José Mourinho no Chelsea, num jogo com o Liverpool - Foto: IMAGO

O dia em que Mourinho foi contratado pelo Chelsea num restaurante «duvidoso» na fronteira

Peter Kenyon, antigo CEO dos londrinos, lembrou a enorme história do hoje técnico do Benfica nos 'blues'

CEO do Chelsea entre 2003 e 2009, Peter Kenyon vai estar, esta terça-feira, em Stamford Bridge, para assistir ao regresso de José Mourinho à casa dos 'blues', onde tanta história escreveu e tantos títulos ganhou. Em entrevista ao jornal The Telegraph, o dirigente inglês, hoje conselheiro dos sauditas do Al Qadsiah, lembrou o encontro decisivo para levar o português para Londres. Estávamos em 2004, altura em que José Mourinho, depois de ter levado o FC Porto a vencer a Taça UEFA, conquistou a Liga dos Campeões pelos azuis e brancos.

Roman Abramovich, Peter Keneyon e José Mourinho

«O negócio quase não ficou fechado porque o José atrasou-se. Estávamos num restaurante duvidoso, na fronteira de Portugal. Éramos seis ou sete pessoas e havia comida para 200. Parecia uma festa de casamento, mas estivemos duas horas à espera que ele chegasse, enquanto o empresário [Jorge Mendes] arranjava desculpas para justificar o atraso. Estava um ambiente muito tenso à mesa, porque percebemos que o negócio estava em risco. O Mourinho acabou por aparecer e, logo com o seu charme, começou a falar do Chelsea como 'nós'. Também tínhamos o Carlo Ancelotti na lista, mas ele era aquilo de que precisávamos, e o contrato foi assinado uma semana depois», contou Kenyon.

José Mourinho a levantar a primeira Premier League do Chelsea em 50 anos
José Mourinho a levantar a primeira Premier League do Chelsea em 50 anos

Com o português ao leme, o Chelsea tornou-se no rei do futebol inglês. Sagrou-se bicampeão, mas na terceira época de Mourinho tudo mudou e os resultados deixaram de aparecer. Resultado? Em setembro de 2007, o treinador era despedido depois de um empate frente ao Rosenborg, na Champions, e o substituto foi Avram Grant, que tinha recentemente sido nomeado diretor desportivo dos londrinos e já trazia picardias com Mourinho desde a pré-época.

Nunca vi tantos jogadores em choque como naquele dia

«A terceira época começou com alguma tensão e a entrada do Avram para o lugar do José foi um problema, sim. Eu, o Roman Abramovich e o Mourinho apelidávamo-nos de 'Santíssima Trindade'. Sentávamo-nos à mesa, tomávamos decisões e as coisas eram feitas. Cada um sabia a sua posição e a introdução de uma quarta pessoa [Avram Grant] mudou toda a dinâmica e todos estávamos desconfortáveis. Tivemos uma reunião com o Mourinho e era bastante óbvio que ele queria sair e também o Abramovich queria livrar-se dele. Já tinha chegado a esse ponto. Dizer aos jogadores que o José tinha saído e o substituto era o Avram Grant... Foi difícil. Nunca tinha visto tantos jogadores de futebol em choque como naquele dia, ficaram completamente embasbacados, senti que tínhamos, ali, esvaziado um balão no balneário.»

Nessa temporada, o israelita levaria o Chelsea à final da Champions, perdida nas grandes penalidades, em Moscovo, frente ao Manchester United. «Sem querer desrespeitar o Avram, chegámos a essa final pelos jogadores, não por causa dele. E tenho a certeza de que com Mourinho no banco a teríamos vencido», acrescentou Kenyon.

Mourinho construiu as fundações do Chelsea

Para finalizar, o dirigente deixou um enorme agradecimento ao trabalho desenvolvido pelo treinador do Benfica no conjunto inglês. «Quando contratámos Mourinho, queríamos ser a melhor equipa da Europa e foi ele que construiu as fundações do clube para os 20 anos seguintes. Mudou a cultura e se o Roman Abramovich tivesse saído daquele restaurante sem fechar as negociações, teríamos contratado outro treinador e estou certo de que teríamos demorado bastante mais tempo a ganhar os títulos que ganhámos com o José. Foi o dinheiro mais bem gasto da história do Chelsea», concluiu.