Ronaldo foi expulso frente à Irlanda (Foto: IMAGO)
Ronaldo foi expulso frente à Irlanda (Foto: IMAGO)

Portugal escreveu a vermelho a própria Lei de Murphy (crónica)

Sem inspiração a atacar e desatento a defender a mais conhecida arma dos irlandeses, Portugal deu uma parte de avanço, antes de um erro de Cristiano Ronaldo confirmar a noite dos horrores para a Seleção

Cabisbaixo, resignado, um semblante com o peso do mundo. A saída de Cristiano Ronaldo após ver o cartão vermelho direto à passagem da hora de jogo representa tudo aquilo que foi Portugal no encontro. É verdade que o capitão esteve sempre a ser empurrado pelos três centrais da Irlanda, mas a agressão a Dara O’Shea não escapou ao VAR. Portugal, por seu lado, é que deixou escapar o bilhete para o Mundial. Mas durante o jogo, mal se aproximou dele.

Galeria de imagens 9 Fotos

Falta de ideias

Sem laterais esquerdos no plantel, Portugal apostou em Cancelo na ala direita e Dalot na esquerda. Mais à frente, as duplas Vitinha-João Neves e João Félix-Cristiano Ronaldo procuravam trazer as químicas do PSG e do Al Nassr respetivamente para o relvado.

A antevisão de Cristiano Ronaldo foi correta: a Irlanda sempre quis esperar pelo adversário e nem se atrevia a pressionar para lá do terço defensivo. Portugal saía a jogar a três, com a descida de Rúben Neves para o meio dos centrais e as subidas dos alas, desdobrando o 4x3x3 do desenho para o 3x2x5.

Ronaldo, desinspirado, provocou a primeira grande reação da noite com um livre direto (7’) à entrada da área. Recebeu muitos assobios, tal como pedira, e depois um grito de alegria quando o seu remate bateu na barreira.

Desde cedo Portugal não conseguiu ligar os setores. Com Bernardo Silva desaparecido e João Félix inconsequente nas suas ações, todas as jogadas de perigo começavam em Cancelo. Portugal tentava muitas vezes o passe mais difícil para desmontar a defesa. A Irlanda fazia o oposto: passes simples e diretos, muitas vezes errados, mas sempre perigosos quando eram eficazes.

Galeria de imagens 19 Fotos

Cavalos de corrida

Chiedozie Ogbene, Finn Azaz e Troy Parrott – três sprinters sempre prontos para o arranque ao menor deslize de Portugal. E a primeira abertura foi oferecida por Diogo Costa, que perdeu a bola de forma infantil para Parrott e obrigou Portugal a ceder pontapé de canto. Aí, Liam Sales surgiu sozinho ao segundo poste e encontrou Parrott (17’) na pequena área. Golo, explosão de alegria ensurdecedora em Dublin e os jogadores portugueses ficaram incrédulos.

A equipa das Quinas caiu no vício de cruzamentos frontais e remates com duas linhas de pressão pela frente, que nunca assustaram Kelleher. O guardião só se teve de aplicar para defender, com dificuldades, um belo remate acrobático de Vitinha (37’).

Portugal precisava do intervalo e com isso em mente, foi mais uma vez, de forma quase inacreditável, apanhado em contrapé. Lançado por O’Shea, Parrott (45’), sempre sagaz, fugiu a Rúben Dias e rematou pelo meio das pernas de Rúben Neves, aumentando as dores de cabeça portuguesas.

Roberto Martínez decidiu mexer na defesa ao intervalo: trocou Inácio e Cancelo (que estava a ser o português mais criativo, mas tinha visto o cartão amarelo) por Renato Veiga e Nélson Semedo. Mas nada se alterou até à sentença final.

Não houve bons rapazes

«Espero que não me assobiem muito, prometo que vou ser um bom rapaz», disse Ronaldo antes do jogo. O capitão acabou por sair de campo sob uma chuva de aplausos dos quase 50 mil irlandeses que estavam no Estádio Aviva, após ver o cartão vermelho direto, desfalcando a Seleção para a última meia hora do encontro.

A expulsão não podia retirar a ambição de Portugal e, por isso, Trincão, Rafael Leão e Gonçalo Ramos renderam Bernardo Silva, João Félix e João Neves. Mas o impacto emocional do encontro impediu qualquer alegria portuguesa.

Agora, Portugal sabe que uma vitória com a Arménia na última jornada basta para o tão ansiado apuramento. Se empatar, só cai para o 2.º lugar se a Hungria ganhar por mais de três golos à Irlanda. Caso Portugal perca com a Arménia, uma vitória da Hungria ditará a ida dos portugueses ao play-off. Em caso de vitória dos irlandeses, a diferença de golos (primeiro critério de desempate) ainda é favorável a Portugal. Caso haja empate no Hungria-Irlanda, Portugal até se apura com uma derrota.