JM está com uma aura diferente
«Ele [assessor de comunicação] vai ter um trabalho muito simples porque não quero saber quem escreve bem ou mal sobre mim, não quero saber nada. Vais ter um trabalho facilitado comigo aqui». É José Mourinho depois do jogo com o Aves, que venceu por 3-0. Foi a sua segunda conferência de imprensa desde que voltou a Portugal, para treinar o Benfica, sendo que nessa disse que só queria saber o fundamental.
Noto um Mourinho ponderado (vamos esquecer o pontapé num objeto num dos golos dos encarnados, em jogo não vale), por vezes até hesitante, o que me surpreendeu. Quando a conferência de apresentação demorou meia hora a começar, pensei, meio a brincar, ‘devem estar a colocar o JM no fato de treino para já se ver nas fotos mais tarde’, mas não. Se na primeira foi, como dizia, ponderado, nesta a vitória deu-lhe a aura – como se diz agora – de adiantar até informações não solicitadas, como ter falado com André Villas-Boas e Frederico Varandas depois de dar o sim ao rival de ambos. E mais: até detalhou o plano que tinha como ‘desempregado’, depois de há semanas ter deixado o Fenerbahçe: fazer presenças em estádios de clubes estáveis: esteve no Dragão e até já tinha planeado ir a Alvalade. Duas provas do quanto valoriza FC Porto e Sporting.
É claro que essa franqueza pode incomodar alguns adeptos. Mas será que elogiar o adversário é trair o seu clube? Em tempos de rivalidades inflamadas, ver o treinador do Benfica reconhecer méritos aos maiores pode ser lido como heresia por alguns na Luz, mas esse desassombro talvez seja o que mais precisamos: mais respeito e mais futebol: «Eu não vim para o Benfica para chatear o FC Porto, foi para usufruir do facto de treinar um clube grande (...) não significa que vim para fazer guerra.»
Talvez ainda seja cedo para saber se esta nova aura é duradoura ou apenas parte da persona do rei dos mind-games. Com as devidas distâncias, acaba de vir de uma época na Turquia em que esteve constantemente em guerra com arbitragens e até apertou o nariz ao treinador do Galatasaray.
Por muito que os recentes resultados não sejam os de outros tempos, continua a ser fascinante acompanhar a história de um dos maiores treinadores portugueses de sempre, e que vê a passagem pelo Benfica como isso mesmo, e não um capítulo final, quem sabe a parte de um boomerang de volta aos big-five. E depois aos 80, como disse, voltar a Portugal para a Seleção. Cá estaremos para ver.