Mário Gomes, selecionador de Portugal - Foto: FIBA

Mário Gomes: «21 pontos? Quem viu o jogo foi natural»

Selecionador nacional definiu a coesão defensiva da equipa portuguesa como fundamental para a vitória por 83-62 sobre Montenegro no primeiro jogo do Grupo B de qualificação para o Mundial de 2027

No pavilhão onde Montenegro costuma morder forte, Portugal decidiu começar a qualificação para o Mundial 2027 com o som de um murro na mesa: 83-62, sem cerimónias. E, no final, Mário Gomes explicou o segredo com a simplicidade de quem sabe o que tem entre mãos: «Foi a partir da defesa que construímos a vitória.»

A noite foi exatamente isso — uma seleção a defender como quem fecha portas, janelas e respirações, e a transformar sufoco em ritmo. O próprio selecionador explicou a equação com honestidade: «O ataque é natural que não tenha funcionado tão bem, porque é sempre mais difícil com pouco treinos, mas, mesmo quando emperrou, a equipa manteve-se unida, coletiva, movimentou bem a bola e encontrou lançamentos fáceis.»

Portugal, afinal, vinha de apenas quatro dias de trabalho após três meses longe das seleções. Mas Mário Gomes não dramatizou: «Não há grandes segredos. Só foi possível trabalhar quatro dias, passados três meses [desde o Eurobasket], mas já temos alguma bagagem consolidada, o que nos permite aguentar quando as coisas não correm muito bem.»

E houve, sim, um início torto. Montenegro venceu o primeiro período por 21-14, aproveitando cestos fáceis que irritaram o banco luso. Mas o jogo mudou quando Portugal conseguiu impor o tal 5x5 em meio-campo. O treinador não poupou elogios ao comportamento defensivo:

«Tirando os primeiros minutos, em que permitimos alguns cestos fáceis, e a partir do momento em que conseguimos pôr a equipa de Montenegro a jogar ‘5x5’ em meio-campo, a nossa defesa esteve quase impecável.»

O intervalo chegou com os portugueses já na frente (32-39), e o terceiro período assinou a sentença: 20-0 de parcial, um daqueles momentos que parecem ficção mas estavam ali, em chão montenegrino. Gomes, fiel ao estilo pragmático, disse-o assim: «Já nos aconteceu e espero que não volte a acontecer. Há momentos em que tudo corre bem a uma equipa e mal à outra.»

E detalhou o golpe: «Marcámos 20 pontos sem resposta, incluindo quatro triplos quase seguidos, e abrimos uma vantagem [de 22 pontos], que reforçou a nossa confiança. Montenegro já não teve capacidade para reagir.»

No final, era fácil resumir o que se tinha passado: «Estivemos muito bem na defesa e, a partir daí, controlámos o ritmo do jogo e soubemos encontrar soluções para marcar.»

Mas vencer era só metade da história — vencer por muito também contava. E Mário Gomes recordou-o com a frieza de quem conhece os regulamentos tão bem quanto conhece a própria equipa: «Esta é uma competição curta, com seis jogos. O apuramento é o primeiro objetivo, mas o segundo, e não menos importante, é conseguir o maior número de vitórias. Por quanto mais pontos se ganhar melhor.»

E rematou com naturalidade: «Não era expectável ganhar por 21 pontos, mas, para quem viu o jogo, foi natural.»

E acrescentou, seguro das escolhas: «Sinto-me confortável a fazer as rotações que faço. Mesmo que não corram bem, não é por falta de empenho, concentração ou confiança. Uns destacam-se nuns jogos e outros noutros. Hoje o Ricardo Monteiro, que nem esteve no Europeu, foi determinante. Domingo pode ser outro. Não dependemos de um ou dois jogadores.»

A seguir vem a Grécia, em Matosinhos, um osso duro, terceiro classificado no último Europeu. E Mário Gomes não esconde nada:

«A Grécia é, teoricamente, a equipa mais forte do grupo. Espero que possamos defender ao mesmo nível de hoje e atacar de forma mais fluida. Temos de estar ao máximo nível para podermos competir.»

Mas o objetivo mantém-se intocável: «Vamos com objetivo de ganhar, sabendo contra quem vamos jogar. Ninguém nos pode levar a mal de ter a ambição de vencer.»

Antes de virar a página, uma dedicatória com peso emocional: «Dedico esta vitória ao Rafa Lisboa, que faz hoje 26 anos, e aos nossos grandes jogadores, ausentes por lesão, o Neemias Queta, que não poderia estar aqui de qualquer forma, e o Miguel Queiroz. A vitória é para eles.»