Ricardo Carvalho abre o livro: «Roberto Martínez deu-me o tempo que eu precisava»

Antes de voltar a vestir a pele de central elegante no Legends Charity Game, esta noite (20h00), em Alvalade, o adjunto da Seleção falou com A BOLA sobre tudo, de Ronaldo a... Villas-Boas

Seleção Nacional, Ronaldo, FC Porto e não só. Em entrevista a A BOLA, Ricardo Carvalho abriu o coração antes de voltar a representar Portugal no Legends Charity Game, esta segunda-feira à noite (20h00), em Alvalade.

— Vai ser um dos protagonistas do Legends Charity Game. Como será partilhar o relvado com tantos amigos e ex-colegas de Seleção?

— Antes de mais, importa dizer que é um prazer fazer parte deste jogo. É tentar ajudar, através do futebol, as pessoas que mais necessitam. Depois, é sempre importante ver os meus colegas, tanto os portugueses como os estrangeiros, porque a maior parte da minha carreira foi feita lá fora e conheço a maior parte deles. São amigos, fizeram parte da minha carreira e ajudaram-me a crescer como jogador e como pessoa.

— Como vai ser reeditar as duplas com Pepe, Bruno Alves e Jorge Andrade?

— Sempre bom. A minha posição era específica e é bom ter ao lado um companheiro que também conhece bem o setor. Felizmente dei-me muito bem com todos eles. A verdade é que o jogador com que joguei mais tempo a nível de clubes foi o John Terry. Complementamo-nos, o John foi dos jogadores que com quem tive mais prazer de partilhar o campo.

«O John Terry foi dos jogadores com quem tive mais prazer de partilhar o campo»

— No Portugal Legends, quem está em melhor forma?

— Parece-me que estão todos muito bem! O JT [John Terry] vai estar do outro lado e sei que está bem. Também sei que o Bruno [Alves] e o Pepe estão muito bem. O Pepe, aliás, terminou a carreira há pouco tempo. Todos ficamos a ganhar e os espectadores também, porque todos os jogadores convidados estão em plena forma e podemos proporcionar um bom espetáculo.

— Do outro lado temos Del Piero, Larsson, Hagi, Stoichkov… Algum lhe tira o sono?

— [Risos] Deixaram de me tirar o sono, na verdade. Estou preparado e sinto-me bem para jogar e dar o meu melhor. Obviamente, é um prazer defrontá-los todos, porque quem sabe jogar nunca esquece e não podemos facilitar. Caso contrário, todos serão capazes de criar problemas.

— Como se tem preparado para este Legends Charity Game?

—Muito simples: tenho três filhos, um tem 20 anos e joga futebol [Rodrigo Carvalho, dos sub-23 do Vizela], portanto, tento acompanhá-lo. Ele é competitivo e eu também quero mostrar que ainda estou bem, então treinamos muitas vezes. Tenho também um menino de oito anos e uma menina de 18, que gosta de fazer desporto, seja ténis, futebol ou padel. Vou-me entretendo e ganhando forma com eles.

— Estamos a falar de muitos campeões e o Ricardo é, agora, um dos técnicos da seleção campeã da Liga das Nações. Como viveu essa conquista?

— Foi diferente das conquistas que tive enquanto jogador, mas, ao mesmo tempo, com o mesmo significado. Joguei o Euro-2004 e perdemos a final. Muitos dos meus colegas também mereciam ganhar um troféu com Portugal. Tive a sorte de ganhar em 2016, como jogador, e agora como treinador-adjunto. Só quem está lá é que percebe o que significa ganhar pelo nosso país. É diferente de ganhar por um clube. Portanto, estou muito grato por ter vencido como jogador e também por ter ganho agora como treinador-adjunto.

— Foi tão saborosa como a do Euro-2016?

— A de 2016 foi muito importante. Passei 12 anos à espera de jogar outra final ou de participar num Europeu e poder ganhá-lo. Quando ganhei, já tinha 38 anos e senti uma pressão enorme, porque sabia que não ia ter mais oportunidades para poder ganhar como jogador. Agora, esta última Liga das Nações foi incrível. Portugal merece que cada vez mais possamos ganhar outras competições. Não foi por acaso que ganhámos em 2016 e 2019. É importante continuarmos assim. Lá fora, começam a respeitar-nos cada vez mais. Éramos grandes jogadores, tínhamos talento, mas, na hora da verdade, não ganhávamos. Ter os troféus connosco faz a diferença.

— O bom momento parece ter sido transportado para a qualificação para o Mundial. O apuramento é uma formalidade ou é muito cedo para falar nesses termos?

— Temos que fazer a nossa parte. Como jogador, sempre pensei que, na Seleção, ninguém nos obriga a ganhar. Obriga-nos, isso sim, a dar o nosso melhor. E, se dermos o nosso melhor, sabemos que vamos estar presentes no Mundial. Somos uma grande equipa e temos um grande espírito coletivo. Não é só o talento, é o espírito de grupo que temos. Felizmente, acho que está tudo encaminhado para, mais uma vez, estarmos no Mundial.

— Como tem sido trabalhar com Roberto Martínez?

— Antes de estar com o Roberto Martínez, tive a experiência com o André Villas-Boas no Marselha e foi um prazer trabalhar com ele. O Roberto é uma pessoa cinco estrelas, deu-me o tempo de que eu precisava para me adaptar, porque só tinha um ano e meio de experiência de clube enquanto adjunto. Felizmente, cada vez mais sinto-me preparado para ajudá-lo e para ajudar a equipa. Isso é importante, como também o foi ele dar-me o tempo de que precisava para melhorar e para me adaptar à nova vida do pós-futebol.

— De que forma a equipa técnica e o grupo lidaram com o desaparecimento do Diogo Jota?

— Não se consegue lidar muito bem, na verdade. Acho que ainda estamos a digerir um pouco a perda do Diogo, que era uma pessoa importante, uma pessoa cinco estrelas. Foi uma tragédia, até hoje ainda estamos a assimilar que ele não está connosco. Claro que é ainda mais difícil para a família, que agora conhecemos. Os pais, a Rute, os filhos… É muito difícil. Quando pensas neles, a dor aumenta.