razões, cada uma delas suficiente para que não se use o voto eletrónico nestas eleições. A primeira razão é muito simples, é uma razão geral, não há nenhuma democracia madura cujos padrões nós queiramos imitar em que se use o voto eletrónico. Isso é sintomático de que no estado atual da arte ou do desenvolvimento técnico o voto eletrónico não dá as garantias de fidedignidade que estão associadas ao rito cívico do voto físico depositado em urna. Mas depois há uma razão mais específica, desde 2020 que há setores muito significativos da massa associativa do Benfica que têm uma enorme desconfiança em relação à integridade dos processos eleitorais. E o voto eletrónico é a corporização ou a manifestação última dessa desconfiança. E, por isso, esta candidatura desde o primeiro momento apostou na máxima integridade e confiabilidade do processo eleitoral, de forma a que após o dia 25, ou após a segunda volta, se houver, os benfiquistas possam reconciliar-se com os resultados eleitorais e o Benfica possa viver num clima de paz.
— E quanto à lisura, à transparência e à integridade destas eleições?
— Perante o chumbo da proposta de regulamento eleitoral que foi apresentada pela Direção, chumbo esse que, na minha opinião, se deveu exclusivamente ao facto de a Mesa da Assembleia Geral, violando a lei e os estatutos, não ter admitido que os sócios propusessem propostas de alteração que melhorassem o texto do regulamento e que permitiriam, seguramente, que se encontrasse um consenso alargado entre os sócios reunidos na Assembleia Geral para aprovar aquele regulamento, a Mesa anunciou que aplicará, na medida em que for compatível com os novos estatutos, o regulamento de 2021. Mas há uma ironia nesta história e a ironia é a seguinte: o regulamento de 2021 foi um texto produzido por consenso entre a então Direção e o Movimento Servir o Benfica, que lançou uma candidatura de oposição, com a intervenção também da Mesa da Assembleia Geral. Nós temos, por isso, a expectativa de que, cumprida esta etapa de formalização das candidaturas, a Mesa da Assembleia Geral tenha a mesma abertura para a consensualização dos critérios que vão regular as eleições que houve em 2021. Se isso for feito, eu tenho a esperança de que, pelo menos do ponto de vista substancial, estas eleições sejam plenamente confiáveis. Caso contrário, a Mesa da Assembleia Geral, usurpando o poder de regular as eleições e não procurando o consenso com as várias candidaturas, cria um risco. Pode não se materializar, claro, mas há um risco sério de haver insuficiências no processo eleitoral que põem em causa a sua integridade e, portanto, a sua confiabilidade.