Gustavo Sá observa Morita num Sporting-Famalicão, disputado em Alvalade
Gustavo Sá continua a aguardar por uma oportunidade num grande, como Morita teve no Sporting (Foto Imago)

Os três grandes esqueceram-se de Portugal

Quem tem pretensões a dar o salto vai ter de esperar, pelo menos até janeiro. Gustavo Sá, Roger ou Clayton são apenas três exemplos já com muitas provas dadas. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo

Estranha a decisão dos três grandes em ignorarem o mercado interno. Principalmente num momento em que parecem ter descoberto petróleo. Não há semana que não chegue um reforço e já todos ultrapassaram a barreira dos 50 milhões de euros em contratações, coisa pouca, já que os três, como todos já percebemos, ainda reservaram muitos milhões para gastar nas últimas cartadas. No estrangeiro, claro…

O Sporting, contrariamente ao que fez em épocas anteriores, só olha para fora. Mesmo depois de muitos e valiosos tiros na mouche. A começar por Pedro Gonçalves e Nuno Santos, passando por Ugarte, Morita ou Marcus Edwards e terminando em Diomande. Todas contratações valiosíssimas e adquiridas no mercado português. Jogadores já adaptados à nossa realidade e cuja margem de erro de não singrarem num clube grande era muito reduzida. Não digo que estivesse à vista de todos que iam ter sucesso ou o sucesso que tiveram, mas a relação preço/qualidade justificava, sem dúvida, a compra. 

Como já se viu, aliás, com Ricardo Mangas. Os 300 mil euros mais bem gastos pelos leões neste defeso. Contudo, o lateral-esquerdo teve de emigrar para a Rússia para ter a oportunidade num grande. Mesmo depois de ter feito o que fez em Guimarães. O mesmo pode dizer-se de Rui Silva, que ninguém detetou em Portugal e que precisou de oito anos em Espanha para ver o valor reconhecido por cá, ou mesmo Jota Silva, que parece mesmo a caminho de Alvalade.

Considero o avançado do Nottingham Forest uma excelente contratação. É versátil, competitivo e tem muita… fome de bola, o que é cada vez mais importante neste futebol moderno — a conquista do Mundial de Clubes por parte da jovem e talentosa armada do Chelsea é o último bom exemplo. 

Aqui neste espaço considerei Jota Silva um dos melhores jogadores da Liga 2023/2024 e foi com tristeza que o vi partir para Inglaterra depois de ter feito o que fez em Guimarães. O mesmo senti quando Alberto Costa, um dos jogadores que mais me impressionou na época transata, ter rumado à Juventus, depois de ter, curiosamente, também no V. Guimarães, explodido em apenas um par de meses. Em boa hora o FC Porto decidiu fazê-lo regressar. Mas, lá está…, já proveniente de Itália. 

O Benfica, então, nem mercado interno… nem portugueses. Os encarnados têm, sem qualquer tipo de comparação, a melhor formação e até percebia este desinteresse se os jovens formados no Seixal tivessem algum espaço na equipa. Podem as águias argumentar que António Silva é titular e Tomás Araújo, Florentino ou até Samuel Soares são utilizados com regularidade, mas considero que é de menos. 

Já aqui o referi e volto a sublinhar que tenho muita dificuldade em entender a política desportiva do Benfica. Quem tem médios como João Veloso, João Rego, Diogo Prioste ou Rafael Luís, que, entretanto, já foi emprestado ao Estrasburgo, não tinha necessidade de fazer tantas contratações. Isto para já não falar do desperdício que é não aproveitar Tiago Gouveia, um extremo muito agressivo, polivalente e com uma enorme… fome de bola.

Isto para já não questionar qual o projeto desportivo para os nove (!) jogadores que se sagraram recentemente campeões da Europa de sub-17…

Manu Silva e Bruma, de momento lesionados, foram as últimas contratações dos encarnados no mercado interno e já na época transata. Tal como a do Sporting, Alisson Santos, adquirido ao UD Leiria e que, já se percebeu, não terá muito espaço em Alvalade. Papel secundário está também destinado à única novidade doméstica, João Costa, que trocou neste verão o E. Amadora pelo FC Porto e que não passará de terceira opção de Farioli para a baliza.

De resto, quem tem pretensões a dar o salto vai ter de esperar, pelo menos até janeiro, mas continuo a ter dificuldades para perceber como jogadores como Gustavo Sá, Roger ou Clayton, para citar apenas três exemplos já com muitas provas dadas, não têm uma oportunidade num grande

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