Há uma revolução em curso no Real Castilla e o revolucionário é Arbeloa

Há mudanças que se percebem de imediato. Desde que Álvaro Arbeloa assumiu o comando do Real Madrid Castilla no verão de 2025, bastaram umas semanas para confirmar que não se trata apenas de mera alteração de treinador, mas de uma autêntica revolução.

O antigo lateral do Real Madrid e da seleção espanhola chega com uma filosofia clara: transformar o filial merengue numa equipa agressiva, extremamente competitiva e  disciplinada, e alinhada com os valores do clube, sem, no entanto, abdicar da principal missão: preparar jogadores para a equipa-mãe e para o primeiro escalão.

O percurso de Arbeloa é extremamente rico e legitima o desafio. A sua entrada no Castilla coincide com a aposta em Xabi Alonso, antigo colega de balneário, como treinador do Real Madrid, o que reforça, em tese, a ideia dos dois conjuntos como projeto único.

Formado na cantera blanca, integrou o Castilla que ascendeu à Segunda División em 2004/05 e representou depois Liverpool, Real Madrid e a seleção espanhola, ao serviço dos quais conquistou praticamente tudo. A carreira de técnico arrancou em 2020 na formação merengue, onde, ao comando da formação Juvenil A, conquistou o triplete histórico de 2022-23 (Liga, Copa del Rey e Copa de Campeones). Essa experiência deu-lhe maturidade e autoridade.

«Tenho uma enorme ambição e uma grandíssima responsabilidade. Vivi este clube desde dentro, desde as categorias inferiores até à primeira equipa. Agora, ter a oportunidade de treinar a filial é algo muito especial», afirmou na sua primeira entrevista ao canal do clube.

A filosofia de Arbeloa assenta em duas ideias fundamentais: exigência e identidade. Não esconde que talento, por si só, não basta. «Leva-te até certo ponto. O que faz a diferença é o trabalho diário, a fome de melhorar, a constância e o esforço», explicou numa conversa com a Real Madrid TV. Ao mesmo tempo, quer que se veja em campo um Castilla «valente, atrevido e dominador», como destacou numa conversa com jornal As. A ambição traduz-se numa proposta de jogo mais agressiva, com pressão alta, posse proativa e mentalidade ofensiva que obriga os jovens a crescer sob pressão competitiva.

As primeiras semanas de trabalho e os jogos de pré-temporada deram de imediato sinais da mudança. Contra o Valencia Mestalla, filial do conjunto che, por exemplo, mesmo em desvantagem, a equipa manteve as premissas do seu jogo até ao fim. «É bom acostumares-te a lutar até ao último minuto, a ter paciência, a seguir com o teu jogo ainda que estejas a perder», comentou Arbeloa, satisfeito sobretudo com a entrega dos seus pupilos. Essa cultura de luta e de compromisso coletivo, é para o técnico, tão importante como qualquer golo ou vitória.

Outro pilar da revolução é a ligação entre cantera, Castilla e formação principal. Arbeloa conhece bem os jogadores que agora dirige, muitos deles formados por si na equipa Juvenil A. Essa continuidade permite acelerar processos e criar uma linguagem comum. «Levo cinco anos na cantera e sei qual deve ser a relação do Castilla com a primeira equipa e com a Juvenil A. Para mim, é fundamental respeitar essa linha de trabalho», explicou. A ideia é simples: formar com exigência para que a transição ao plantel principal seja natural e eficaz.

Os desafios, porém, não são pequenos. A Primera Federación (terceiro escalão) é uma liga dura, com equipas experientes e fisicamente muito exigentes. O Castilla enfrenta a pressão de resultados imediatos, mas também a missão de continuar a lançar jogadores. O equilíbrio entre competir e formar é frágil, e Arbeloa terá de gerir expectativas dentro e fora do clube. Ainda assim, o próprio acredita estar no «momento ideal para enfrentar um desafio como este», como disse em entrevista ao Mundo Deportivo.

Os sinais são claros: o Castilla já apresenta uma mentalidade distinta, mais combativa, e os jogadores reconhecem na voz do treinador alguém que fala com autoridade e conhece o que significa ser madridista. Se conseguir aliar essa exigência a resultados consistentes, a filial poderá não só aproximar-se da tão desejada subida à Segunda División, como também consolidar-se como plataforma fiável de lançamento de talentos.

Todavia, a revolução de Arbeloa não se esgota no balneário ou no campo. O antigo lateral expandiu o seu raio de ação a todos os detalhes que rodeiam o Castilla. No centro de treinos de Valdebebas destacam a forma como se envolve com áreas que até agora pareciam fora das suas competências: da jardinagem à gestão de sócios, passando pelo marketing, redes sociais e até pela experiência dos adeptos no estádio Alfredo Di Stéfano. Arbeloa quer impulsionar a marca Castilla, aumentar a visibilidade do emblema e aproximá-lo dos adeptos, potenciando a sua presença digital e ampliando o protagonismo nas plataformas oficiais.

A internacionalização também faz parte da estratégia. O Castilla participa, pela primeira vez, na Premier League International Cup, medindo forças com algumas das melhores academias inglesas em estádios de primeira categoria, com transmissão em direto pela Real Madrid TV. É uma forma de compensar a ausência de direitos televisivos dos jogos caseiros na liga e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens um palco de altíssimo nível competitivo.

Outro dos sinais desta nova era é a aposta nas novas tecnologias. Arbeloa liderou a introdução de drones nos treinos e jogos para analisar posicionamentos e dinâmicas coletivas. É também um utilizador ativo de dados estatísticos, que considera uma ferramenta indispensável para detetar pontos de melhoria. Ao mesmo tempo, reforçou os protocolos médicos, dando mais relevância à saúde dos jogadores e tentando reduzir ao máximo o impacto das lesões.

A relação com a primeira equipa é outro trunfo. A amizade e sintonia com Xabi Alonso garantem comunicação total e uma integração mais fluida dos canteranos em treinos e convocatórias. A mesma lógica se aplica ao contacto diário com o Real Madrid C e a Juvenil A, criando uma rede coordenada que facilita a progressão de talentos dentro de La Fábrica.

No balneário, Arbeloa soma elogios pela clareza e liderança. Durante a pré-época, abordou individualmente cada jogador para definir cada situação sem rodeios, atitude valorizada até por agentes, que destacaram a honestidade do técnico. Essa proximidade cria um espírito familiar, em que todos se sentem parte ativa, dos mais utilizados aos que jogam menos.

A revolução está em curso no Real Madrid, com Xabi Alonso e Arbeloa, e é total.