Longe da vista, perto do coração
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Fui convidado pelo André Coelho Lima a participar neste espaço dedicado ao meu Vitória, o que faço com todo o gosto porque se o Vitória é uma realidade que todos os vimaranenses vivem com imensa paixão, imagine-se para um vimaranense que por força das suas opções de vida e da sua carreira profissional acompanhou o seu clube a muito maior distância do que poderia desejar. É sobretudo essa perspetiva que vou procurar partilhar, com alguns pensamentos e experiências da minha forma muito especial de viver o Vitória.
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A carreira que consegui construir assentou em muito esforço e sacrifício pessoal. Na perseguição do meu sonho de me poder vir a tornar profissional de ténis, saí de Guimarães muito cedo — com apenas 15 anos —, deixando a minha casa e a minha família, tendo ido viver sozinho para Barcelona, onde apostei tudo na minha carreira. Mas nunca deixei as minhas raízes vimaranenses e vitorianas.
Continuei a seguir de perto o Vitória através das plataformas que na altura existiam e sempre em contacto com o meu irmão. Passávamos longas horas e trocar opiniões sobre os jogos, quando corriam bem, quando corriam menos bem, mas sempre a acompanhar o nosso clube; e o meu irmão a fazer um esforço por me fazer sentir mais próximo.
Bem mais tarde e tendo já a carreira que acabei por conseguir construir, recordo-me perfeitamente de jantar muitas vezes com o computador à minha frente, em várias partes do Mundo, para poder acompanhar os jogos do Vitória. Lembro-me de acordar cedo na Austrália e a primeira coisa que ia fazer (dada a diferença horária os jogos do Vitória do dia anterior já tinham acabado) era ir ao live score ver o resultado final do jogo e de o comentar com o meu treinador, Frederico Marques.
Falando no Frederico Marques, benfiquista ferrenho, é impossível esquecer o dia em que acompanhámos juntos, em Paris, a final da Taça de Portugal que o Vitória venceu precisamente ao Benfica… Como é fácil de imaginar, eu vibrei como nunca e o Frederico não ficou assim tão satisfeito…
São imensas as memórias relacionadas com o Vitória, particularmente para quem o viveu tão à distância como sucedeu comigo.
Queria aproveitar esta minha vivência do Vitória à distância para partilhar este sentimento com tantos emigrantes portugueses, adeptos do Vitória, mas também de outros clubes, que como eu se viram obrigados por força das suas opções de vida a acompanhar à distância uma realidade de que tanto gostam. Nisso eu não sou diferente dos demais, fui apenas mais um que fui à procura de um sonho ou apenas de uma nova oportunidade. Por isso, sei muito bem o sentimento de tanta gente que vive fora do nosso País e que eu queria integrar nesta minha partilha.
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Mas há algo mais que queria também assinalar. Apesar de, infelizmente, nem sempre os meios de comunicação social tratarem os outros clubes, para além dos três grandes, com a atenção, com a importância e até com o carinho que estes mereciam — e que o desporto exigia —, queria reforçar que ao longo da minha carreira fiz sempre questão de não apenas assumir como sobretudo afirmar o meu vitorianismo. Foi por isso que no primeiro torneio ATP vencido por um tenista português na história da modalidade, fiz questão de levar comigo o cachecol do Vitória, afirmando o meu orgulho nas minhas raízes e no meu clube.
Não só o fiz no primeiro, como no segundo, como no terceiro, o que dá esta coincidência engraçada de em todos os torneios internacionais de ténis vencidos por um tenista português estar sempre, a acompanhá-lo, um cachecol do Vitória de Guimarães.
Este espaço chama-se 'Sentido de Pertença' e é mesmo disso que se trata, porque é dessa forma que os vimaranenses e vitorianos vivem o seu clube. E eu não sou diferente dos demais.
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Queria terminar com um apelo, ao meu clube e aos demais, para que apostem no ecletismo para permitir aos jovens de tantas comunidades do nosso País poderem exibir o seu talento e, quem sabe, poderem alguns deles atingir uma carreira profissional em qualquer modalidade.
Tenho orgulho na carreira que construí, tenho orgulho na representação que sempre procurei fazer do meu país, e da minha cidade, mas queria realçar que tudo o que conquistei foi assente em muito sacrifício, em abdicar de muita coisa, em me concentrar na possibilidade que tinha de poder atingir o meu sonho.
Nunca pretendi homenagens nem reconhecimentos, tudo o que fiz pelo meu clube fi-lo por convicção, mas, se algum exemplo eu posso representar, ao meu clube e aos jovens praticantes de todas as modalidades, é que nunca desistam dos vossos sonhos, que se sintam capazes de atingir as coisas mais grandiosas porque, às tantas, podem mesmo consegui -lo.