O Brasil ainda é para velhos?
Na semana passada, o CSA, clube da Série B brasileira, reforçou-se na Série C. Contratou Ciel, o goleador, 13 golos em 2025, ao Ferroviário. Ciel tem 43 anos. Fábio, a um mês de completar 45, é titularíssimo na baliza do Fluminense e até superou Peter Shilton em número total de jogos esta semana. Nenê, 44, marcou, na jornada anterior do Brasileirão pelo Juventude — um nome curioso neste contexto — de Caxias.
Em 2022, 2023 e 2024, a Série A teve sempre mais de 50 jogadores acima de 35 anos espalhados pelos 20 clubes (a B, a C e a D, muitos mais). No início desta edição da prova, porém, eram apenas 49. O Fluminense, de Fábio, melhor clube brasileiro no Mundial de Clubes, lidera com oito nomes. O Mirassol, sensação da temporada, tem seis. O Atlético Mineiro só um, mas incrível: Hulk, 39.
Há, por trás disso, uma tendência mundial: metodologias de treino e de recuperação e melhores hábitos de sono e de alimentação permitem que atletas excepcionais, como Modric, recebido em festa no Milan a um mês de chegar aos 40, ou Cristiano Ronaldo e Messi, com presença muito provável no próximo mundial, aos 41 e 39, respetivamente, continuem a render muito.
Por outro lado, o culto aos craques, independentemente da idade, é algo muito especificamente brasileiro — no país em que Romário ainda jogava, parado, pelo Vasco, aos 42, e Túlio Maravilha resistiu à reforma, arrastando-se por pequenos clubes, até aos 46, favorece-se quem toca na bola de forma especial em detrimento de quem corre muito sem revelar tanta intimidade com ela.
Porém, Enzo Maresca, treinador do Chelsea, ficou sem palavras quando, depois de se queixar em conferência de imprensa no Mundial de Clubes que o clube inglês já ia no 62.º jogo da temporada, foi informado de que os representantes brasileiros na prova, Flu, Flamengo, Palmeiras e Botafogo, no mesmo intervalo de tempo, disputaram todos mais de 70.
O futebol brasileiro é, muitas vezes, associado a um tipo de futebol mais técnico do que físico, mais lento do que rápido, mais doce do que salgado mas com tanto jogo — e viagens continentais entre eles — não há corpo, nem o de CR7 ou o de Hulk, que resista. Até no Brasil, o jogador tenderá a ser mais musculoso, mais forte, mais resistente.
Por isso, contrariando a prática pro-veteranos dos clubes da Série A, a primeira convocatória de Carlo Ancelotti não contemplou nenhum atleta acima dos 35. Na próxima, no entanto, deve chamar Neymar, que, com tanta lesão, com tanto escândalo, com tanta fofoca, parece já ter uns 50 mas ainda tem 33, porque a juventude também está na cabeça.