Momento do Sporting: «Há fatores menos controláveis com solução»
A quebra do Sporting nas segundas partes tem sido evidente, o que já custou meia dúzia de pontos aos leões, que após estarem a vencer ao intervalo acabaram por empatar três jogos nos minutos finais.
A BOLA falou com Luís Martins, antigo treinador da formação do Sporting, para dar uma perspetiva mais técnica do que pode ser feito. «As questões da motivação e da metodologia do treino sempre a alterar-se com várias lideranças não ajudou, principalmente quando a primeira era bem consolidada, consistente e constante. Em relação a lesões o Sporting está a passar uma fase má, cada vez que um jogador cai toda a gente suspira», começou por dizer.
Esta seria a oportunidade para lançar jogadores jovens consolidados, se calhar já mais preparados no sentido de terem mais minutos de jogo anteriores quando as provas estavam a ser bem-sucedidas, mas agora são eles que têm que guardar o convento
«Somos pessoas e as pessoas quando enfrentam situações mais adversas têm mais condições para errar e ter performances mais pobres. Há aqui muitos fatores que, uns controláveis, outros menos controláveis, mas que, na minha opinião, têm solução. Fala-se naquilo que não se consegue controlar, que é o calendário competitivo, mas pode-se controlar, sabendo a priori, que não é uma surpresa o calendário, apesar deste ano ter uma situação nova, mas desde setembro que se sabia da quantidade de jogos em novembro, dezembro, janeiro e até fevereiro, para quem passar à outra fase nas provas internacionais. Pode-se abordar essa situação da densidade competitiva tendo mais capacidade no plantel em termos de profundidade, fazer repartir mais volume de jogo para os jogadores, depois é ter muito cuidado naquilo que é a metodologia do treino, que prevê que haja forte incidência, quando há estes casos, na recuperação e regeneração dos jogadores, é só aplicar aquilo que a ciência já nos permite», realçou.
E os azares de uns são a sorte de outros, neste caso dos jovens que têm sido chamados: «Esta seria a oportunidade para lançar jogadores jovens consolidados, se calhar já mais preparados no sentido de terem mais minutos de jogo anteriores quando as provas estavam a ser bem-sucedidas, mas agora são eles que têm que guardar o convento. E agora torna-se também mais difícil serem eles quem têm a responsabilidade de assumir a performance mais alta.»
E sobre a frase de Rui Borges quanto aos jovens: 'O que peço é para se divertirem dentro de campo com a responsabilidade devida. E que falhem muito. Só não falha quem se esconde. Quero é que eles se mostrem, para se mostrarem têm de falhar', Luís Martins reagiu: «Agora torna-se também mais difícil serem eles quem têm a responsabilidade de assumir a performance mais alta. Vejo muita comunicação errática. Quando dizemos que os erros fazem parte do processo para um jogador que tem 12 anos de experiência anterior na formação, qualquer que ela seja, não faz muito sentido que ele não tenha errado antes nos patamares de formação. E deve-se ter construído uma mentalidade ganhadora na formação, que acho que, nesta altura, também não é uma constante do Sporting. E, portanto, toda a cadeia para baixo está, digamos, alterada.»
Desafiado a deixar uma palavra a Rui Borges, Luís Martins salientou: «Não sou ninguém para dar conselhos, mas dir-lhe-ia a título de ajuda que deixasse de falar no 'é o que é' e 'o futebol é assim'. Isso demonstra que está ao sabor das circunstâncias e deve ser um treinador a liderar as circunstâncias e a provocar as circunstâncias, nomeadamente as positivas e a saber resolver as negativas. Aponta para o futuro muitas vezes a dizer que 'vamos ser felizes na parte final', mas para ser feliz na parte final é preciso ganhar estas partes.»