Aos 33 anos, Mouhamadou Fall prepara-se para novo capítulo na carreira. IMAGO
Aos 33 anos, Mouhamadou Fall prepara-se para novo capítulo na carreira. IMAGO

Mais um atleta que trocou os Jogos Olímpicos pelos Jogos do Doping

O 'sprinter' Mouhamadou Fall, tetracampeão francês dos 100m e bicampeão dos 200m, foi suspenso 18 meses em setembro de 2024 por violações das regras de localização. Agora, anunciou que vai participar no polémico evento de maio do próximo ano e junta-se aos 10 nomes já conhecidos candidatos aos prémios milionários

O atleta francês Mouhamadou Fall, outrora uma esperança do atletismo gaulês, gerou uma onda de choque ao anunciar a a participação nos Enhanced Games, uma competição onde o doping será permitido, que está agendada para maio do próximo ano em Las Vegas.

Já lá vai o tempo em que Mouhamadou Fall gostava de contar como começou no atletismo quase por acaso, desafiado por amigos para testar a sua velocidade. As corridas improvisadas aconteciam à noite, cerca de 40 metros, em frente ao bar de shisha que geria em Persan, no Val-d'Oise. Fall vencia com facilidade e os vídeos acabaram nas redes sociais. Foi assim que o então futebolista amador decidiu, aos 23 anos, inscrever-se no clube de atletismo local, o Ac Nord Val-d'Oise.

Indiferente à polémica, Mouhamadou Fall já disse que participar nos Enhanced Games «não é doping, mas uma oportunidade de aprender mais sobre os limites do corpo humano».

Uma década depois, a história inspiradora tem um novo capítulo. Apesar dos sete títulos de campeão de França, Fall nunca conseguiu afirmar-se verdadeiramente no panorama internacional, mesmo tendo sido finalista nos Campeonatos da Europa, e nunca bateu a barreira dos 10 segundos aos 100 metros. Ao aceitar participar nos Jogos do Doping, competição que autoriza e supervisiona medicamente o uso de substâncias dopantes, o sprinter terminou a carreira de forma irrevogável, defende a Federação francesa de atletismo.

«A decisão anunciada de Mouhamadou Fall de participar nos Jogos Aprimorados contradiz totalmente os valores do desporto e do atletismo», disse o presidente da FFA, Jean Gracia, num comunicado à imprensa. «Essa competição, que admite abertamente o uso de substâncias para melhorar o desempenho, desconsidera a integridade, a justiça e a saúde dos atletas», alertou. «Esses ‘Jogos’ não são Jogos de verdade. Constituem uma farsa perigosa», insistiu.

O comité Olímpico francês, a Agência antidoping francesa e o Ministério do Desporto emitiram um comunicado conjunto onde anunciam que «1ualquer participante francês considerado culpado de doping enfrentará sanções». As instituições temem «uma nova forma de doping institucionalizado» e por isso reiteram que o «o doping não tem nada a ver com o desporto, constitui uma grave violação da ética desportiva e dos valores fundamentais de integridade, respeito e responsabilidade»

Prémios milionários
Cada um dos nove eventos terá um prémio monetário de 500.000 dólares, cerca de 440 mil euros, sendo que 220 mil euros serão para o primeiro classificado. Além disso, os Enhanced Games oferecerão cachets de participação e bónus para quem bater recordes. Nada mais, nada menos do que 1 milhão de dólares (878 mil euros) para quem bater as marcas nos 100 m (atletismo) e 50 m livres (natação), o que D’Souza indica serem os «dois testes definitivos da velocidade humana bruta»

Pelos menos 10 nomes já são conhecidos

Por enquanto, Mouhamadou Fall só conhece a identidade de um de seus concorrentes nas provas de velocidade, mas trata-se de um adversário formidável. Antes dele, Fred Kerley  aderiu ao evento que pela Agência Mundial Antidoping (WADA) considera a considerado «perigoso e irresponsável» . O americano, também suspenso por falhas de localização, é o atleta dos Enhanced Games com o currículo mais impressionante: três medalhas de ouro em Mundiais (100m em 2022 e duas na estafeta), duas medalhas olímpicas nos 100m (prata em Tóquio em 2021 e bronze em Paris em 2024) e o 7.º lugar no ranking dos melhores de todos os tempos na prova (9,76 segundos).

Entre os halterofilistas, modalidade na qual os participantes executam o arranque e o arremesso, atualmente há dois confirmados: o americano Wesley Kitts e o canadiano Boady Santavy .

Para a piscina já há nadadores suficientes para preencher quase todas as pistas. O líder é o grego Kristian Gkolomeev, 32 anos, um dos primeiros a confirmar a presença em Las Vegas, e que bateu o recorde mundial dos 50m livre — distância na qual terminou em 5.º lugar em Tóquio2020 e Paris2024 — graças a um cocktail de substâncias para melhorar o desempenho.

Três modalidades
O evento que conta com três modalidades - atletismo, natação e halterofilismo - vai oferecer prémios milionários aos atletas que podem usar substâncias proibidas para melhorar o desempenho e bater recordes mundiais, nomeadamente nos 50 m livres e na corrida de 100 metros. O nadador grego Gkolomeev, 5.º em Paris 2024, já terá batido o recorde mundial

Atrás desse objetivo promete ir o australiano James Magnussen, medalha de prata nos 100m livres em Londres 2012.

Quem também já confirmou a presença, foi o britânico Ben Proud, 30 anos, campeão mundial dos 50m livres em 2022 e medalha de prata em Singapura, no início de agosto deste ano.

Além destes três nadadora, pelo menos mais quatro anunciaram a intenção de entrar nos Enhanced Games: o ucraniano Andriy Govorov - recordista mundial dos 50m mariposa (22,27 - o irlandês Shan Ryan - duas medalhas de bronze nos 50m costas no Mundial de piscina curta - , o alemão Marius Kusch - campeão europeu dos 100m mariposa em piscina curta em 2019 - e o búlgaro Josif Miladinov – com 22 anos, o atleta mais jovem anunciado, prata nos 100m mariposa no Europeu de 2020.

A nadadora Megan Romano, 34 anos, multicampeã mundial na estafeta americana é, até o momento, a única mulher a ter anunciado sua participação.