Candidato à presidência da Mesa da Assembleia Geral pelo Movimento Servir o Benfica pronto para trabalhar com qualquer nome

«Estas eleições do Benfica terão de ser imaculadas»

João Leite é candidato à presidência da Mesa da Assembleia Geral pelo Movimento Servir o Benfica e não esquece a desconfiança em torno do sufrágio de 2020, quando Luís Filipe Vieira derrotou João Noronha Lopes

Advogado, 49 anos. João Leite é candidato, em exclusivo, à presidência da Mesa da Assembleia Geral (MAG), proposto pelo Movimento Servir o Benfica. É uma candidatua histórica, só possível à luz dos novos estatutos, que ajudou a nascer e conhece como poucos.

— Quem é João Leite e qual a razão desta candidatura?

— Sou, antes de mais, sócio do Benfica há 41 anos. É a melhor forma de apresentar-me. E candidato-me à presidência da MAG porque acreditamos, eu e as pessoas que me acompanham, que temos oportunidade única para fazer jus ao movimento, que é servir o Benfica. É uma candidatura que, em primeiro lugar, vai servir o Benfica por diversas razões. Serve o associativismo, que é uma das bandeiras do nosso movimento. E numa altura em que temos tantos candidatos à presidência do clube, que legitimamente centram muito as suas propostas de campanha naquilo que é a gestão desportiva. Queremos alertar e debater temas relacionados com associativismo e participação dos sócios no clube. E consideramos que esta candidatura, só pelo facto de existir, reforçará poderes e legitimidade do próximo presidente da MAG, independentemente de quem venha a ser eleito. Portanto, isto também é um convite a que os candidatos à presidência da MAG associados a listas completas dêem a sua perspetiva e assumam a sua própria legitimidade, não colada aos candidatos à presidência da Direção.

— Acompanhou a revisão estatutária. O que melhorou ou terá ficado pior com o novo documento?

— A revisão estatutária trouxe, na minha opinião, três alterações muito importantes. Em primeiro lugar, o reforço do papel do clube e dos poderes do clube face à SAD e às entidades por si participadas. Em segundo lugar, trouxe mais democracia ao clube e isto divide-se em três grandes momentos ou questões: a forte restrição, praticamente a abolição, do voto eletrónico; a segunda volta caso nenhum candidato tenha 50% dos votos e a questão das listas separadas pelos órgãos; e em terceiro lugar, muito importante, a questão da identidade do clube. O respeito e a preservação do nosso emblema e dos equipamentos.

— Tocou no ponto da democracia. Um dia, Luís Filipe Vieira afirmou que havia democracia a mais no Benfica. Não será esta revisão estatutária também uma resposta?

— Recordo-me perfeitamente dessas declarações, foram proferidas no último ato eleitoral, quando o Sr. Luís Filipe Vieira já não era candidato. Eu, na altura, era mandatário da candidatura de Francisco Benitez, também pelo Servir o Benfica. Provavelmente não queria dizer exatamente aquilo daquela forma, mas, obviamente, a revisão estatutária não tem nada a ver, não há uma resposta a ninguém em especial, pelo menos eu nunca vi o processo dessa forma. É uma resposta à necessidade do clube, que se quer modernizar e estar cada vez mais forte. Aliás, a adesão dos sócios foi inequívoca, foi votada por mais de 8 mil sócios, penso que não há paralelo em Portugal e, provavelmente, noutros clubes internacionalmente. 8 mil sócios que vão pronunciar-se sobre a revisão dos estatutos do seu clube.

— Têm sido muitas, e quentes, as assembleias gerais do Benfica. Há o exemplo de Luís Filipe Vieira a apertar o pescoço a um sócio e também as cadeiras atiradas à MAG. Que pensa destes episódios?

— É verdade que temos episódios em que as assembleias aquecem, para usar a sua expressão, mas eu prefiro concentrar-me nas últimas assembleias, muitíssimo participadas. E não vi nada disso. Em situações fora do controlo, ou um bocadinho mais agitadas, qualquer presidente tem o poder de suspender os trabalhos, até de terminá-los, de chamar forças de segurança, de apelar à calma, e penso que também por isso é necessário que hoje em dia um presidente da MAG tenha um reforço de legitimidade própria, para também poder apelar à calma dos sócios.

— O presidente da MAG também é um árbitro. Será o momento da história do clube, tendo em conta os novos estatutos, em que esse árbitro tem mais responsabilidade?

— A revisão estatutária trouxe exigências adicionais à MAG. Não o vejo tanto na expressão do árbitro, pois os próprios estatutos definem a MAG como o órgão supremo do Benfica. Mais do que um árbitro, a MAG e o seu presidente têm de ser vistos e atuar como um porto seguro dos sócios. Mais do que um árbitro, é aquele que defende o associativismo, a participação e a defesa dos seus direitos. Assegurar que as demais entidades envolvidas no universo Benfica cumprem as regras que lhes estão atribuídas por lei e pelos estatutos e não as ultrapassem.

— Não sendo um candidato à Direção — não vai prometer treinador, diretor desportivo ou reforços —, o que tem para oferecer?

— O passado do Servir o Benfica, a revisão estatutária não foi obviamente um trabalho só do Servir o Benfica, de todo, mas também não podemos esconder que este movimento teve um papel determinante. Foi este movimento que lançou o tema para cima da mesa ainda em 2020. A seguir às eleições, apresentámos a primeira proposta de revisão, o assunto foi colocado na agenda e passados cinco anos todos os sócios tiveram a oportunidade de debater e discuti-lo. Com a revisão estatutária, está prevista a realização de mais uma assembleia geral ordinária, para discutir e debater a época desportiva do clube, que também é uma inovação. Coloco a questão: não pode o Benfica realizar esta assembleia geral noutro local que não Lisboa? Sendo um clube nacional, no norte ou no sul, por exemplo. É uma das questões que gostaria de levar à discussão, não é impor nada. Outro exemplo é uma proposta já submetida pelo Servir o Benfica em 2020, mas que acabou por não ser expressamente acolhida no processo de revisão: a participação de sócios que não vivem e não se podem deslocar a Lisboa. Poderem assistir às assembleias gerais, por exemplo via streaming. Levar a informação aos sócios, que com as suas credenciais possam registar-se numa plataforma gerida pelo Benfica. É algo, para nós, sagrado e podem ter a certeza que, sendo eleitos, é um tema que levaremos a discussão e debate.

— Há, ou não, risco real de cada assembleia geral de apresentação de contas no Benfica poder desencadear um processo de queda de direções e realização de eleições?

— Havendo a regra, o risco existe sempre. Mas não é inovadora. O Benfica teve essa regra muitos anos e não se tornou menor ou não deixou de ser grande por ter uma regra dessas. Confio no bom senso dos sócios e isto também aumenta a responsabilidade dos sócios quando são debatidas e votadas essas matérias. Mas também aumenta a responsabilidade de quem está à frente do Benfica, que tem de perceber que o Benfica é um clube desportivo e que o seu objeto social principal é a prática do desporto e vencer competições. Também exigirá que se foquem naquilo que realmente interessa aos sócios. Não me preocupa e acho que não deve preocupar ninguém, devemos confiar no bom senso dos sócios. A regra esteve suspensa, só voltou a ser reintroduzida.

— Aceitará trabalhar com qualquer candidato à Direção?

— Com qualquer candidato que seja eleito. Aliás, foi muito importante para a nossa candidatura: não procurámos o apoio de rigorosamente ninguém. Era fundamental que a candidatura fosse independente desde o dia zero. O Movimento Servir o Benfica não está a apresentar qualquer candidato à Direção, mas apenas à presidência da MAG. Foi também uma das razões para ter aceite o desafio. Trabalharei com todos, é o que os sócios vão exigir. Ninguém vota num candidato para trabalhar só com dois ou três.

Enquanto candidato, não. Aquilo que posso prometer é que vou ser leal a qualquer presidente que seja eleito, porque os estatutos assim o exigem, o benfiquismo assim o exige e até a própria lei exige essa cooperação institucional entre órgãos. O que vai ser diferente é que não vou ser subserviente a nenhum deles

— Identifica-se com alguém?

— Enquanto candidato, não. Aquilo que posso prometer é que vou ser leal a qualquer presidente que seja eleito, porque os estatutos assim o exigem, o benfiquismo assim o exige e até a própria lei exige essa cooperação institucional entre órgãos. O que vai ser diferente é que não vou ser subserviente a nenhum deles.

— Como avalia o trabalho de Rui Costa na presidência do Benfica?

— Desportivamente, acho que o mandato do presidente Rui Costa foi um desastre. Naquilo que são as questões da democracia e transparência, que também eram bandeiras da candidatura derrotada, penso que houve, ainda assim, melhorias. É verdade que partimos de uma base muito baixa, mas há méritos deste mandato. E a revisão estatutária. Sem o apoio e a colaboração da Direção também não teria sido possível, temos de admiti-lo, deu-nos essa abertura. O presidente, pessoalmente, de vez em quando e de forma demasiado discreta, mas a verdade é que este processo também merece e justifica elogios ao presidente Rui Costa. E, na questão da democracia, hoje em dia as assembleias são mais participadas, porque o presidente não deixa de dar a cara, mesmo nos momentos mais complicados, pelo menos em sede de assembleia geral. Faço a divisão entre mandato desportivo, que foi um desastre, e a relação com os sócios. Sobretudo a revisão estatutária, é um ponto positivo do seu mandato.

Mas o seu maior desafio está para vir, que é a organização do próximo ato eleitoral. E, sobretudo, o atual presidente, ou qualquer outro que estivesse no seu lugar, não pode arriscar acontecimentos sequer parecidos com aquilo que tivemos em 2020. Para bem do Benfica, também para o bem do próprio Dr. Pereira da Costa, tem de ser um processo imaculado. E ele vai precisar de ajuda, inclusivamente de todos os candidatos

— E quanto a José Pereira da Costa, o atual presidente da MAG?

— Tenho a maior estima e consideração. Assumiu a presidência em circunstâncias únicas e desempenhou-a de forma muito boa, muito positiva. Foi aplaudido de pé no dia em que tudo sucedeu e eu fui um dos que o aplaudiram de pé. Para mim seria fácil, provavelmente até tentador, dizer isto e aquilo do atual presidente, mas não vou fazê-lo porque não é a minha convicção. Na revisão estatutária, teve um papel importante, foi muito difícil e cumpriu com distinção. Mas o seu maior desafio está para vir, que é a organização do próximo ato eleitoral. E, sobretudo, o atual presidente, ou qualquer outro que estivesse no seu lugar, não pode arriscar acontecimentos sequer parecidos com aquilo que tivemos em 2020. Para bem do Benfica, também para o bem do próprio Dr. Pereira da Costa, tem de ser um processo imaculado. E ele vai precisar de ajuda, inclusivamente de todos os candidatos.

— Acredita que todos os sócios do Benfica irão compreender uma candidatura em moldes tão diferentes?

— Estou perfeitamente convencido que sim, que vão compreender. O sócio do Benfica é uma pessoa informada, é uma pessoa conhecedora. O processo de revisão estatutária foi muito participado, os sócios sabem exatamente o que é que está em causa. Percebo que poderá fazer confusão agora, quando forem votar, pois vão ter três boletins, mas temos de começar por algum lado.

— Irá garantidamente até ao fim?

— Sim, até ao fim, a não ser que haja uma desgraça. Mas taticismo ou acordos com outras listas… posso garantir que isso não vai suceder. Temos muito para dar ao Benfica com as nossas propostas e, sobretudo, para contribuir e fomentar que outros candidatos a este órgão também dêem a cara e adquiram a sua própria legitimidade. No final do dia quem sai a ganhar é o Benfica. Não há razão alguma para abandonar , é para ir até ao fim.