João Simões: «Vamos sem medo, queremos fazer história»

Jovem algarvio aponta ao tricampeonato, mesmo numa altura em que algumas ausência possam afetar o lote de opções de Rui Borges

João Simões, 18 anos, está em plano de ascensão no leão mas continua a manter uma humildade por vezes pouco vista e um sorriso que muitas vezes se lhe deseja no rosto quando está a fazer aquilo que tanto gosta: jogar futebol. Venha daí numa viagem até ao mundo encantado do camisola 52 e conheça-lhe as ambições individuais e coletivas dum grupo muito apostado em fazer história com a chegada ao tricampeonato.

— Como é que avalia até agora a época do Sporting?

— Acho que estamos a fazer uma boa época. Estamos na frente todas as competições a lutar para conseguir ganhar, que é sempre o nosso objetivo. Temos alguns pontos a melhorar e algumas coisas que não fizemos totalmente em alguns jogos, mas estamos a trabalhar para evoluir e no final do ano conseguirmos todos nossos objetivos.

São bicampeões. Pensa são o principal candidato ao título?

— Neste momento não. Julgo que tanto o Sporting, como o Benfica, o FC Porto ou mesmo o SC Braga são equipas que podem todas ganhar  o campeonato porque têm muita qualidade, muito investimento e são equipas que cada vez mais pretendem e querem jogar um bom futebol. Por isso penso que na nossa Liga não há esse favoritismo, qualquer. Qualquer um desses pontos pode ganhar. É claro que somos bicampeões, mas queremos voltar a ganhar. Sabemos que vai ser muito difícil, mas vamos tentar.

— Pensa que essa vontade pode superar algumas lacunas que possam existir. A vontade de ser tricampeão de entrar na história?

— Acho que a atitude está dentro de nós, o ADN do nosso clube. No Sporting nós entramos sempre para ganhar. E essa atitude, essa resiliência que nós tivemos mesmo na época passada, vai estar dentro de nós. Então, sempre que entramos no início do campeonato com objetivo de ganhar tudo. Dá-nos um boost; dá-nos combustível para conseguimos no final do ano tentar conseguir ganhar todos os troféus.

— Não. Cada jogo é um  jogo e tem a sua história. Não ganhámos porque facilitámos em algum momento. Por isso, acho que é evoluir dia a dia, como temos estado a fazer. Como disse, também são equipas com muita qualidade. Nós somos o Sporting queremos ganhar todos os jogos, mas às vezes acontece alguma coisa que falhou e nós temos que no próximo jogo dar sempre a resposta.

— Na Champions acredita que é possível o apuramento direto para a próxima fase?

— O nosso foco inicial é e foi sempre o playoff. Depois, no final dos jogos, aí faremos as contas e veremos se é possível ou não. Pensamos muito jogo a jogo, sinceramente, e agora temos jogo com o PSG. E depois desse jogo é que vamos pensar no último jogo e tentar fazer as contas para ver como ficamos. Mas só no final é que saberemos.

— Qual é a maior virtude deste grupo?

— Estou convencido de que são  a união e a resiliência.  É muito por aí, porque só um grupo muito unido como o nosso é que  consegue nesses momentos que não estamos tão bem, ou quando temos algumas dificuldades, ultrapassá-las. E acho que é esse o nosso forte, a união.

— Tem havido alguma polémica com as arbitragens e têm colocado em causa algumas vitórias do Sporting. Como reagem a isso?

— Não, nós somos jogadores de futebol. Nós estamos lá dentro, no campo. Nós entramos sempre, como já disse, para fazer o nosso melhor jogo para ganhar. E depois disso da  arbitragem não somos nós quem tem de falar. Há pessoas no clube para o fazer. Por isso nós só estamos focados em conseguir jogar bem e ganhar.

De arbitragem não somos nós que temos de falar

— Qual é a mais-valia que vocês têm em relação aos vossos concorrentes mais diretos?

— Cada equipa é como é. Cada equipa tem jogadores com as suas características; tem os seus pontos fortes, seus pontos fracos. Não consigo dizer essas mais-valias porque cada grupo, como eu disse, é um grupo. Nós fazemos o nosso, olhamos para nós, depois no final do ano vê-se quem é que foi mais consistente, quem é, quem foi mais regular durante a época toda. E quem for campeão é porque é justo.

— Fazendo uma avaliação global e olhando para 2024/25, pensa que o Sporting depende menos de um jogador na temporada em curso?

— No Sporting, todos contam, todos os jogadores estão aqui para ajudar. Estamos todos para o mesmo. Para lutar e fazer história pelo clube. Sai um, entra outro e é igual para nós, porque nós estamos cá e vamos dar tudo com os que temos.

— Vocês têm incorporado aquela frase do 'mister' que diz quando falta qualidade que não falte a atitude?

— Sim, acho que sim. Por exemplo, no jogo com o Santa Clara, um encontro que infelizmente não conseguimos ter aquela qualidade que costumamos ter, como já aconteceu noutros jogos, e a atitude nunca faltou. Por isso acho que é um exemplo bem recente e que está dentro de nós.

— Pode ser essa atitude que nos vai levar ao sucesso?

— Penso que o sucesso depende muita coisa. Tem que haver muitos fatores que têm de estar bem alinhados. Mas, claro, a atitude, a crença, o querer e a raça que está dentro de nós no Sporting. Acho que muito desse ADN que nós levamos, acho que isso é que nos pode levar ao sucesso.

— Estão numa fase complicada por causa de algumas lesões como a de Pote ou Quenda e ausências na CAN. Como é que vocês ultrapassam estas dificuldades?

— Sabemos que as ausências são de jogadores com algum peso, de muita qualidade, com muita história no nosso clube. Mas como já o ano passado fizemos, vamos com os temos disponíveis. Já vieram jovens como eu da equipa B… Já jogámos na Champions, com o Dortmund, com sete miúdos dos bês, como o mister também já disse anteriormente. Acho que nós no Sporting, como disse, vamos sem medo, vamos com os que temos e vamos para o jogo sempre a pensar em ganhar, porque o símbolo que nós que nós carregamos ao peito tem muita história e nós queremos fazer história com os que temos, sempre.

— O Daniel Bragança, que também joga a meio-campo, está a voltar agora à equipa. Teme perder espaço no onze quando ele retornar?

— Ficamos todos muito felizes porque o Daniel está de volta. Teve uma lesão, infelizmente, muito longa, mas  é um grande, grande colega e amigo. Mas essas decisões se está no onze ou se não está isso é do nosso treinador.

— Como viu a luta dele para voltar à competição depois da lesão que sofreu a 15 de fevereiro?

— Sem dúvida é um exemplo para todos nós. Resiliência, muito trabalho. Foi muito tempo e agora o Nuno Santos também estamos a mais prolongada e também é um exemplo para nós de trabalho, resiliência e acho que é um exemplo. O Daniel é um dos capitães, mostra muito do que do que é o ADN Sporting. É um miúdo um jovem que também veio da formação, fez todo o processo cá no Sporting. E, para mim, que sou mais novo, que também vim na formação, sempre foi um exemplo para mim.

— No jogo de Nápoles, como disse Rui Borges, estava 'borradinho' ou não?

— Não, não. Eu gosto muito de jogar qualquer jogo. Estou cá para ajudar, seja cinco, dez, ou 90 minutos vou estar a ajudar e vou dar tudo por isso… Jogar em Nápoles foi muito bom. Defrontei grandes jogadores. Mas se fosse jogar para a Taça de Portugal estaria com o mesmo foco e a mesma ambição querer ganhar e ajudar o clube.

— Agora recue um pouco no tempo. Há dois anos imaginava estar neste patamar,  com apenas 18 anos?

— Acho que tinha um sonho. Infelizmente, não sabia se era possível ou não, porque como toda a gente sabe, ser jogador de futebol e chegar à equipa principal do Sporting acho que é algo muito difícil. No entanto, sempre acreditei. Tive muita ajuda de todos, principalmente na altura que estava na Academia da minha família para continuar a lutar ou para acreditar que era possível. E graças a Deus eu hoje estou a viver o  meu sonho.

Graças a Deus, hoje estou a viver o meu sonho

— Dois jogadores da sua geração, Salvador Blopa e Flávio Gonçalves estão agora no plantel principal. O que podem acrescentar à equipa, na sua opinião?

— A juventude, não é? Porque também são jovens…

— Irreverência?

— Sim, a qualidade que eles têm. Acho que são jogadores, como toda a gente já conseguiu ver. Têm muita qualidade, estão a ganhar o seu espaço, a entrar aos poucos na equipa principal, a viver também o sonho. E acho que com o tempo, com calma, vão conseguir chegar ao nível que eles pretendem, porque são jogadores e pessoas muito focadas no dia a dia, no trabalho e que têm muita chance de conseguir singrar e viver o sonho deles.

— É mesmo como dizem: a geração de 2007 é especial?

— Acho que cada geração, como as equipas, têm a sua história, têm os seus jogadores, tem as suas mais-valias. A nossa geração, graças a Deus, tem muito bons jogadores, como muitas outras gerações. Posso dizer, por exemplo, a de 2004, que é que eu consigo ver a de 2005, mesmo a de 2006 tem muita qualidade. Acho que em Portugal o que não falta isso é gerações com grandes jogadores com muita qualidade.

— Com quem é que aprendeu mais no plantel principal?

— Com o Morita. Ajudou-me sempre muito.

— Mas como é que consegue comunicar com ele?

— Em inglês e português, ele também percebe um pouco…

—É que ele nas conferências só fala japonês…

—  Falo inglês também, mas acho que o Morita ajudou muito sim. Na minha posição também é alguém que já tem muita experiência no futebol português e internacional. É sem dúvida um grande companheiro e um amigo.

Hjulmand, Kochorashvili ou Morita. Com quem evoluiu mais a jogar no meio?

— Acho que os três eu aprendi um bocado de cada um. Acho que são jogadores diferentes.

— Na época passada também chegou a jogar com o Daniel Bragança

— Sim. Mas quaisquer um desses quatro jogadores são diferentes, têm características dispares. Eu tento olhar muito para cada um e tirar um bocadinho de cada. Acho que não jogo perfeito, mas se puder melhorar um bocadinho porque eles são muito bons, acho que consigo chegar onde quero, que é o alto nível e evoluir, continuar a evoluir e melhorar como pessoa e como jogador.

— Gostava de um dia jogar num clube de topo mundial ou para já está com o seu pensamento totalmente concentrado no Sporting?

— Já estou no meu sonho, no Sporting. Estou muito feliz  de estar aqui. Como já disse, estou aqui, estou bem, depois no futuro é ver e depois o que vier, quererei lutar por isso.