Juan Barnabé saiu do Benfica para a Lazio e recentemente foi alvo de polémica. FOTO RUI RAIMUNDO/A BOLA
Juan Barnabé saiu do Benfica para a Lazio e recentemente foi alvo de polémica. FOTO RUI RAIMUNDO/A BOLA

O 'homem da aguia Vitória': coice de cavalo, carcinoma e uma prótese peniana

Depois do Benfica, a Lazio... mas com um despedimento cuja génese deu muito que falar...

— Como foi a sua ida para a Lazio?

— O estádio da Luz recebia todos os dias quatro ou cinco grupos de pessoas. O grande momento da visita era quando eu aparecia no relvado com a Vitória, projetava-se um vídeo que tinha como música de fundo a canção Con te Partirá, do Andrea Bocelli, tudo muito bonito. Um dia vi na bancada do estádio uma pessoa emocionada a chorar — era o Andrea Pleciarelli, o melhor jornalista desportivo de Itália, que depois morreu atropelado. Era grande adepto da Lazio, clube que também tem a águia como símbolo. Falei com ele e depois com o clube, ao qual me ofereci para fazer um voo, não com a Vitória mas com outra águia que preparei, a Olímpia. Depois assinámos um contrato e lá estive 15 anos na Lazio.

— Até que o despediram…

— O motivo que invocaram, a divulgação de um vídeo, foi tão estranho que a notícia deu a volta ao Mundo. Eu tinha sofrido um acidente com um cavalo, que me deu um coice tão forte que me rebentou um testículo. Também tive um carcinoma da tiróide que afetou a potência sexual. Conheci o urologista da Lázio, Gabriel Antonini, um grande especialista mundial em cirurgia genital. Fez-me uma muito boa reparação estética e aproveitou a operação para me colocar um dispositivo hidráulico peniano. A partir daí fizemos um vídeo destinado a motivar os homens que têm disfunção erétil para que não tenham vergonha, nem medo, nem complexos, pois esse é um problema que afeta muita gente e com esta prótese peniana pode ter solução. Coloquei o vídeo de 30 segundos na minha conta privada de Instagram, mas alguém, sem minha autorização, meteu-o noutras plataformas mostrando, fora do contexto integral do vídeo, um pénis ereto na sala de operações. O presidente da Lazio, Claudio Lotito, uma pessoa com uma mentalidade um pouco estranha, não gostou do que viu, achava que era obsceno e aproveitou a oportunidade para me mandar para a rua. Eu era uma incómoda pedra dentro do seu sapato e queria ver-se livre de mim, fazia-me a vida impossível porque eu tinha descoberto um caso grave de abuso de menores dentro do clube. Tenho provas disso, que consegui com gravações com câmaras ocultas, avisei a direção desportiva mas não ligaram nenhuma. Em vez de procurarem averiguar o que estava a suceder, o que fizeram foi castigar o mensageiro, que era eu. Mas a vida continua. Se te atiram pedras deves construir com elas um castelo e ir para a frente. Depois disso o que fiz foi criar em Onlyfans uma página na qual mostro como é o meu corpo e que é vista por muita gente. Muitos dos que mandam no futebol acham que têm direito a apoderar-se da vida dos outros. No trabalho é preciso cumprir com a obrigação, mas, fora disso, cada um faz o que quiser sem ter de dar satisfações a ninguém. O meu despedimento foi notícia nos principais meios de comunicação do mundo inteiro, na BBC, no New York Times, recebi mostras de solidariedade de médicos de todas as partes, mas o mais importante foi o apoio total dos meus filhos.

— Também houve uma ordem de despejo contra si…

— Sim, eu vivia na cidade desportiva da Lazio e, no dia seguinte ao da operação, o presidente, que também é senador, usou a sua prepotência para mandar uns polícias com ordem para me porem fora de casa. Com muito sacrifício consegui levantar-me e abrir-lhes a porta, não podia nem vestir as calças porque, por ordem do médico, tinha que estar deitado com uma sonda e uma ereção que devia durar doze dias. Os agentes viram o estado em que eu estava e invocando, com muito humor, que a Constituição italiana prevê que a saúde está por cima de tudo, foram-se embora e não fizeram nada. Claro que acabei por deixar a casa, mas seis meses depois e pela via legal, não à força, como queria o presidente.

— Que diferença há entre o Benfica e o Lazio?

— São muito parecidos, a paixão dos adeptos é igual, mas a Lazio tem um sério problema que o Benfica não tem: o presidente. Têm em comum o mesmo símbolo e que foi o mesmo falcoeiro que fez voar as águias nos seus estádios.

— A propósito de presidentes, como foi a sua relação com Luís Filipe Vieira?

— Fez-me muita pena tudo o que aconteceu. Talvez não se tenha portado muito bem comigo, mas isso compreendo, porque a situação era algo complicada depois de eu ter posto a mão em cima do diretor de segurança. Os que realmente me fizeram muito mal foram o Miguel Bento e o Domingos Soares de Oliveira. Do presidente nada tenho a dizer, vi-o trabalhar muito e bem a favor do Benfica.

— Que é feito da Vitória?

— É minha e sempre será. O Benfica quis comprá-la, mas eu não aceitei. As águias chegam a viver 80 anos, ela agora tem 20 e por isso espero que possamos estar juntos ainda durante muito tempo. Nos quase oito anos que estive com ela no Benfica só me falhou uma vez e não foi por nossa culpa — alguém do marketing do clube lembrou-se de encher o relvado com confetti dourados, o desafio não podia começar porque a bola não rolava e tiveram que vir com pistolas para retirar tudo aquilo. Como não me tinham avisado, não pude fazer nada para evitar que a águia tivesse ficado desorientada e sem saber para onde voar, foi uma situação muito complicada.

— E o Juan, o que é faz agora?

— Continuo a trabalhar como falcoeiro, tenho contrato com vários aeroportos. O de Faro, com os milhares de aves que sempre andam ali à volta, é um dos mais complicados do Mundo.

— Voltaria ao Benfica?

— Claro que sim. O meu coração é meio português, os adeptos do Benfica sempre me trataram com um enorme carinho. Sou, como diz o hino, mais uma das papoilas saltitantes benfiquistas.