Noah Saviolo mereceu a confiança de Luís Pinto, frente ao Alverca. Foto: Rodrigo Antunes/LUSA

O vento da tempestade trouxe Marezi(a) do triunfo (crónica)

Segunda parte do Alverca, reduzido a dez, foi um hino à resistência. Emoção a rodos na compensação não... compensou a desinspiração do V. Guimarães. Vaidade talvez rime com.. qualidade

Tempestade é sinónimo, também, num sentido mais poético do termo, de revolução. E foi num cenário pós revolucionário que se defrontaram Alverca e Vitória de Guimarães. Os ribatejanos tiveram de contratar 28 jogadores para a equipa principal porque existiam muitos jogadores ligados contratualmente ao Santa Clara, enquanto do lado vimaranense foi mesmo uma opção assumida pela Direção liderada por António Miguel Cardoso.

E este horizonte de tempestade, nomeadamente a Gabrielle, também teve efeitos no Ribatejo em termos do futebol exibido, porque o vento forte que se fez sentir, empurrando a bola para a baliza sul, condicionou a partida. Feito este preâmbulo. pode-se ir ao jogo. O Alverca entrou assertivo na partida, encostando os conquistadores às cordas, sem, no entanto, dispor de soberanas oportunidades de golo. Os vimaranenses reagiam em fogachos de Telmo Arcanjo, até que num penálti de televisão, o vídeoárbitro vislumbra uma mão na área de Beni Mukendi, o árbitro vai ao monitor, segue a recomendação e coloca Marezi na marca dos 11 metros. Golo do Alverca e festa no Ribatejo, até que, pouquíssimo tempo depois, Abdulai vê o segundo amarelo e a equipa de Custódio Castro fica reduzida a dez.

Luís Pinto não estava no banco mas tenta colocar mais fogo no ataque e coloca em campo Fabio Blanco no lugar do apagado Saviolo e o criativo Samu no do trinco Beni Mukendi. O início é auspicioso para os da Cidade Berço, com Blanco a passar por este mundo e o outro na esquerda e a colocar a bola na pequena área em Miguel Nogueira, que por sua vez a coloca numa nuvem alta. Animam-se os muitos adeptos vimaranenses que marcaram presença em Alverca mas o sol não haveria demorar muito a fechar-se para as suas cores, pois a partir daí, a desinspiração vestiu de branco. Do outro lado, a exibição alverquense bem poderia ter sido acompanhada pelo trautear do Bella Ciao, a canção italiana que se tornou um hino à resistência.

Num jogo a dar para o mal jogado, emoção a rodos na compensação: primeiro, Hélder Carvalho assinala penálti a favor do V. Guimarães, mas após ir ao monitor, reverte a decisão. Num ápice, o que poderia ter sido o 1-1 tornasse no 2-0, pois num contra-ataque Sandro Lima sela a vitória dos da casa. O presidente do vimaranense, António Maria Cardoso, disse recentemente que havia alguma vaidade no balneário e por isso teve de dar um boost de juventude ao plantel. Mas, neste caso, qualidade talvez rime mesmo com qualidade... daqueles que saíram. Assim, a Marezi(a) de vitória voltou a Alverca.

Melhor em campo: Meupiyou (Alverca)
A complexidade da pronúncia do nome francês deveria obrigar quem gosta de bons jogadores a aprender a reparti-lo silabicamente: Meu-pi-you. Com um aspeto de apreciador de reggae, deu nas vistas pelas longas rastas no cabelo mas, também, pelos inúmeros cortes efetuados quando o Alverca se entrincheirou — foi ele quem trauteou os primeiros acordes do hino à resistência da segunda parte ribatejana. Tem 19 anos e um futuro brilhantíssimo à sua espera.
A figura: Fabio Blanco (V. Guimarães)
O espanhol entrou determinado a revolucionar a ala esquerda do ataque, como dando o grito de revolta dos conquistadores rumo aos bons resultados. Começou com um slalom fantástico que Miguel Nogueira deitou fora e foi sempre ele a querer pagar a despesa atacante da equipa na segunda parte. Não foi bem acompanhado e a saída de Telmo Arcanjo também nada ajudou neste aspeto.

As notas dos jogadores do Alverca.

André Gomes (6); Naves (6), Sergi Gómez (6) e Meupiyou (7); Touaizi (6), Abdulai (4), Alex Amorim (7) e Chissumba (6); Kincoln (7), Marezi (7) e Figueiredo (6); Tomás Mendes (7), Sandro Lima (6), Davi Guy (6) e Gian Cabezas (—)

As notas do V. Guimarães:

Juan Castillo (5); Miguel Maga (5), Óscar Rivas (6), Abascal (4) e João Mendes (5); Beni Mukendi (4) e Mitrovic (4); Telmo Arcanjo (6), Nélson Oliveira (4) e Saviolo (4); Fabio Blanco (6), Samu (5), Ndoye (4), Vando Félix (4) e Camara (4).

As reações dos treinadores:

CUSTÓDIO CASTRO

Foi uma boa vitória. É para estes resultados que trabalhamos. Sabemos das dificuldades que é ganhar nesta Liga. As equipas acabam por ser muito parecidas naquilo que é a disputa dos resultados. Podemos esquecer que estávamos a jogar contra uma grande equipa, que luta por lugares europeus. Por isso acaba por valorizar a nossa vitória, que tem partes distintas. Na primeira parte tentámos jogar e criar. Na segunda parte, contra o vento e com 10 jogadores acabámos por ser muito solidários. O penálti na compensação? Dei aos jogadores o exemplo do Benfica, uma grande equipa que luta pelo título e nos dois jogos em casa, antes do jogo com o Gil Vicente, sofreram nos últimos minutos. Isto é futebol. Sabemos qual é o nosso objetivo para a época. Não há ano zero no clube. O que me passou? Foi logo ver o lance. Vi logo que não, por isso estava tranquilo. 

LUÍS PINTO

Um jogo em que não tivemos a capacidade de continuar no processo de crescimento que estávamos a ter. Sentimos a equipa algo lenta naquilo que eram os processos ofensivos quer a capacidade de estarmos mais frescos e ligados ao jogo. E isso notou-se. Sentiu-se o facto do Alverca colocar muita gente atrás da linha da bola, a circulação não estava tão rápida como devia e fez com que não tivéssemos uma capacidade tão boa de sermos perigosos. E quando fomos perigosos… falhámos. Não obrigámos o André a nenhuma defesa de relevo. Um Alverca bem na primeira parte, sempre na procura de jogar e nós não estávamos frescos. Estivemos a segunda parte toda com mais um jogador mas não penso que tenha sido pela atitude que não conseguimos outro resultado. Sou o responsável por tudo o que passou neste jogo