Era uma vez na América — tudo o que o Benfica viveu nos EUA
TAMPA — O Benfica terminou a participação no primeiro Mundial de Clubes com derrota frente ao Chelsea (1-4), no prolongamento dos oitavos de final, depois de ter passado a fase de grupos com empate com Boca Juniors (2-2) e vitórias frente a Auckland City (6-0) e a Bayern (1-0).
O triunfo sobre o Bayern, o primeiro em 14 confrontos com os alemães, deu brilho à campanha nos Estados Unidos e permitiu aos encarnados atingir o objetivo mínimo a que se tinham proposto, importante por vários motivos, um deles a forma como finalizaram a época, com a perda da Liga e da Taça de Portugal para o Sporting.
O Benfica chegou aos Estados Unidos no dia 8 de junho, com Rui Costa, presidente do clube, a liderar a comitiva, para acelerar a adaptação ao clima e ao diferente fuso horário (menos 5 horas que em Portugal) e assim poder entrar melhor na prova que arrancou a 14 de junho e acaba a 13 de julho. Porém, o contexto, sempre difícil tendo em conta a proximidade do final de 2024/25, foi ainda mais complicado desde o princípio.
Para o Benfica, e certamente que para as outras equipas europeias que o jogaram e ainda jogam, o Mundial de Clubes criou a sensação de algo entre o final da última temporada e a projeção da próxima. Uma espécie de digressão, mas que compromete as férias dos jogadores e treinadores e causa constrangimento na preparação de 2025/26.
Internacionais e mercado
No caso da equipa treinada por Bruno Lage, nos primeiros dias de trabalho nos EUA faltaram vários jogadores internacionais que estiveram a representar as seleções. Elementos fundamentais para a equipa, como Pavlidis, Akturkoglu, Kokçu, Otamendi, António Silva, Dahl, Barreiro ou Schjelderup, entraram mais tarde na realidade americana e, como Bruno Lage sempre colocou em perspetiva nas conferências de Imprensa, foi preciso gerir a forma física de muitos para não potenciar o risco de lesões.
A competição também coincide com abertura do mercado de transferências. Por muito que os jogadores sejam profissionais, a indefinição na carreira tem influência. Há jogadores que não ficam no Benfica, como Andrea Belotti, que volta ao Como após empréstimo, outros com transferências iminentes, como Álvaro Carreras, outros que acabam contrato, como Ángel Di María. Terá sido difícil jogar nos EUA com a cabeça completamente limpa.
O desafio tornou-se mais complicado devido ao calor extremo, sempre acima dos 30 graus e muitas vezes perto dos 40, temperaturas que fizeram pesar as pernas e dificultaram a respiração nos treinos e sobretudo durante os jogos, marcados para horas interessantes para que fossem assistidos pela televisão noutros continentes, mas impiedosas para o trabalho dos jogadores — as águias jogaram com os argentinos do Boca Juniors às 18 horas (23h em Portugal), os neozelandeses do Auckland às 12 horas (17h), o Bayern às 15 horas (20h) e o Chelsea às 16 horas (21h).
O desafio com o Boca foi em Miami, a 450 quilómetros de Tampa, base dos encarnados, com o Auckland em Orlando, a 140 km de distância, com o Bayern em Charlotte, a distância de 940 km; com o Bayern, nos oitavos de final, o palco foi Charlotte novamente. A equipa viajou sempre na véspera e regressou a Tampa imediatamente depois dos jogos.
Em Tampa, na Flórida, o Benfica teve tranquilidade para trabalhar, sem a presença de adeptos. Os jogos tiveram apoio de muitos benfiquistas, mas muito menos do seria desejável, ou quase certo noutros pontos do globo. Nos três jogos do Benfica, apenas no primeiro, com o Boca, o estádio, o Estádio Hard Rock, em Miami, teve as bancadas bem preenchidas. E isso só foi possível pela resposta em massa dos adeptos argentinos.
O Mundial de Clubes teve eco e impacto sobretudo na América do Sul. Argentinos e brasileiros viajaram em grande número e estão também muito representados na Flórida, e na Carolina do Norte, onde foi o Benfica-Bayern e o Benfica-Chelsea.
Os locais passaram um pouco ao lado do Mundial de Clubes. Em Tampa, ou Orlando, falámos com muitas pessoas que nem sabiam que se jogava o Mundial de Clubes no país, muito menos que equipas o jogam. Em Charlotte a consciência foi maior e em Miami a participação do Inter Miami, de Lionel Messi, deu maior projeção.
Os alertas
Outro ponto que prejudicou a competição o foi a lei e o protocolo de segurança em caso de agravamento das condições meteorológicas. A interrupção e suspensão de jogos foi frequente, pois há instabilidade diária por causa do clima tropical na zona e nesta altura do ano. Quando há ameaça de tempestade, adeptos e jogadores recebem ordem para se abrigar. Sempre que cai um relâmpago a distância considerada curta, o protocolo obriga a que se aguarde 30 minutos para reavaliar a situação. O Benfica-Auckland esteve suspenso duas horas; o Benfica-Chelsea cerca de hora e meia quando faltavam cinco minutos para o final. No reatamento, o Benfica, a perder 0-1 quando se deu a interrupção, empatou e levou o desafio para prolongamento.
Foi uma experiência desportiva diferente, representou para as águias encaixe financeiro importante (€23,5 milhões), mas o Mundial de Clubes soube a pouco e dele resultam preocupações para formar o melhor Benfica para atacar a nova época.
Por outro lado, se a ideia foi testar a resposta para o Mundial de seleções agendado para o próximo ano, que será organizado conjuntamente por EUA, Canadá e México, fica a sensação de que ainda há muito que calibrar.
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