Os pés e a cabeça do Benfica
A equipa do Benfica está mais organizada, consegue executar um plano de jogo que favorece as características dos jogadores e ajuda a esconder melhor as fragilidades do plantel. Acho que ninguém têm dúvidas de que se nota evolução e está refletido o trabalho de José Mourinho.
Acho que ninguém têm dúvidas de que se nota evolução e está refletido o trabalho de José Mourinho.
Apesar da bela exibição na vitória por 2-0 frente ao Nápoles, na Liga dos Campeões, não pode dizer-se que o Benfica se transformou numa equipa dominadora, com capacidade avalassaladora de ataque e vertigem pelo golo, como sonham os adeptos, mas joga de forma muito mais competente, com mais atitude e principalmente confiança. E é neste último ponto que julgo residir o fundamental para o crescimento dos encarnados: confiança.
É uma bola de neve a subir uma encosta, desafiando as leis da gravidade e a provar que o futebol se joga na cabeça dos jogadores tanto ou mais do que nos pés.
Há jogadores que agora confiam mais nas próprias capacidades, colocando esse sentimento num trabalho de equipa que a arrasta para melhores resultados. É uma bola de neve a subir uma encosta, desafiando as leis da gravidade e a provar que o futebol se joga na cabeça dos jogadores tanto ou mais do que nos pés. Os jogadores não eram, nunca foram maus jogadores, mas o contexto talvez lhes tenha reduzido a confiança a níveis em que se calhar foi fácil que até os próprios duvidassem.
José Mourinho, muito experiente e de forma transparente, nunca escondendo dos próprios ou da opinião pública que existiam problemas e debilidades a vários níveis, foi introduzindo amor-próprio em doses certas e conseguiu fazer evoluir o grupo, finalmente chegando a uma equipa. Não é a melhor do mundo, nem sequer será aquela que o treinador escolheria se tivesse começado a época no Benfica, mas é, agora, uma equipa competitiva, solidária e com qualidade, como provam os seis jogos seguidos sem derrotas, apesar dos empates com Casa Pia e Sporting.
Cresceu a vontade de fazer prova de qualidade perante os benfiquistas, e nesta altura há razões para encarar os próximos desafios com uma segurança diferente.
Para provocar sentimento nos jogadores, para os fazer morder mais, o treinador também colocou em prática uma comunicação que provoca reação fora do balneário, mas sobretudo dentro. Depois do empate (1-1) com o Sporting ficou claro nas declarações de Mourinho e dos jogadores que o favoritismo entregue ao Sporting durante a semana, assim como, na ótica dos encarnados, algum menosprezo em relação à capacidade do Benfica para ficar por cima no duelo, foi combustível perfeito para reacender o orgulho dos jogadores. Cresceu a vontade de fazer prova de qualidade perante os benfiquistas, e nesta altura há razões para encarar os próximos desafios com uma segurança diferente.
As águias jogam este domingo em Moreira de Cónegos, palco difícil, equipa complicada e que já castigou o Benfica em vários momentos de épocas diferentes. «Não é altura para novidades», alertou ontem Mourinho. Depois de terem sido dados tantos passos em frente, realmente o Benfica, nesta altura da temporada, não pode voltar a tremer.