Felicidade e ansiedade
OS sócios e adeptos do Sporting, nos quais me incluo, vivem um momento de felicidade e, simultaneamente, de ansiedade. Felicidade que não se confunde com euforia, tal como na época passada nunca confundimos a esperança e a confiança, antes conseguimos controlar a ansiedade e pensar o jogo a jogo como a forma mais eficaz para obter o sucesso! Felicidade, neste início de época, também se não confunde com euforia, muito menos com falta de consciência de que esta mesma época vai ser muito mais difícil, porque, se as manobras nos bastidores e às claras foram mais que muitas na época de 2020/2021, mas começaram quando o Sporting já ia embalado, esta época, ainda estamos à segunda jornada, e já tivemos uma pequena amostra de como o sistema vai funcionar.
Mas enquanto vivemos esta felicidade causada pela continuidade das boas exibições da equipa de futebol, aliás cirurgicamente reforçada, vivemos simultaneamente numa ansiedade face às noticias constantes da comunicação social sobre a venda dos nossos principais jogadores, independentemente de para mim, o Sporting ter um colectivo tão forte que, para mim, todos são principais jogadores.
Tenho para mim que o Sporting se tem de se focar na conquista da ora Liga Bwin, ou seja, deve apostar fundamentalmente em ser bicampeão, isto é, manter a posição conquistada de uma forma sustentável, dando tempo a que o projecto de Rúben Amorim se consolide. Para isto, parece-me que o Sporting deve fazer um sacrifício para manter tanto quanto possível o plantel actual, dando tempo a que Rúben para preparar a substituição dos jogadores mais procurados por outros da nossa formação ou encontrados no mercado interno. Se a equipa for muito desmantelada - o que não me parece ser o objetivo de quem gere - o projecto pode ficar em causa, passando os associados e adeptos da ansiedade para a depressão.
Sei que é difícil controlar a ansiedade em que vamos permanecer até 31 de Agosto próximo. Mas tenhamos em consideração que é mais importante manter os jogadores do que comprar jogadores. Tenhamos em consideração que temos um projecto e um rumo, e que esse projecto e esse rumo do ponto de vista desportivo não pode sofrer desvios, muito menos abandono, por falta de tesouraria. Compete-nos encontrar o caminho da sustentabilidade do rumo e do projecto. Também aqui, para onde vai um têm de ir todos.
A FACE DE JESUS
NÃO sei, nem tenho elementos de apreciação suficientes, para estabelecer uma comparação entre o treinador Jorge Jesus que treinou o Benfica durante seis anos, o Sporting durante três e o Flamengo durante meses e Jorge Jesus que treinou o Benfica na época transacta, sem qualquer conquista, e ainda a treina neste começo da segunda época do seu contrato. Por isso, não me pronuncio, deixando essa análise para quem tenha nível para isso. Porém, do ponto de vista do homem, acho que Jesus está um homem diferente, que aliás se reflecte no exercício das suas funções, quanto mais não seja ao nível do discurso, e não me estou a referir ao estilo de linguagem, como é evidente!
E, na minha opinião, tudo começou com o acordo na acção que lhe moveu o Benfica sem qualquer justificação ou, pelo menos, uma explicação aos adeptos e sócios do Sporting (e às pessoas em geral) que o defenderam incondicionalmente dos ataques mais miseráveis que alguma vez foram dirigidos a um treinador, entre os quais se incluiu uma acusação de roubo. Acho que o Jorge Jesus que conheci durante muitos anos iniciou com essa posição uma mudança de personalidade. Jesus Nazareno deu a outra face; o Jesus da Amadora perdeu a face e voltaria a perdê-la no momento em que regressou ao seio de quem o insultou!...
E regressou um pouco arrogante a começar pelo objectivo de jogar o triplo e arrasar a concorrência, embora tivesse, por outro lado, um discurso pré-justificativo do insucesso que logo começaria com a derrota frente ao PAOK, treinado por aquele que também haveria de conquistar a Taça dos Libertadores, isto é, Abel Ferreira, mas ao serviço do Palmeiras: o Benfica que havia deixado há uns anos tinha melhorado em tudo desde as estruturas humanas às estruturas materiais, faltado apenas bons jogadores, num recado ao balneário que deve ter ficado com as orelhas a arder! E a arder deve ter ficado de novo quando foram acusados de falta de classe que João Mário colmatou!
Jorge Jesus tem destas: nem sempre acerta no conceito de classe, e, por isso, não dá oportunidades a jogadores de classe mundial, como são os casos de Bernardo Silva e Palhinha!
Mas o que se passou na quarta-feira passada após o jogo com o PSV, em minha opinião, excede tudo e mostra um Jorge Jesus desorientado e teimoso em não reconhecer, contra a opinião de toda gente (excepto uma), a grande exibição de Vlachodimos, que evitou a derrota do Benfica e um novo insucesso no acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões! Compreende-se o incómodo de ter de admitir que o guarda-redes que afastou na época passada da titularidade foi o grande responsável pela vitória no encontro e quiçá na eliminatória.
Por tudo o que disse - e mais poderia dizer - tenho de concluir que o treinador antes crucificado, e por Vieira ressuscitado, pode ir a caminho de novo calvário.
CORPORATIVOS E PATRIOTEIROS
JÁ tenho dito e escrito várias vezes - e não me vou cansar de o repetir - que a arbitragem portuguesa não vai evoluir enquanto o Conselho de Arbitragem for dominado pelo organismo de classe Associação Portuguesa dos Árbitros de Futebol. É um dos abcessos do sistema concebido aliás para proteger uns e prejudicar outros. É uma questão que nos devia envergonhar, e devia envergonhar os chamados homens do futebol, porque isto não tem nada a ver enquanto desporto, mas tão somente com jogos de poder. Enquanto for assim, continuará a haver bons jogadores e bons treinadores por esse mundo fora, enquanto a arbitragem se mantém num registo de mediocridade.
E como se isto não bastasse, ainda por cima os analistas e comentadores da arbitragem, são antigos árbitros que, salvo raríssimas excepções, foram tão maus ou piores que os actuais, designadamente, têm registos semelhantes quanto à falta de isenção. E assim, em vez de analisarem e comentarem construtivamente as arbitragens, branqueiam de uma forma descarada os erros, com as mais diversas desculpas, numa manifestação de corporativismo bafiento. E em vez de apontarem exemplos vindos de fora, desvalorizam-nos com uma patriotice bacoca!
E se já nada me admira nos comentários sobre a arbitragem, no que respeita à falta de imparcialidade, que só tem paralelo nas próprias arbitragens analisadas e comentadas, acho que a análise das arbitragens do jogo SC Braga-Sporting e Benfica-PSV, postas em confronto, excedem tudo o que é admissível por qualquer inteligência mediana.
Diz Duarte Gomes, ex-árbitro, que a arbitragem de Luís Godinho em Braga foi um «trabalho positivo» e a de no jogo do Benfica-PSV foi razoável. Li e não acreditei, a tal ponto que esfreguei os olhos e depois estive quase meia hora a limpar os óculos.!...
É evidente que o trabalho positivo é o ponto de vista de Duarte Gomes, já que do ponto de vista dos objetivos de Luís Godinho - o Sporting não ganhar - a arbitragem foi negativa, pois não atingiu, em minha profunda convicção, o seu desiderato!
Escreveu aquele analista que a nota de razoável da arbitragem de Felix Brych se ficou a dever ao facto de embora a primeira parte ser de «muito bom nível», na segunda parte, não conseguiu antecipar lances e evitar que algumas infracções acontecessem. Francamente, não consigo perceber qual árbitro português que faz isso a não ser que se refira àqueles que antecipam as infracções de Palhinha na ânsia premeditada de lhe mostrar um cartão amarelo.
Mais grave é classificação de positiva a arbitragem de Luís Godinho, numa visão manifestamente corporativa que omite duas agressões do mesmo jogador do Sporting de Braga, praticadas diante, não das barbas, mas da careca. Não se percebe uma nota positiva para uma arbitragem manifestamente tendenciosa, com aliás é seu hábito nos jogos do Sporting!