O craque que une Bragança e Braga
A festa da Taça volta hoje ao nordeste transmontano e traz, pela primeira vez desde 2007, uma equipa da I Liga ao Municipal de Bragança. Há quase 19 anos, a 28 de fevereiro de 2007, o visitante era o Belenenses de Jorge Jesus. Nesse jogo dos quarto de final, a turma do Restelo seguiu em frente, depois de vencer os brigantinos por 2-1; e só caiu na final, aos pés do Sporting. No Belenenses, alinhavam nomes como Silas, Zé Pedro, Cândido Costa e Ruben Amorim. Do outro lado, também havia caras que hoje são bem conhecidas, mas que, na altura, talvez, nem tanto: falamos de Rui Borges e do menino querido da terra, Pizzi.
Em entrevista a A BOLA, o atual jogador do Estoril, que à data tinha apenas 17 anos, recorda que, apesar da derrota, esse momento foi «uma festa inacreditável para todos». «Acho que o mais bonito disto tudo e da Taça de Portugal é a festa e a envolvência de toda a gente. Acho que é ótimo para as pessoas de Trás-os-Montes e sobretudo para as pessoas de Bragança terem a oportunidade de receber o SC Braga em casa e acho que vai ser uma festa muito bonita e um dia especial. Lembro-me do jogo contra o Belenenses e sei bem como as pessoas do clube, de Bragança e de toda a região ficaram contentes. Apesar de termos perdido 2-1, foi uma festa inacreditável para todos», lembra o craque brigantino. Curiosamente - mas agora 36 anos e a envergar outra canarinha - Pizzi volta a defrontar o Belenenses para a Taça de Portugal amanhã.
«O clube da minha terra está sempre acima dos outros»
Pizzi é, consensualmente, o maior motivo de orgulho da cantera do Grupo Desportivo de Bragança. Foi campeão distrital em todos os escalões de formação, desde os benjamins aos juniores, e com 17 anos já brilhava nos séniores. A irreverência deste prodígio do interior ia tão além dos Montes, que não tardou em vir alguém do litoral bater-lhe à porta: truz, truz. Era o SC Braga.
Estava destinado. Não podia ser de outra maneira. Quem o diz é Beto Antas, que foi o único treinador de Pizzi, na formação do Bragança: «Eu sempre acreditei, embora muita gente me chamasse maluco nessa altura, porque ninguém acreditava que eu pudesse estar a prever um futuro para um miúdo daquela idade. Mas da maneira como ele era, da maneira como trabalhava, sempre muito focado nas tarefas que se lhe pediam e com aquela qualidade técnica, eu sempre acreditei. Ele era sempre o último a sair, queria sempre mais, mais, mais, mais e mais…»
Beto Antas tem 67 anos. 43 deles foram dedicados ao Grupo Desportivo de Bragança. Foi jogador, depois treinador e agora é diretor-geral da formação. Quando o tema é o pequeno Pizzi, toda a gente quer falar com ele: «toda a gente diz: olha este foi o treinador que acompanhou o Pizzi durante toda a formação, até ir para o SC Braga». Agora, afirma, à boca cheia, que o ex-APOEL é o maior orgulho destes anos de futebol: «deixa-me extremamente orgulhoso pela linda carreira que está a fazer.»
O carinho que Beto Antas sente pelo seu antigo pupilo é recíproco. Pizzi lembra-o como «um dos treinadores mais importantes» que teve na carreira. «O Mister Antas foi sempre o meu treinador, desde que eu comecei a jogar futebol. Teve sempre comigo e é, sem dúvida, um dos treinadores mais importantes que eu tive na minha vida, porque sem dúvida que foi ele que me deu as bases no futebol. Foi ele que me ajudou a crescer, foi ele que me ajudou a ser melhor jogador, melhor pessoa, a conviver no balneário. Por isso, além da pessoa que ele é, foi um excelente treinador e tenho um respeito enorme por ele e devo-lhe muita coisa, sinceramente.»
Beto Antas tem um sonho, que não sabe se o internacional português pode cumprir… «Gostava que acabasse a carreira aqui no Bragança. Espero que se venha a concretizar.» Pizzi, que tem contrato com o Estoril até 2027, apesar de confessar que ainda não pensou muito nisso, também admite que, «em princípio, não está nos planos». O jogador estorilista justificou: «agora a minha vida está estabilizada em Lisboa, com a minha família e com os meus filhos».
A jóia da coroa da formação brigantina saiu para o SC Braga em 2007/08, onde completou o ano de formação que lhe restava. Acabou por se estrear em jogos oficiais pela equipa sénior dos arsenalistas apenas em 2010/11, depois de passagens por empréstimo por Ribeirão, Covilhã e Paços de Ferreira. Mas, nessa época, só teve tempo de fazer dois jogos, antes de o Atlético de Madrid o levar para Espanha. Pizzi voltaria a Braga 13 anos depois, onde disputou 65 jogos, entre 2023 e 2024. Por isso, tal como o Bragança, admite que o SC Braga é um clube especial. Se hoje vai estar a torcer por algum? «São dois clubes muito importantes para mim e espero que vença o melhor e que toda a gente se divirta no campo e fora dele (…) Claro que, obviamente, para mim, o clube da minha terra está sempre acima dos outros e seria interessante se o Bragança ganhasse», remata.
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