Falem menos e joguem mais!
A frase do título é uma adaptação da declaração ontem proferida pelo presidente da Ferrari na direção dos dois pilotos da scuderia Lewis Hamilton e Charles Leclerc: «Falem menos e conduzam mais!». Uma expressão, esta de John Elkann, que, de imediato, me transportou para o lamaçal em que está transformado o futebol português, por conta de polémicas constantes em torno das arbitragens que, bem espremidas, mais não são do que areia para os olhos — ou maquilhagem barata que tenta disfarçar o indisfarçável. Os tiros vêm de todos os lados e são disparados numa só direção: os árbitros.
Os comunicados sucedem-se semana após semana, as declarações chegam incessantes, ora antes dos jogos, ora depois. Quem ouça os indignados — e eles tanto podem ser altas instâncias do Benfica, do FC Porto, do Sporting ou de qualquer outro clube português — até poderia pensar que vivemos num País de elevadíssima exigência com os profissionais desta ou daquela indústria. Porém, essa exigência só existe (uma vez mais) numa direção: a dos árbitros.
É o modelo de retórica há muito descoberto — e, por isso, já sem segredos — e cuja intenção é somente uma: criar o máximo de ruído em torno de determinados lances e decisões de quem é juiz nos jogos de modo a (lá está!) disfarçar o indisfarçável.
E, no caso do Benfica, que este domingo reuniu o seu exército no ataque às arbitragens do Santa Clara-Sporting e do Benfica-Casa Pia, é indesfarçável que a exigência no sentido dos homens do apito não existe, de todo, internamente.
Ou os zero pontos em quatro jogos na UEFA Champions League são culpa dos árbitros? Ou o futebol frágil e os erros individuais também são culpa dos árbitros? Ou os 130 milhões de investimento no plantel no último verão com resultados muito aquém na prática também são culpa dos árbitros? Ou, por fim, também é culpa dos árbitros o facto de, ao fim de 11 jogos na era-Mourinho, o Benfica não ter melhorias visíveis em relação à era-Lage?
O resultado deste tipo de estratégia nunca foi bom; e não creio que seja agora que trará bons resultados. É que, enquanto se vai sacodindo a água do capote, os problemas internos ficam por resolver. E, por mais que às vezes tenhamos razão, nunca é culpando o mundo inteiro pela nossa desgraça — ao invés de nos dedicarmos a uma autoavaliação profunda e honesta — que a tempestade se transforma em bonança. Muito menos quando os telhados são de vidro em todos os edifícios do futebol português.
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