Futebol gaélico: o desporto que mistura futebol com râguebi e move multidões
Todas as vilas irlandesas têm um clube de jogos gaélicos (ou GAA), desportos com milhares de anos de história e que se podem dividir em dois: o hurling e o futebol gaélico. Mas mais do que um desporto, estes clubes unem comunidades, atravessam gerações e mantêm uma ligação humilde à simples paixão de jogar, porque todos os atletas são amadores.
«Em muitos casos, é o que mantém comunidades juntas, mais do que a igreja ou organizações políticas, o futebol gaélico une todos. É o maior desporto da Irlanda, mais do que o futebol e o râguebi.» Quem o diz, é TJ Farrelly, presidente do clube Scoil Uí Chonaill (tem o nome em gaélico), um dos maiores da modalidade em Dublin.
TJ tem 64 anos e uma ligação a esta casa que começou… quando tinha 10 anos: «É uma vida dedicada ao clube. Comecei como jogador, fiz grandes amizades, conheci aqui a minha mulher, que ela era voluntária. Isto é a minha vida», conta, com um pequeno tremor de emoção na voz.
Afinal, o que é futebol gaélico?
Nada como pedir ao próprio TJ como se joga este estranho desporto, que incorpora uma baliza de futebol debaixo de uns postes de râguebi.
«O futebol gaélico é jogado com 15 atletas por equipa: um guarda-redes, seis defesas, dois médios e seis avançados, num campo de cerca de 140metros por 120 metros. A bola pode ser manuseada e chutada, e os pontos variam conforme a baliza: um ponto se passa por cima da trave, três se entrar na baliza.»
Amadorismo
Na Irlanda, o râguebi é associado ao jogo das classes mais altas. Em contrapartida, o futebol gaélico mantém-se orgulhosamente amador, o que não deixa de proporcionar espetáculos que movem milhares de pessoas.
«Os jogadores são amadores, mas no maior jogo do ano, em Croke Park [em Dublin], atuam perante mais de 80 mil pessoas. Jogam no domingo, jantam juntos, depois voltam a sua casa e no dia seguinte voltam para os respetivos trabalhos», conta TJ com um sorriso.
O Scoil Uí Chonaill é um exemplo de como se cria uma ligação e sentimento de pertença à comunidade em que está inserido: «Em 2025 celebramos 75 anos da nossa fundação. Nós temos 140 voluntários e 750 sócios. Somos autofinanciados, através de patrocínios e das quotas anuais dos sócios.»
«Todos são bem-vindos»
É uma «regra não escrita, mas sagrada», explica TJ: os jogos gaélicos são para todos. «Nós temos 35 nacionalidades diferentes de crianças que vivem na Irlanda e vêm cá para aprenderem as regras dos jogos. Até temos brasileiros a aprenderem o jogo. Damos-lhes a oportunidade de treinarem connosco.»
E também há uma família portuguesa que já se rendeu aos jogos gaélicos: «Temos uma sim, no nosso clube. Vieram para a Irlanda há 10, 15 anos. A filha mais nova joga muito e eles vão a todos os jogos, a mãe até traz um cachecol. Eu sei que quando vão a Portugal no verão, o pai já me disse que a filha não queria ir, porque tinha saudades de jogar.»
A BOLA tentou contactar esta família, mas não teve resposta até à publicação deste texto.
É esta dimensão comunitária dos jogos gaélicos que o torna tão populares e que não os fazem cingir às fronteiras irlandesas. «Há clubes em Minneapolis, no Dubai, em Bruxelas ou Sydney», conta TJ, claramente feliz e orgulhoso por fazer parte do clube Scoil Uí Chonaill há mais de cinco décadas.
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