De Dumas a Vitinha: os novos mosqueteiros de Paris
Se Alexandre Dumas eternizou França com Os Três Mosqueteiros, Paris assiste agora a uma nova epopeia, escrita em português e jogada com bola nos pés. Desta vez não são Athos, Porthos e Aramis, mas quatro mosqueteiros portugueses que defendem o escudo parisiense com propósito, inteligência e lealdade absoluta à causa coletiva: Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e Gonçalo Ramos. Um por todos, todos por um. No coração da Cidade Luz, são portugueses os homens que comandam o jogo e conduzem o PSG à conquista do mundo.
Vitinha, eleito MVP da final, foi a face mais visível de uma influência coletiva decisiva. Dono do tempo, do espaço e do critério, jogou como quem conhece o guião antes do espetáculo começar. Assumiu a liderança técnica e emocional da equipa e confirmou aquilo que o futebol europeu já reconhece: estamos perante um médio total, capaz de pensar o jogo, executá-lo e dominá-lo nos momentos de maior exigência.
Ao seu lado, João Neves representa a essência do mosqueteiro moderno: intensidade, coragem e inteligência competitiva. Agressivo sem ser imprudente, incansável na pressão e sempre disponível para jogar, é daqueles jogadores que melhoram tudo à sua volta. Não é por acaso que antigos internacionais, treinadores de topo e analistas de referência no futebol europeu o colocam já entre os médios mais influentes da nova geração mundial.
Na ala esquerda surge Nuno Mendes, o guardião do território. Potente, veloz, tecnicamente irrepreensível e tacticamente fiável, afirma-se, hoje, sem exageros, como o melhor lateral esquerdo do mundo. Não se limita a ocupar o corredor: controla-o, domina-o e decide-o, tanto a defender como a atacar. Um mosqueteiro que protege e ataca com a mesma eficácia. Que assiste e que marca com regularidade.
Na frente, Gonçalo Ramos assume um papel menos vistoso, mas igualmente essencial. O avançado que trabalha para a equipa, que pressiona, fixa defesas e cria espaço para os outros brilharem. No futebol de alto rendimento, estas virtudes não aparecem nas estatísticas, mas vencem jogos e títulos. E os grandes treinadores sabem-no.
Este triunfo tem ainda uma assinatura portuguesa fora das quatro linhas. Luís Campos, Conselheiro Desportivo do PSG, foi o estratega silencioso desta conquista. A sua visão, conhecimento do talento português e capacidade de estruturar um projeto coerente foram decisivos para a construção de uma equipa campeã intercontinental, moderna e competitiva.
Os elogios não tardaram. Lendas do futebol mundial, treinadores consagrados e figuras influentes do jogo renderam-se ao impacto dos portugueses. Fala-se da escola, da formação, da inteligência tática e da maturidade emocional. Fala-se, sobretudo, de jogadores que fazem o jogo parecer simples mesmo quando o contexto é máximo.
O que Paris celebrou não foi apenas um troféu. Celebrou uma ideia de jogo, uma cultura de rendimento e uma identidade vencedora. Os novos mosqueteiros de Paris não empunham espadas, mas carregam talento, caráter e ambição.
De Dumas a Vitinha, a história repete-se com novos protagonistas. E, desta vez, escreve-se em português. Uma conquista que carrega memória e amor porque o futebol também é feito de silêncio, de dor e de memórias que nunca desaparecem. Entre vitórias e títulos, Luís Enrique viveu o momento mais duro da sua vida em 2019: a perda da filha Xana, com apenas 9 anos, vítima de um tumor ósseo. O tempo não apaga a ausência, mas ensina a caminhar com ela. Hoje, no topo do futebol mundial ao serviço do Paris Saint-Germain, esta conquista ganha um significado que vai muito além das quatro linhas. É um título com alma, com memória e com, essencialmente, amor. Mais do que um troféu, é uma homenagem eterna. Xana estará sempre presente. Sempre no coração de Luís Enrique.
Parabéns Vitinha, Nuno Mendes, João Neves, Gonçalo Ramos e Luís Campos.
«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach», «Organizar para Ganhar» e «Manuel Cajuda – o (des)Treinador».