Não é só Froholdt: aos 37 anos também há 'sprints' destes no Campeonato de Portugal
Ao sexto minuto do jogo entre União de Lamas e Leça, relativo à 5.ª jornada da Série B do Campeonato de Portugal, Hugo Seco protagonizou um lance impressionante à Victor Froholdt: pegou na bola (bem) antes da linha do meio-campo e... ninguém mais o conseguiu parar. O esférico terminou no fundo da baliza, depois de uma arrancada assinalável de vários metros sem oposição, e estava feito o primeiro do encontro, que os homens da casa acabaram por vencer (2-1).
Aos 37 anos, e depois de uma vasta carreira que conta com passagens pela Liga e por quatro campeonatos no estrangeiro, o extremo natural da Lousã brilha no quarto escalão do futebol luso e conta em entrevista a A BOLA os segredos para manter uma forma física invejável, não esquecendo que a sorte é fundamental no percurso de qualquer atleta.
«É preciso termos um bocadinho de sorte em relação às lesões que nos vão aparecendo. Ao longo da minha carreira, infelizmente, sempre tive muitas lesões, mas posso sentir-me agradecido porque nunca foi uma lesão muito grave que me impedisse de competir por muito tempo. Se calhar se tivesse tido o azar de ter uma lesão dessas mais grave, já com esta idade, seria mais complicado recuperar aqueles índices físicos», frisa o atacante, que explica todos os cuidados que mantém para se manter no topo das suas capacidades.
«Em relação ao resto, tenho todos os cuidados possíveis. Quer em termos de cuidados fora do treino, quer na alimentação, reforço muscular… Tenho muitos cuidados porque a velocidade sempre foi uma das minhas características. Faço um trabalho específico de potência, de velocidade. No verão, e sempre tenho uma paragem no campeonato, no inverno, costumo treinar com atletas aqui da Lousã que são do atletismo do Benfica. Ou seja, sempre tentei ter esses cuidados e continuo a ter. E acho que isso me tem ajudado. O facto de chegar aos 37 anos e ainda me sentir rápido deve-se muito a esses cuidados que tenho. Por isso, sinto-me agradado», revela ao nosso jornal.
Apesar de os resultados estarem à vista - leva dois golos neste arranque de época -, Hugo Seco não se livra de ser provocado... pelos colegas: «Muitas vezes sou um bocadinho picado ou gozado, digamos assim, pelos meus colegas de balneário porque acham que sou exagerado nos cuidados que tenho, nesse tipo de trabalho que tenho fora do campo. Mesmo na questão da alimentação, vamos a um sítio qualquer e eu controlo-me para tentar manter a alimentação saudável. E sou um bocadinho gozado por isso, mas depois existe o outro lado que me deixa orgulhoso, que é quando eu sinto, como aconteceu nesse jogo, que sou elogiado por chegar a esta idade e conseguir manter ainda essa velocidade. É algo que me deixa orgulhoso porque vejo a recompensa por esses sacrifícios que faço.»
«Claramente uma decisão acertada»
Depois de quatro épocas em Coimbra - três ao serviço da Académica e uma com a camisola do União 1919 -, o extremo explica a mudança para Santa Maria de Lamas, que podia ter acontecido... um ano antes: «A oportunidade do União de Lamas já tinha surgido na época passada, através de um grande amigo meu do futebol, o Filipe Melo, que está no clube há alguns anos. Quando saí da Académica, tive a possibilidade de continuar na equipa técnica. Na altura, fui abordado pelo David Caiado e pelo míster Pedro Machado para ficar na equipa técnica. Na altura não estava preparado para isso, mas depois foi algo que ponderei. Durante duas semanas estive a pensar seriamente nisso. É algo que eu quero para o meu futuro, mas senti que naquele momento ainda me sentia capaz de continuar a jogar futebol. Não senti muita estabilidade para terminar a minha carreira naquela altura», explica.
«Era um ano de eleições, não sabia muito bem o que iria acontecer. Podia estar a terminar a carreira antes do tempo e não dar continuidade ao trabalho na parte da equipa técnica dentro do clube, portanto decidi continuar a jogar. E nessa altura tive a possibilidade de ir para a União de Lamas. Acabei por optar por ficar em Coimbra, no União 1919, tinha lá também um grande amigo meu a jogar, que é o [André] Guimar. Estava perto de casa e ofereceram-me boas condições inicialmente. Falaram-me num contrato de dois anos, para dar alguma estabilidade na idade que eu já tinha. As coisas não correram muito bem, por diversos motivos que não quero abordar, porque são coisas que não deveriam acontecer, mas infelizmente acontecem muitas vezes no futebol. Estava a ponderar seriamente vir para o clube da minha terra, que é o Lousanense, para terminar a carreira, mas surgiu novamente a possibilidade do União de Lamas. Ponderei muito e decidi aceitar, muito pelo Filipe Melo e também pelo resto da Direção e treinador, que entraram em contacto comigo», confessa.
Os primeiros tempos no novo clube têm corrido (muito) bem, salienta: «Tenho gostado muito, de tudo. Do clube, dos adeptos… É um clube muito grande em termos de massa adepta. É um clube de bairro. Andamos ali perto do estádio, cafés, restaurantes, e toda a gente fala no União de Lamas. Existe muito aquele sentimento de bairrismo. É um clube que está a voltar aos poucos, àquele União de Lamas de há uns anos. É sempre das equipas que levam mais adeptos no estádio, mas ainda há muita gente afastada do clube, e acredito que no futuro vai voltar a ser aquilo que já foi. O grupo é espetacular, malta experiente, bastante profissional, malta mais jovem, que, além da qualidade no campo, tem também um lado humano muito bom. São jovens que querem singrar no futebol, com humildade suficiente para querer aprender. Só tenho a agradecer às pessoas do clube e foi claramente uma decisão acertada.»
Os objetivos para a temporada em curso
Na «série da morte» do Campeonato de Portugal, dada a qualidade das equipas que figuram naquela divisão, o objetivo dos unionistas para esta época é muito claro: sobreviver. «Em termos coletivos, o objetivo é a manutenção. É uma série difícil, chamada série da morte, porque é onde existe maior investimento e os plantéis são mais competitivos», realça.
Quanto às metas pessoais, o atacante vinca que pretende mostrar que ainda é capaz de estar a um bom nível, depois da experiência negativa na temporada transata: «O meu objetivo é apagar um bocadinho aquilo que foi o ano passado. Sem querer entrar em grandes detalhes, foi um ano atípico, em que estava muito bem. Depois, tive o azar de partir o pé logo no início do campeonato. Voltei antes do tempo, antes de estar tratado, porque as pessoas do clube me pediram para regressar mais cedo, fizeram essa pressão. Andei durante um ou dois meses com bastantes limitações, e depois, quando as coisas começaram a correr mal coletivamente, o comportamento das pessoas foi totalmente diferente. Esqueceram-se daquilo que eu tinha feito para regressar mais cedo, o esforço que estava a fazer para poder estar em treino e em jogo. Os últimos meses da época foram muito complicados para mim. Foi um bocadinho revoltante aquilo que eu passei na época passada, e agradeço também aos meus colegas de equipa, porque houve um momento mais complicado em que foram eles que me protegeram, em que se atravessaram mesmo por mim, e também lhes devo muito isso. Portanto, este ano o meu objetivo é mostrar que estou bem. Felizmente tenho conseguido. Tive uma infelicidade a começar, no nosso jogo de apresentação, em que tive uma lesão muscular. Estive fora nas primeiras três jornadas, depois regressei, comecei a jogar e as coisas têm corrido bem. E o meu objetivo pessoal é só esse: mostrar que consigo chegar a esta idade e que estou bem fisicamente.»
Sonho de tombar gigante
O sorteio da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal ditou que o União de Lamas vai receber o Vitória de Guimarães em casa, em duelo marcado para dia 19 (domingo).
O plantel unionista, revela Hugo Seco, ficou em êxtase com a notícia, já que conseguiu exatamente o que pretendia: medir forças com um emblema da Liga.
«A reação foi boa. Sabemos como é que é a Taça. Nada é dado como garantido. Podíamos até pedir uma equipa de um escalão inferior ao nosso, para tentarmos seguir em frente, mas na Taça tudo é possível, todas as equipas estão motivadas para chegar o mais longe possível, por isso não haveria nenhum jogo fácil. E gostávamos que calhasse uma equipa de Primeira Liga pelo clube, para voltar a trazer um jogo grande ao nosso estádio, e principalmente para valorizar os jogadores mais jovens que temos no plantel. Será uma montra para eles. Era o jogo que nós desejávamos e felizmente aconteceu», conta o extremo.
Apesar de partir como claro underdog no confronto com os conquistadores, o União de Lamas acredita na qualificação para a ronda seguinte da prova rainha: «Temos noção das dificuldades, o Vitória não é uma equipa qualquer, mas acreditamos que é possível seguir em frente, principalmente por ser no nosso estádio. É difícil para qualquer equipa passar no estádio da União de Lamas, pelo ambiente que se cria ali durante o jogo. Será uma motivação extra para quem vai jogar, porque seria, não vou mentir, muito mais difícil se o jogo fosse fora. Agora, sendo no nosso estádio, acho que há uma percentagem elevada de motivação dos jogadores, e acredito que esse fator também acrescenta alguma confiança.»