Vitinha e João Neves - Foto: IMAGO

João Neves a lateral-direito? Não, obrigado

O otimismo com a Seleção e uma preocupação com as escolhas de Roberto Martínez

Que privilégio. Portugal tem uma das melhores duplas de médios do mundo, Vitinha e João Neves, que pedem meças a Pedri e Zubimendi, ou a Bellingham e Declan Rice, ou a Enzo Fernández e Mac Allister, ou a quaisquer outras combinações, em Espanha, Inglaterra, Argentina e nos outros, que possamos idealizar.

Basta ver, aliás, que na lista de 30 nomeados para a Bola de Ouro só outro país tem dois médios — a Espanha (com Pedri e Fabián Ruiz, em vez de Zubimendi, numa lista muito influenciada pela conquista do PSG na UEFA Champions League).

João Neves e Vitinha não jogam só juntos em Portugal, também o fazem no PSG, e como titulares. O entendimento que ganham no clube seguramente que será precioso para a Seleção, e com Bruno Fernandes ou Bernardo Silva uns metros mais à frente a segurança e a criatividade estão asseguradas. Com meio-campo assim, não surpreende que tantos analistas coloquem Portugal como um dos principais candidatos à conquista do Mundial-2026.

Mas seria provavelmente vantajoso que Neves e Vitinha jogassem juntos... no meio-campo. Não sei se Roberto Martínez ficou escaldado com o desastre de março na Dinamarca (0-1 lisonjeiro na primeira mão dos quartos de final da Liga das Nações), mas na última época foi a única vez em que viu (com Bruno Fernandes também no onze e Bernardo Silva no banco).

Os dois jogadores do PSG também foram titulares no meio-campo na Croácia (1-1), em novembro de 2024, mas em 3x5x2 e num jogo que contava para pouco ou nada. E na final da Liga das Nações, frente à Espanha, Neves e Vitinha foram titulares... mas o primeiro jogou a lateral-direito (e saiu ao intervalo).

E essa experiência do selecionador nacional deixa-me preocupado. Porque ontem, com a lesão de Diogo Dalot, em vez de chamar outro jogador para a direita decidiu convocar Nuno Tavares, lateral-esquerdo. Para o outro corredor ficou apenas com João Cancelo — e João Neves?

É verdade que o antigo médio do Benfica também já fez o lugar em Paris. Mas perder um médio de classe mundial, ainda mais habituado a jogar ao lado de outro médio de classe mundial, para ter alguém que desenrasca como lateral-direito parece-me uma péssima gestão de recursos.

Percebo que entre Rúben Neves, João Neves, Vitinha, Bruno Fernandes e Bernardo Silva não haja lugar para todos no meio-campo (embora Bernardo possa jogar na direita). Mas João Neves a lateral-direito não, obrigado.