Provavelmente, não alcançaremos o apuramento europeu
1 — Não pretendo candidatar-me ao epíteto com que Durão Barroso em tempos brindou Pedro Santana Lopes quando acusou este de ser «um misto de Zandinga com Gabriel Alves», mas resolvi deixar este vaticínio altamente negativista em título, contra cíclico com as habituais expectativas do adepto de futebol, por uma questão puramente racional.
A que me irei referir em seguida. Para já, importa analisar o jogo contra o Santa Clara (o nosso adversário da época anterior) e dizer que o Vitória se apresentou compreensivelmente ansioso, mais ficou quando sofreu um golo logo no início do jogo, mas conseguiu apresentar muita competência na superação das dificuldades do jogo.
Fez a remontada, marcou dois golos, enviou duas bolas aos postes e ainda teve um golo (bem) anulado a Ndoye. Ou seja, apesar das expectáveis dificuldades psicológicas após a derrota em Alverca, a equipa foi competente, foi capaz, apresentou produção ofensiva constante e virou o resultado com todo o merecimento.
2 — Há também algo que este jogo me suscita: para mim, como simples espetador com olho razoavelmente experimentado, é absolutamente incompreensível que Alioune Ndoye não seja titular no Vitória.
Por muito respeito que tenhamos por Nélson Oliveira, a sua carreira e até o peso específico que tenha na equipa e junto dos mais novos, no jogo jogado, a diferença de produção e intensidade ofensiva foi tal da segunda parte para a primeira que não é para mim entendível um único argumento com base no qual Ndoye não seja titular.
Conseguiu colocar a bola duas vezes dentro da baliza em 45minutos mas, mais do que isso, sentiu-se uma pressão sobre a defesa e uma intensidade resultante da sua presença física no ataque que é uma diferença tão grande que não se percebe como algo que foi óbvio para todos nós em apenas 45 minutos não é óbvio para quem os treina e vê jogar várias vezes por semana.
O tipo de jogo do Vitória, de pressão ofensiva, não pressupõe um ponta de lança bom a jogar de costas para a baliza, pressupõe um jogador com soluções ofensivas e capacidade de finalização. E parece-me bastante evidente a diferença entre as duas soluções que temos para essa posição.
De resto, foi bom o regresso do Samu, que se assume como o patrão da equipa. Foi com sacrifício do Mitrovic (o que para mim é questionável) mas pode sê-lo do Miguel Nogueira. Gosto muito do Miguel Nogueira, é um atleta com muita técnica e solução de remate, mas tem urgentemente ganhar maior capacidade física e apresentar uma entrega física ao jogo compatível com o nível a que está a jogar, o que não tem sucedido.
Gostei imenso do Fabio Blanco e do Noah Saviolo. Dois extremos cujas posições eram ocupadas por Gustavo Silva (lesionado por quatro meses) e Telmo Arcanjo (que desta vez não foi opção) e que demonstraram enorme valor potencial, elevada qualidade e recursos técnicos que lhes adivinham um enorme futuro. E nós assim o esperámos, naturalmente.
3 — Termino voltando à expressão aziaga com que intitulei este texto, claramente com propósito de chamar atenção. Como disse atrás, ela tem um propósito puramente racional. Antes de ser brindado com acusações de não confiar na minha própria equipa, quero clarificar que desejo e confio que o Vitória consiga o apuramento para a competições europeias. Vou continuar a ir aos jogos todos com a expectativa de tal possa ser possível e acreditando nessa possibilidade.
Acrescento ainda que considero que essa é — sempre — a obrigação do Vitória, esta frase não pode ser lida como procurando baixar na exigência que sempre se tem de ter no Vitória.
E também não é o início de temporada fulgurante de algumas equipas que me faz recear porque, no respeita à disputa pelos lugares europeus, a procissão ainda vai no adro… (basta ver que o próprio SC Braga se encontra de momento em 8.º lugar o que não se espera vá durar muito tempo). Mas há um conjunto de fatores que me levam a considerar racionalmente devermos estar preparados para essa possibilidade.
Desde logo porque considero que a nossa equipa, tendo muita qualidade potencial não tem a mesma em termos atuais. É uma equipa ainda em construção, com uma média de idades muito jovem (como referi no texto anterior) que o mais natural é que o seu processo de consolidação ocorra com percalços pontuais que, como sabemos, acabam por ser suficientes para estragar o percurso.
Depois ainda porque é o melhor a considerar desde já atenta a pressão excessiva e interrogações que acabou por ser colocada nesse resultado pelo Presidente do clube numa frase irrefletida a que me referi já noutro texto. E sobretudo — e esta é a razão principal — porque acho que temos de tirar essa expectativa de nós próprios e, consequentemente, essa pressão sobre o plantel. Vamos esperar o melhor, mas deixar sair o ar da panela de pressão porque isso está a ser prejudicial aos nossos objetivos.
Acho que uma menor expectativa em torno desse objetivo tornará tudo mais fluído e, quiçá, possível. Se assim for, cá estarei com toda a galhardia a esperar que no final da época me possa ser atirada à cara esta minha previsão negativista; vou recebê-lo com todo o gosto porque o meu objetivo com estas palavras é, precisamente, não vir a ter razão.