antigo extremo mostrou que ainda está em grande forma com uma 1.ª parte de grande nível

Quaresma ainda toca na bola como se ela fosse a sua amante eterna

Portugal devia ter ido ao VAR. Ter Quaresma, Nani e Pepe na mesma equipa não é justo. Ainda jogam muito. Tal como Figo ou Kaká. E, mesmo parados, os pés esquerdos de Stoitchkov e Hagi são um mimo

Primeira verdade: quem sabe nunca esquece. Segunda verdade: os anos pesam. Tudo isto foi confirmado esta segunda-feira, no Estádio Alvalade, no Legends Charity Game: Portugal vs. World, como foi apresentado. Mais quilos, mais cabelos brancos; menos velocidade, menos resistência. Mas o talento de sempre a acariciar a bola. E Quaresma, meus caros, ainda toca na bola como se ela fosse a sua amante eterna.

Não houve basculações, entrelinhas ou 4x4x2 em losango. Antes, futebol lento e pausado, e muitas recordações. Dos Mundiais de 1994, 1998, 2002 e 2006, e dos Europeus de 1996, 2000, 2004, 2008 e 2016. O jogo teve, com exceção do futebol rendilhado de Kaká, sentido único: o da baliza de Cech. E, mais tarde, de Van der Sar.

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Quaresma e Nani (sobretudo o Sr. Trivelas) quiseram mostrar que não têm 42 e 38 anos, mas sim 32 e 28. E cruzaram, fintaram, correram, sprintaram até. Quaresma metamorfoseou-se em serpente e Marco Materazzi, a certa altura, deve ter pensado que era Zidane e não Quaresma, e deu-lhe o chamado ‘chega para lá’.

Quaresma não foi para lá: foi sempre para cima do italiano e, após múltiplos cruzamentos milimétricos para Pauleta, o açor dos 47 golos pela Seleção Nacional marcou, por fim, o primeiro de Portugal. Antes e depois do remate certeiro do 9, avalancha a cair na cabeça (ainda protegida) de Petr Cech: Maniche tentou um golo parecido ao que marcou à (então) Holanda no Euro 2004, igualmente em Alvalade, mas para as mãos de Cech. Kaká mandou uma bola à barra de Baía. Hamsik rematou fortíssimo de pé esquerdo e Baía, meus caros, se não fossem os cabelos brancos, diríamos que era o Baía de 2003/2004. Terry e Quaresma, agarradinhos, a rebolar no relvado, após um corte do inglês.

E sempre uma certeza: se a diferença de idades entre as duas equipas iniciais não era substancial, a diferença de quilos era bem evidente. Os portugueses eram quase todos ainda razoavelmente magros, enquanto o Resto do Mundo tinha muitos já bem anafadinhos.

A segunda parte começou Balakov em campo e um show de Postiga. Canto de Figo, cabeça de Pepe, bola a saltitar à frente de Postiga na pequena área e, zás, remate falhado. Logo a seguir, tentando fugir pela esquerda, tropeçou no ar e caiu dentro da área. Sem penálti, claro. Pouco depois, porém, Figo cruzou milimetricamente para Postiga e este desviou de cabeça para o fundo da baliza, agora de Van der Sar.

Balakov e as selfies dos fãs (FOTO:IMAGO)

Del Piero não gostou e, logo a seguir, descobriu um buraquinho de agulha na defesa de Portugal. Colocou a bola no espaço vazio e, rapidíssimo como sempre (ok, um pequenino exagero), Owen desviou de Beto e reduziu para 2-1.

Por falar em craques: Figo. Pega na bola, faz uns dribles curtinhos, curtinhos e remata rente ao poste de Van der Sar: 3-1. O povo aplaude e Figo festeja como se fosse um Barcelona-Real Madrid. A seguir, sai Dani e entra Jorge Andrade. Vai formar dupla de meio-campo com Pepe. Ou melhor: vai tentar formar dupla de meio-campo com Pepe. E, depois, num livre direto de Karagounis (não apupem, por favor, o grego do Euro 2004; façam apenas silêncio), Jorge Andrade colocou-se na posição em que agora parece ser mais útil: na barreira.

Eliseu caiu na área com Kaká e Artur Soares Dias assinalou penálti. Beto defendeu o remate de Djorkaeff, Owen marcou na recarga, mas o golo foi anulado porque o inglês invadiu a área antes do tempo. Todos protestaram como se fosse a final do Mundial (calma, Materazzi, não estamos em 2006 e Zidane não está em campo). A seguir entraram Stoichkov e Hagi (olá, Mundial 1994). Os dois mais velhos em campo: o búlgaro, de 1966, com 59 anos; o romeno, de 1965, com 60.

Quaresma reentrou para o lugar de Figo e agora Portugal passou a ter dois números 20: Simão e Quaresma. E o jogo passou a ter dois melhores do mundo: Stoichkov (1994) e Owen (2001). Figo (2000) e Kaká (2007) já tinham saído. Por fim, entrou o treinador-jogador do Resto do Mundo, o inigualável Roberto Carlos. E, pouco depois, Soares Dias apitou para o final. Valeu, craques.

Veja aqui o resumo do jogo: