Portista Bednarek 'apertado' por dois adversários - Foto: Catarina Morais/Kapta+
Portista Bednarek 'apertado' por dois adversários - Foto: Catarina Morais/Kapta+

Líder leva manual de sobrevivência e sai por cima (crónica)

Só se viu uma imagem aproximada do verdadeiro FC Porto após o intervalo. Muito mérito do Moreirense, que na 1.ª parte pouco permitiu aos dragões. Samu levou oxigénio ao balneário, na pausa, e Deniz Gul, aos 89', confirmou reviravolta num emocionante espetáculo de futebol

Louve-se o espetáculo. Intenso, preenchido de história e com momentos que fazem do futebol o jogo mais amado do mundo. O Moreirense pode orgulhar-se de ter feito parte de 90 minutos (mais 10’ de tempo extra) excitantes e vertiginosos, nos quais se viu um FC Porto na mó de baixo no primeiro tempo, salvo por um penálti pouco antes do intervalo, mas que se levantou com fulgor, confirmando a reviravolta na segunda parte, com golo de Deniz Gul, e o oitavo triunfo na Liga, perante um adversário que em casa só vencera.

Os dragões só mesmo no segundo tempo se reencontram com a sua matriz de jogo. A tal intensidade que Farioli pede, mas que nem sempre os jogadores conseguem oferecer-lhe, especialmente após uma jornada europeia esgotante e quando pela frente têm um opositor da valia do Moreirense, que justifica os mais elaborados elogios pela forma como também quer ser grande a jogar. Foi meio FC Porto, mas o bastante para sair vivo e a sorrir de Moreira de Cónegos.

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Após o desaire com o Nottingham Forest, o primeiro da época do FC Porto, Francesco Farioli voltou ao onze que esteve na base do excecional arranque dos dragões, com Gabri Veiga no meio-campo, em vez de Pablo Rosario, conferindo à equipa mais dinâmica e criatividade, mesmo perdendo algum músculo. No Moreirense, a grande novidade foi mesmo a continuidade de André Ferreira, guarda-redes que defendeu na Taça de Portugal, no onze, caindo Caio Secco para o banco. O guardião já tinha sido titular em Alvalade, na derrota dos cónegos, por 3-0. As entradas de Francisco Domingues e Stjepanovic para os lugares de Álvaro Martínez e Afonso Assis entram previsíveis e não devem ter apanhado Farioli desprevenido. 

Bem estruturado, o Moreirense montou uma autêntica teia defensiva que cortou praticamente todas as linhas de acesso aos extremos e a Samu. A pressão intensa exercida desde a saída de bola de Alan Varela por Maranhão e Alanzinho, foi determinante para condicionar a construção portista. Nas alas, o trabalho criterioso de Francisco Domingues, Travassos, Cedric Teguia e Dinis Pinto secou as principais referências ofensivas do FC Porto, enquanto pelo centro do terreno Benny e Stjepanovic anularam Froholdt e Gabri, impedindo que estes tivessem qualquer influência nos primeiros 30 minutos de jogo.

Mas fez mais o conjunto de Vasco Botelho da Costa. O Moreirense não abdicou da iniciativa atacante, mantendo a baliza de Diogo Costa sob ameaça constante. Uma abordagem equilibrada entre solidez defensiva e intenção ofensiva que se traduziu num golo que deixou o FC Porto ainda mais abalado. Os cónegos marcaram na primeira saída promissora que tiveram: um corte incompleto de Bednarek foi pretexto para um remate de primeira de Alanzinho, com a bola ainda a desviar no polaco e a trair Diogo Costa.

Asneira de Yan Maranhão 

A reação do FC Porto foi imediata, mas com fúria contida, por força da solidez e atrevimento do Moreirense. Gabri Veiga marcou, mas o lance foi anulado por fora de jogo bem assinalado pelo auxiliar de João Gonçalves e confirmado pelo VAR. VAR que voltaria a ser convocado num lance protagonizado por Yan Maranhão e Froholdt na área do Moreirense, perto do intervalo: o avançado puxou ostensivamente a camisola do dinamarquês, cometendo falta escusada. No penálti, Samu não enganou André Ferreira, que adivinhou o lado onde a bola entrou, contudo, o pontapé do espanhol foi forte e colocado. O dragão saiu ao intervalo com prova de vida e mais 45 minutos para dar uma imagem bem diferente da que deixou no primeiro tempo. 

Borja Sainz ficou no balneário 

A primeira grande decisão de Farioli foi deixar Borja Sainz no balneário ao intervalo, algo justificável face à fraca produtividade ofensiva do extremo espanhol. Para o seu lugar entrou William. O início da segunda parte trouxe um FC Porto renovado, com uma entrada ‘à Porto’: intensidade máxima, dinâmica ofensiva e olhos fixos na baliza adversária. A pressão sufocante sobre o Moreirense contrastou com a apatia do primeiro tempo, sugerindo que o discurso de Farioli durante o intervalo terá sido, no mínimo, inspirador. 

Samu deu o primeiro sinal de perigo, obrigando André Ferreira a uma defesa com o joelho, ao estilo de guarda-redes de andebol. Outra das mudanças foi a entrada de Mora mais cedo do que em Nottingham, aos 58’, fundamental para o FC Porto carregar no acelerador. A pressão portista aumentava, e o golo parecia iminente, mas o Moreirense resistiu e até protagonizou um momento que quase mudou o rumo do jogo. Benny, de muito longe, tentou um chapéu audacioso que deixou Diogo Costa estático. A bola passou muito perto do alvo, arrancando suspiros de quem assistia…

Gul também sabe ser decisivo

O cerco portista foi interrompido por segunda ameaça do Moreirense que, de certo modo, trouxe algum oxigénio aos cónegos. Travassos tirou Kiwior da frente e rematou com muito perigo à baliza dos dragões. O problema, na perspetiva dos da casa, é que os azuis e brancos não deixaram de investir na conquista dos três pontos. Mesmo com a ameaça de perder tudo. Essa forma de abordar os minutos finais foi determinante para o golo de Deniz Gul, aos 89', e para o triunfo muito suado do FC Porto.