Bruno Lage no final do jogo com o Qarabag - Foto: LUSA

Pelas palavras de Rui Costa, Bruno Lage estaria a prazo... desde maio

O que se interpreta do discurso do presidente do Benfica na noite do despedimento do treinador, é que estava convicto que seria melhor mantê-lo de uma temporada para a outra, perante os compromissos importantes da equipa em tempo apertado. Não disse que continuava a acreditar que Lage era o treinador certo

O regresso de Bruno Lage ao Benfica no final do verão de 2024 foi um erro de casting explicado por não haver, à data, alternativas à substituição tardia de Roger Schmidt. Ao alemão, cujo futuro no clube encarnado estava condenado ao malogro no final da temporada transata, foi deixado erradamente no cargo por Rui Costa, não se vislumbrava sucessor inequívoco. As primeiras escolhas, exequíveis, estavam indisponíveis, e Bruno Lage foi a opção, longe de ser consensual, a mais fácil.

Ao treinador, em segunda passagem pela Luz após uma saída acelerada pelo desgaste comunicacional, não se augurava sucesso. A temporada que passou veio a confirmá-lo. Perante um Sporting a convulsionar de um corte epistemológico, o Benfica recuperou de um arranque em falso, mas começou lentamente a perder fulgor até uma morte dolorosa, no final, decidida em confronto direto com o eterno rival, em pleno Estádio da Luz. Não foi muito menos duro o revés na final da Taça de Portugal. Até muito semelhante no modo.

A continuidade de Bruno Lage esteve, obviamente, em questão no termo da época e não causaria choque se o treinador fosse dispensado. Também não foi surpreendente, Rui Costa tê-lo mantido. Na madrugada de quinta-feira, em que, enfim, despediu Lage, o presidente do Benfica fez uma revelação curiosa, merecedora de reflexão. Tal como fez com Roger Schmidt, o líder benfiquista baseou-se nas perceções, ou talvez tivesse chegado a convicções, de que seria melhor manter Bruno Lage de uma temporada para a outra, no caso deste último, perante os compromissos elevados em tempo apertado que a equipa enfrentaria nessa transição. Do Mundial de Clubes, a ausência de pré-temporada, a iminência da pré-eliminatória e play-off de acesso à Liga dos Campeões e do início do campeonato (sem referir a Supertaça). O que Rui Costa não disse, é que continuava a acreditar que Lage era o treinador certo.

Rui Costa disse que tomou a decisão correta, porque o Benfica teve êxito em todas essas empreitadas. Mas só pelo facto de ter admitido que o fez pelo motivo que o fez, assume que o treinador estava tremido ou pior, que, não fosse o caráter excecional do momento, poderia tê-lo-ia dispensado no final da temporada transata. Ou seja, Lage estava numa posição fragilizada neste início de época e só a concretização do objetivo da Champions serviu de panaceia às dúvidas do presidente.

Depois de ter segurado Schmidt num final de competições e depois despedindo-o por muito mais do que quatro maus resultados na temporada seguinte, mas corrigindo, tardiamente, um erro, agora despede Lage após dois resultados igualmente maus, mas com os mesmos motivos do antecessor, e por alguns mais que levaram ao primeiro despedimento em 2020 – mau futebol, falta de liderança, péssima comunicação. Quando Rui Costa admite que não fosse a convição de que seria melhor para o Benfica manter o treinador perante circunstâncias extraordinárias, não parece descabido pensar-se que a equipa teria começado a época com um comando técnico novo.

Rui Costa salvou a Champions, agora tenta salvar o resto... Não se pode criticar esta decisão.