Roberto Martínez justifica a expulsão do capitão da Seleção

«É um dia para esquecer»: tudo o que disse Roberto Martínez

Selecionador de Portugal analisa a derrota com a Irlanda (0-2) em conferência de imprensa

Portugal voltou a sentir dificuldades com uma seleção que joga em bloco baixo, porquê?

— No futebol o mais difícil é marcar golos. Também jogámos contra a Arménia, uma equipa em bloco baixo, e marcámos cinco golos. Entrámos muito mal no jogo, faltaram Pedro Neto, Nuno Mendes, Bruno Fernandes, com quem já temos padrões trabalhados. Deixámos a Irlanda marcar de bola parada e quando a equipa estava a melhorar, dentro de um desempenho mau, sofremos. Faltou clareza com bola, precisão. A Irlanda joga de forma segura e se sofremos um golo, sabíamos que teríamos muitos problemas. Tudo o que podia correr mal, correu mal e tudo o que podia correr bem à Irlanda, correu bem. Na 2.ª parte tentámos tudo, a expulsão de Cristiano dificultou o jogo, vi muita coragem na equipa, mas este é um dia para esquecer.

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— É a sua primeira derrota em fase de qualificação, o que é que isto significa?

— Era bom fazer mais 43 jogos sem perder. O que não é normal é ter 42 jogos sem derrotas ao nível de seleções. Foi a primeira expulsão do Ronaldo em 226 internacionalizações. Temos de ser autocríticos, mas a derrota é em contexto. Agora se ganharmos em casa, estamos no Mundial. O normal no futebol são jogos difíceis.

— Como é que viu a reação de Cristiano à expulsão? Acha que cedeu à pressão?

— A primeira razão por que Cristiano recebe o cartão vermelho é porque tem muita paixão e fica frustrado quando não ganha e é isso que queremos de todos os jogadores. Depois, é muito difícil para um ponta de lança dentro da área, os centrais estarem sempre a agarrarem-no. E depois, um treinador [o selecionador da Irlanda] tenta pressionar o árbitro, um central que é muito forte, cai no chão com exagero. Acho que as imagens são piores do que aquilo que ele fez.

— Sente-se em condições de continuar à frente da Seleção?

— É preciso ver esta derrota dentro do seu contexto. Portugal já se apurou para grandes torneios em play-off, nós ainda temos mais um jogo para nos apurarmos e para isso precisamos de ganhar.

— Porque não chamou Raphael Guerreiro para o lugar de Nuno Mendes?

— Nós precisamos de procurar soluções para preparar jogos a cada três dias, portanto é utilizar os jogadores polivalentes que temos. Isso não fez parte da derrota, a derrota aconteceu devido a um desempenho que não esteve ao nível do nosso nível normal.

— Acha que a escolheu bem o onze inicial?

— É muito importante fazer autocrítica. Acho que hoje era um dia difícil, com muitas emoções, no desejo de querermos o apuramento, contra uma equipa que é muito difícil. É dar os parabéns à Irlanda e virar o foco para os próximos jogos em casa e também ter uma ideia clara do porquê de perdermos o jogo.

— Como analisa os desempenhos de João Cancelo e Diogo Dalot?

— Não é um dia para falar de jogadores individuais, foi um desempenho coletivo. São dois jogadores que já fazem isto há muitos anos, podem jogar nas duas alas. A ideia era utilizar a ligação de Dalot com o Félix, são jogadores que conhecem muito bem os nossos conceitos, o nosso sistema e também o futebol britânico.

— Sente que Portugal tem um problema de entrar nos jogos a sofrer primeiro?

— Em muitos jogos começámos a ganhar. E uma equipa tem de ter personalidade, resiliência e a qualidade para fazer reviravoltas. Começámos o jogo muito mal, a perder contra uma equipa que corre muitos poucos riscos. Há falta de jogadores importantes, precisamos de mais tempo para criarmos essas ligações.

— Porque fez estas substituições ao intervalo: Renato Veiga por Gonçalo Inácio e Nélson Semedo por João Cancelo?

— Precisamos de tempo para podermos criar uma ligação entre os nossos jogadores. Cancelo já tinha amarelo, não queríamos arriscar e depois com Renato Veiga, já fizemos muitas vezes isso, apostar no aspeto físico de um jogador durante 45 minutos.

— Está preocupado com a fraqueza de sofrer golos em bolas paradas?

— É verdade que sofremos golos de canto nos últimos dois jogos, mas antes disso, o nosso trabalho nas bolas paradas era muito bom, então precisamos de aceitar que sofremos um golo assim.

— Como pode explicar as ações de Ronaldo?

— Foi duro, ele preocupa-se com a equipa, passou muito tempo a ser agarrado, empurrado e quando se tentou afastar do jogador, faz uma ação que acho que não foi tão má como as câmaras fazem parecer. Ontem, o outro selecionador disse que Ronaldo tentava influenciar os árbitros e no final um central grande acabou deitado no chão de forma tão dramática… agora queremos ganhar o próximo jogo por Ronaldo.

— Dois dos seus avançados jogam na Liga Saudita, que se diz ser uma liga de menor competitividade, acha que isso impactou o jogo?

— Bem, nesta fase de apuramento, o Félix já marcou dois golos, Cancelo já marcou dois golos e Cristiano Ronaldo, desde que ele está na Liga Saudita, marcou 25 golos e 29 jogos na Seleção. Acha que isto fala por si mesmo.