Fim da Era Farioli no Ajax: o filósofo que surpreendeu Amesterdão mas ficou aquém

Foi durante a Noite da Filosofia, em Amesterdão, que Francesco Farioli marcou presença. Declarou que considerava idiota a discussão em torno do estilo de jogo do Ajax. Esta foi, talvez, a principal discussão do ano no clube campeão. Afinal, o conhecido futebol do Ajax esteve ausente esta época em Amesterdão.

Em vez de um futebol criativo e atraente, viu-se um futebol pragmático, focado no resultado. Farioli ainda não compreende a razão da insatisfação. «Se houver a possibilidade de escolher entre um futebol atraente ou ganhar tudo, todos escolherão a segunda opção», afirmou no palco.

Esta segunda-feira, depois de perdido o título para o PSV, o treinador e o clube anunciaram a sua saída.

Duas coisas marcaram Farioli esta temporada: a sua gestão de substituições e o estilo de jogo. Mas isso não perturba o extravagante treinador do Ajax. Chegou ao clube com um plano e manteve-se fiel a ele. Mesmo sob pressão, quando todos criticavam as suas decisões, ignorou as críticas e prosseguiu. Concorde-se ou não com o seu estilo e ideias, a sua determinação é admirável para um treinador jovem, de 34 anos. Além disso, trouxe resultados.

O italiano destacou-se nos Países Baixos. Com o seu corte de cabelo moderno e impecável, barba sempre aparada e formação em filosofia, chamou imediatamente a atenção. Rapidamente, tornou-se evidente o seu perfil workaholic e as suas ideias originais. Fã de Johan Cruijff e Louis van Gaal, estudou a fundo a história do Ajax.

Implementou rapidamente medidas notáveis. A sua gestão de substituições gerou muitas críticas. O jogo do Ajax era inconsistente, faltavam automatismos e os resultados eram irregulares. Farioli persistiu, mas viu-se obrigado a ceder no Inverno. Começou a fazer menos substituições e o Ajax alcançou uma série notável de treze jogos sem perder.

Farioli percebeu o que precisava de ser feito no Ajax: melhorar a condição física, criar um verdadeiro espírito de equipa e incutir um forte sentido de união entre os jogadores. O filósofo conseguiu melhorar os três aspetos, recorrendo a métodos pouco ortodoxos. A gestão de substituições contribuiu para a melhoria da condição física dos jogadores, embora por vezes quase lhe tivesse custado pontos. Foi preciso alguma sorte.

Farioli cometeu um erro crasso em Frankfurt, em março. Com tudo ainda em jogo, o Ajax deslocou-se a Frankfurt para o playoff da Liga Europa com uma equipa totalmente composta por jogadores reservas. Farioli praticamente entregou a eliminatória antes do apito inicial. A Liga Europa já não era prioridade, apenas a Eredivisie importava. É uma nódoa na temporada do Ajax que ficará na memória por muito tempo.

No entanto, a forma como Farioli construiu uma equipa disposta a lutar pelo Ajax é de louvar. Pode ter parecido teatral, mas aparentemente funcionou. Levou os jogadores ao Museu para conhecerem a história do clube, incentivou discursos motivacionais antes dos jogos e não hesitou em usar metáforas para os manter focados.

Restaurou o Muro da Fama nas catacumbas e nunca se esqueceu de mencionar as lendas do Ajax. Sabe o que dizer e quando o dizer. Esteve também frequentemente presente nas redes sociais do Ajax, algo que outros treinadores evitariam, por poder ser visto como vaidoso ou desnecessário.

Uma das consequências foi tornar o treinador e os jogadores mais acessíveis aos adeptos. Isso reaproximou os adeptos, descontentes após a época anterior, do plantel, que se mantinha praticamente inalterado. Foi também, indiretamente, a razão pela qual o mau futebol, ainda que vitorioso, foi aceite pelos adeptos.

Farioli superou as expectativas no Ajax. Ninguém apostava neles no início da temporada. A direção queria avaliar se seria uma boa aposta a longo prazo. Prometeu recuperar o verdadeiro futebol do Ajax, mas não o conseguiu fazer esta época. Demonstrou ser um profissional competente e um bom treinador, mas o seu estilo não se adequou aos ajacied.

O treinador e o Ajax procuram agora um novo desafio.