'Nouvelle Cuisine'
Nos anos 70, um grupo de chefs franceses foi forçado a reinventar a forma de cozinhar: com menos gordura, mais frescura e mais criatividade. A nouvelle cuisine rompeu com o passado, apostando numa experiência mais empolgante, sensorial e inovadora. Meio século depois, a Ligue de Football Professionnel (LFP) inspira-se nesse espírito para revolucionar… o seu modelo de transmissão audiovisual.
Nesta nova receita, a LFP pretende lançar, a partir de 15 de agosto, o seu próprio canal Direto ao Consumidor (DTC), disponível em streaming por menos de €20/mês — com pacotes ainda mais acessíveis para os mais jovens. O objetivo é claro: reagir à instabilidade que há anos marca a venda dos seus direitos. Desde o colapso do seu contrato principal em 2020 e subsequentes dificuldades recentes, tornou-se evidente a necessidade de alterar o modelo tradicional de leilão televisivo— ou, pelo menos, necessita de um bom tempero novo.
Com este canal próprio, a LFP responde à nova realidade do consumo de conteúdos: o público — sobretudo o mais jovem — está online, móveis e impacientes com a fragmentação e os custos dos pacotes tradicionais. Procuram acesso fácil, flexibilidade, e uma boa relação qualidade/preço. O DTC permite isso tudo: centraliza a oferta num só lugar, combate a pirataria, e oferece experiências mais ricas — como múltiplos ângulos, interatividade e personalização do consumo.
O modelo não é inédito no desporto: a Fórmula 1, a WWE ou a própria Serie A (nos jogos internacionais) já exploram esta via. O que torna a aposta francesa verdadeiramente inovadora é a ambição de fazer da Ligue 1 a primeira grande liga europeia a operar em regime 100 por cento DTC no mercado doméstico.
No momento em que se desenha a estratégia de comercialização dos direitos audiovisuais em Portugal, importa refletir sobre esta via, até porque é fundamental analisar os caminhos já percorridos por outros, evitar repetir erros e aprender com os bons exemplos que o mercado tem oferecido.
Nesse contexto, há vida para além dos contratos televisivos clássicos; há valor na proximidade ao adepto, na diversificação de receitas e na capacidade de adaptação. Mas também há riscos: o DTC exige tecnologia, conhecimento e uma estratégia sólida para subscrições, conteúdos e combate à pirataria. Soluções híbridas e parcerias tecnológicas devem fazer parte do cardápio.
Tal como na nouvelle cuisine, não basta replicar receitas. É preciso entender os ingredientes, afinar o paladar e ousar.
A oportunidade está em cima da mesa — e não deve ser ignorada.