Mourinho: uma época em 10 dias

Rui Costa esteve bem. Não só na contratação de José Mourinho, como na possibilidade de rescisão de contrato. 'Direito ao golo' é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro

José Mourinho, considerado por muitos um dos melhores treinadores do mundo, está de regresso a Portugal, neste caso ao Benfica. É uma excelente notícia para o clube e para o futebol português. Mourinho traz excelência, um currículo notável, tem peso nos media internacionais — e nacionais, diga-se —, o que beneficia não só o Benfica, mas também o futebol português.

Tem, igualmente, e como todos os trabalhadores desportivos, um contrato de trabalho desportivo: «contrato de trabalho desportivo é aquele pelo qual o praticante desportivo se obriga, mediante retribuição, a prestar atividade desportiva a uma pessoa singular ou coletiva (…) no âmbito da organização e sob a autoridade e direção desta.» Art.º 2.º, da Lei do Contrato de Trabalho Desportivo.

Isto explica a relação de Mourinho, e antes de Bruno Lage, com o Benfica. Trabalha agora na Benfica SAD, sob a autoridade e direção desta. Mas, segundo os media, o seu contrato tem uma especificidade: nos 10 dias seguintes ao final desta época desportiva, qualquer das partes pode rescindir o contrato. Com que consequências, em termos de indemnização, é que ainda não se sabe ao certo. Mas calcula-se que a rescisão custe menos ao Benfica do que se for despedido nos próximos meses. Há quem fale em cinco milhões de euros se for o Benfica a despedir e três milhões se for o treinador a sair, mas o que se sabe ao certo é que o valor é deveras mais baixo do que qualquer outra indemnização que o Special One já recebeu no passado.

Passemos, por momentos, para a pseudo-ficção: segundo o Correio da Manhã, o treinador português vai custar ao Benfica 34 milhões em dois anos: €16 M no primeiro ano e €18 M no segundo. Desses 34 milhões, o treinador deverá receber cerca de €15 M líquidos, de impostos e Segurança Social. E o Benfica ainda pagará 23,75% sobre os €34 M. Segundo o Benfica, a informação é totalmente falsa. Seja lá quem for o que está a escrever a verdade, destaco isto para o caro leitor: se fosse em Espanha não seria assim, pois lá a Segurança Social só é cobrada até certos valores. Ou seja, a fiscalidade portuguesa coloca as nossas SAD em desvantagem face aos clubes espanhóis. Podíamos todos debater este tema em Portugal, certo?

Independentemente do que se pense sobre a decisão de Rui Costa quanto a Lage, e o timing da mesma, que, tal como o de Roger Schmidt, não pareceu o melhor, o presidente esteve bem. Não só na contratação de Mourinho, como na possibilidade de rescisão nos 10 dias seguintes ao final da época. O Benfica vai ter eleições em breve e uma decisão do presidente em funções, tomada no final do mandato, não deve vincular o novo líder das águias mais do que a presente época.

Um elogio para Bruno Lage: colocou o lugar à disposição, exigiu a indemnização para os adjuntos, mas o próprio recebeu apenas o salário de setembro. Isto é legal? Sim, treinador e clube podem acordar o fim do contrato nos termos do art.º 23.º, n.º 1, alínea b): «O contrato de trabalho desportivo pode cessar por revogação por acordo das partes.»

Direito ao golo

O Direito ao Golo vai para Isaac Nader, que se tornou campeão mundial dos 1500 metros. Nascido em Faro, o atleta espantou o mundo com o seu talento e capacidade. E ficará para sempre na história do desporto português. E um grande aplauso para Pablo Pichardo, que também foi medalha de ouro.