Detida médica que receitava Ozempic a falsos diabéticos
Uma médica endocrinologista foi detida esta quarta-feira pela Polícia Judiciária (PJ), sob «suspeita de participar num esquema fraudulento» que consistia na prescrição de receitas de medicamentos para tratamento de diabetes a utentes sem essa doença, tendo como finalidade apenas o emagrecimento.
Graça Vargas foi detida na sua residência no norte do país por suspeitas dos crimes de burla qualificada e de falsidade informática, por alegadamente introduzir dados falsos para que pacientes não diabéticos tivessem comparticipação em medicamentos como Ozempic, Victoza e Trulicity, visando apenas perda de peso.
A comparticipação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para esta medicação pode chegar aos 95 por cento, caso se tratem de doentes diabéticos, «pelo que ao prescrever estes medicamentos a pessoas que não padecem da doença, através de introdução de dados falsos no software de prescrição», permitiu esse benefício para outros fins, provocando «um prejuízo ao Estado Português que poderá ascender cerca de três milhões de euros», segundo a PJ.
A médica em causa registou prescrições pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) em valores superiores a 9,7 milhões de euros — é a maior prescritora a nível nacional, tendo sido responsável por montantes de comparticipação pelo SNS de 5,230,638 euros, fruto de 65 mil embalagens prescritas a 1.914 utentes.
As autoridades acreditam que 57 por cento dos utentes que recorreram a Graça Vargas para poderem ter acesso comparticipado a Ozempic, Victoza e/ou Trulicity não têm mais fármacos ou produtos para a diabetes prescritos.
Uma outra médica, um advogado e uma clínica também estão a ser investigados por envolvimento no referido esquema. As buscas visaram a residência dos principais suspeitos, mas também um escritório de advogados, um estabelecimento de saúde e a sede de duas empresas, em Albufeira e no Funchal, «que tudo leva a crer ser de fachada», assim como «gabinetes de contabilidade em Santa Maria da Feira e Lousada», segundo a PJ.