Galos metem a terceira e assaltam o pódio (crónica)

Gil Vicente dominou o Estoril do início ao fim, venceu por 2-0 e saltou para o terceiro lugar da tabela. Pablo continuou de pé quente, Santi e Luis Esteves geriram a nota artística e o banco de suplentes selou um triunfo que permite a ultrapassagem... do Sporting. Segue-se o Benfica

Este Gil Vicente é um caso sério e o Estoril que o diga. A turma de César Peixoto apresentou-se em casa na melhor versão, com apenas um objetivo em mente: ferir o adversário e conquistar a terceira vitória consecutiva na Liga. A missão foi cumprida e até se ouviram olés no Estádio Cidade de barcelos.

O 4x2x4 apresentado pelos galos sem a bola controlada sufocou a primeira fase de construção estorilista, incapaz de alimentar o ataque, praticamente inexistente na primeira parte.

Santi García juntava-se a Pablo para pressionar e, mesmo com a bola de regresso à posse gilista, manteve-se no último terço... dentro e fora das quatro linhas. O médio espanhol foi o autor de sucessivos lançamentos laterais venosos, que funcionaram à primeira tentativa.

García lançou a confusão na grande área, Boma até afastou, mas Luís Esteves antecipou-se a Rafik Guitane na segunda bola. O criativo franco-argelino chegou tarde ao lance e apenas encontrou a perna do n.º 10 gilista. Carlos Macedo apitou prontamente para a marca de penálti, palco do primeiro golo do jogo.

Pablo teve a responsabilidade de converter o castigo máximo e respondeu com frieza, aos 15'. O avançado brasileiro enganou Robles para cimentar o estatuto de melhor marcador dos gilistas, fazendo o gosto ao pé pela quarta vez esta época.

Pablo emana uma maior maturidade na tomada de decisão esta época, mas falhou a leitura daquele que podia ter sido o bis na partida. Luís Esteves aproveitou o adiantamento da defesa estorilista e descobriu, com uma abettura deliciosa, que se deslumbrou com tamanhas facilidades.

Robles e Ferro afastaram o perigo, mas Ian Cathro estava longe de estar satisfeito face à exibição rubricada pelo Estoril. O técnico escocês percebeu que o meio-campo canarinho estava a ser engolido e decidiu trocar de sistema e fazer uma dupla substituição... antes do intervalo, aos 40'.

Rafik Guitane, autor do único remate estorilista na primeira parte, deu lugar a Patrick de Paula, que reforçou o miolo estorilista e libertou Lominadze e Holsgrove para zonas mais adiantadas no terreno. Tiago Parente foi rendido por Fabrício García, que aumentou o ritmo no corredor esquerdo e colocou Andrew em sentido aos 53'.

O guarda-redes brasileiro voltou a mostrar serviço pouco depois, na candidatura formal do Estoril à conquista de pontos. João Carvalho penteou um livre marcado por Holsgrove, uma das melhores unidades da turma da linha, na direção da baliza, mas esbarrou num muro vestido de amarelo. O esférico até permaneceu na posse do Estoril, mas Ferro, com o primeiro golo na Liga em seis anos à espreita, falhou completamente a rota da bola.

Elimbi, na área contrária, também demonstrou porque é que não joga no setor mais avançado, ao falhar a execução de um remate em zona privilegiada. Apesar de não ter conseguido ampliar a vantagem no marcador mais cedo, o Gil estancou a reação estorilista e aproveitou a profundidade crescente nas costas da defesa para colocar Robles em sentido.

O desejo estorilista de conquistar a primeira vitória fora de casa traduziu-se no maior atrevimento das últimas substituições de Ian Cathro, que terminou a partida com dois pontas de lança e dois defesas centrais em campo. Na lotaria do banco de suplentes, a casa, como é habitual, ganhou.

Gustavo Varela, lançado pelo incansável Santi García, cavalgou pelo corredor direito e entregou a Joelson Fernandes a estreia perfeita ao serviço do Gil. O extremo formado no Sporting atirou o esférico para o poste mais afastado de Robles para carimbar o terceiro triunfo consecutivo dos galos, aos 86'.

O segundo golo espoletou a loucura num Estádio Cidade de Barcelos bem composto, consciente que os galos estavam a segundos de selar um salto para o terceiro lugar, à frente do Sporting (entra em campo na sexta jornada na segunda-feira). Viram-se ondas, ouviram-se olés e concluiu-se que a surpresa veste de vermelho.

O melhor em campo: Santi García (7)
Cansa só de assistir. Na ficha de jogo apareceu como médio centro, mas o espanhol de 24 anos esteve em todo o lado. Sem bola, García condicionou a primeira fase de construção do Estoril, através de uma pressão constante, na mesma linha de Pablo e com o esférico controlado... decidiu a partida. Um dos inúmeros lançamentos laterais efetuados pelo médio espanhol ao longo da partida precipitou o penálti que deu vantagem aos gilistas. As pilhas intermináveis permitiram que lançasse a corrida de Gustavo Varela para o golo da tranquilidade dos galos, marcado por Joelson Fernandes, a quatro minutos do fim

As notas dos jogadores do Gil Vicente: Andrew (7); Zé Carlos (6), Buatu (6), Elimbi (6), Konan (6); Santi García (8), Caseres (6), Luís Esteves (7), Murilo (6), Agustín (5); Pablo (6); Joelson Fernandes (7), Zé Carlos Ferreira (5), Hevertton (5), Bermejo (5), Gustavo Varela (6)

A figura do Estoril: João Carvalho (6)
Um verdadeiro oásis no deserto de ideias canarinho. O criativo luso foi tão mal servido durante a primeira parte, que precisou de recuar até à primeira fase de construção para ter alguma influência no plano ofensivo. Após a saída de Guitane aos 40', deambulou entre o meio-campo e o centro do ataque, onde serviu de segundo avançado no 3x5x2 ensaiado por Cathro. Foi o autor da primeira e única grande oportunidade que o Estoril teve para empatar, mas Andrew travou um invulgar golo de cabeça, aos 56'. Não podia fazer mais

As notas dos jogadores do Estoril: Joel Robles (5); Boma (6), Bacher (5) e Ferro (6); Ricard Sanchez (4), Holsgrove (6), Lominadze (6) e Tiago Parente (4); Guitane (4), Begraoui (4), João Carvalho (6); Fabrício Garcia (6), De Paula (5), Marqués (5), Laxcimicant (-), Pedro Carvalho (-)

Reação de César Peixoto, treinador do Gil Vicente

Primeiro que tudo, quero agradecer aos adeptos, tiveram em grandes número, é mesmo isso que precisamos, criámos uma união fantástica. O clube está a crescer muito e é importante que os adeptos acompanhem este crescimento. Foi um jogo com duas partes distintas, a vitória assenta-nos bem, foi mais um jogo sem sofrer golos. A primeira parte foi completamente controlada por nós, na segunda sabíamos que o Estoril ia ser mais agressivo, mas podíamos ter feito mais golos. Quem está de fora acrescenta muito e fechámos o jogo com golo construído por dois jogadores vindos do banco. Estou muito satisfeito são três pontos, gostamos de continuar como estamos, sem sofrer, a praticar um bom futebol, sabe o que tem de fazer. A peça mais importante é o grupo. A equipa não se deslumbrou pela vitória em Braga (1-0) e fez um jogo muito competitivo e coeso em casa. É uma equipa muito homogénea, seja quem está no banco ou de início

A (dura) reação de Ian Cathro, treinador do Estoril

Não vi a nossa equipa em campo na primeira parte, vi o Estoril normal, dos anos de quando lutava pela manutenção e varia entre a Liga e a Liga 2. Tirando uns anos quando havia boas equipas, esta é a história deste clube e havia sinais desse Estoril na primeira parte. Obviavemnte ão gostei nada. Há coisas que são privadas [conversa com os jogadores ao intervalo] vamos refletir e perceber os porquês e trabalhar, não podemos repetir estes 45 minutos