Mundiais de Tóquio: «Já calei muita gente! Hoje fui campeão do Mundo e fiz história»
Isaac Nader lamentou não ter a família do outro lado do Mundo, onde conquistou o título Mundial nos 1500 metros, mas feliz por poder abraçar Salomé Afonso, «companheira de treino e de vida». O algarvio disse mesmo que na véspera ficou triste com o 12.º lugar da portuguesa na final dos mesmos 1500 m e que ela hoje se estava a sentir campeã do Mundo. «É a minha tradutora especial, a minha companheira de todas as horas. (...) Vivemos os momentos menos bons e os muito bons, como hoje», elogiou o algarvio de 26 anos.
«Levo muito tempo a dizer que acreditava muito nisto, que era o meu sonho, ganhar uma medalha. (...) Hoje, sou campeão do mundo. Só há um título maior, que é ser campeão olímpico. (...) A quem dizia que o Nader não podia ganhar: já calei muita gente. Mas essas pessoas não importam, importo eu, a minha família, a Salomé [Afonso, namorada e também atleta], o meu treinador», atirou.
Nader, medalha de bronze nos Europeus em pista curta Apeldoorn2025, em março deste ano, assumiu sempre a satisfação por voltar a uma final de um Mundial, depois de ter sido 12.º e último em Budapeste2023, após quebrar nos derradeiros 200 metros, tendo, em 2024, sido 10.º nos Europeus Roma2024, pagando o desgaste de uma queda na semifinal que o deixou fora da corrida decisiva nos Jogos Olímpicos Paris2024.
Hoje, fez justiça aos percalços e chorou e sorriu, agarrado à bandeira portuguesa onde embrulhou a primeira medalha desta edição dos Mundiais.
«Nos últimos 100 metros, acho que vinha em sétimo, pensei em dar tudo até final, porque ainda podia ser campeão mundial e porque ninguém me tinha de passar. Desta vez, a meta tinha de ser o foco, não podia olhar para trás. Ninguém hoje pode criticar o Isaac por olhar para trás», contou.
Portugal - Medalhas de ouro em Mundiais
TÓQUIO2025
Isaac Nader (1.500 metros)
OREGON2022
Pedro Pablo Pichardo (triplo salto)
LONDRES2017
Inês Henriques (50 km marcha)
OSAKA2007
Nelson Évora (Triplo salto)
ATENAS1997
Carla Sacramento (1.500 metros)
GOTEMBURGO1995
Fernanda Ribeiro (10.000 metros)
Manuela Machado (Maratona)
ROMA1987
Rosa Mota (Maratona)
«Às vezes, as pessoas não percebem porque olho para trás. Quando não posso passar ninguém, olho ao menos para assegurar o lugar que tenho. Aconteceu nos últimos Mundiais de pista curta. Não é por insegurança, foi um tique que ganhei. Se é bom ou mau... é o que é. Nos últimos 40 metros, acreditei bastante e achava que tinha tanta energia, surpreendi-me a mim mesmo», contou o campeão do mundo do Benfica na zona mista do Estádio Nacional.
Feliz, agarrado à bandeira e a uma falsa medalha, dado que a cerimónia do pódio só se realiza amanhã, revelou: «Hoje, nem sei com quanto [tempo] ganhei, o que importa é que ganhei. No final, faltavam 200 metros, tinha energia, não sabia quanta ainda tinha no tanque. Havia uma pequena fase em que o atleta que vinha nas costas, pela lateral, pedia para que não me complicasse a vida e me ‘fechasse’ para os últimos 100 metros. Tive espaço para acelerar tudo o que tinha. Hoje, fui campeão do mundo e fiz história», repetiu como que ainda a tentar acreditar no que acabou de fazer.