Duelo Van der Poel-Van Aert saiu furado!
Em Loenhout, o Azencross do Troféu X2O prometeu espetáculo e cumpriu, ainda que com um desfecho cruel. Durante alguns minutos, o público voltou a acreditar que estava prestes a assistir a mais um daqueles capítulos épicos da rivalidade que marca uma era. Mathieu van der Poel e Wout van Aert, frente a frente, roda com roda, como tantas vezes antes. Mas o destino, caprichoso como o próprio traçado enlameado, decidiu escrever outra história.
Desde o arranque que Van der Poel se instalou na roda do belga, paciente, quase silencioso, à espera do momento certo. Van Aert assumiu as despesas da corrida e, na terceira volta, puxou dos galões: aumentou o ritmo, acelerou repetidamente e deixou para trás todo o pelotão. Restavam apenas os dois gigantes do ciclocrosse. Metro a metro, isolavam-se da concorrência, enquanto a multidão sustinha a respiração. A tão aguardada batalha parecia finalmente desenhar-se.
Mas o ciclismo, como a vida, raramente respeita guiões. No pior momento possível, longe da zona técnica, Van Aert sofreu um furo quando seguia na roda do neerlandês. O veredicto foi imediato e implacável. Obrigado a abrandar, viu Van der Poel disparar sozinho rumo a mais uma vitória. A partir daí, o corredor da Alpecin-Deceuninck passou a pedalar noutra dimensão, ampliando a vantagem a cada curva, a cada obstáculo superado com a naturalidade de quem domina a arte.
Orgulhoso, Van Aert trocou de bicicleta e recusou render-se. Ainda conseguiu isolar-se no grupo perseguidor, fixando-se numa posição intermédia, atrás de Van der Poel. Mas o azar voltou a bater-lhe à porta: um segundo furo acabou de vez com qualquer ambição de pódio.
Na frente, sem oposição, Mathieu van der Poel confirmou o óbvio. Somou a sexta vitória em seis provas de ciclocrosse este inverno, cortando a meta com 46 segundos de vantagem sobre o colega de equipa Niels Vandeputte e 57 sobre Joris Nieuwenhuis. Uma vitória esmagadora, mais uma, numa temporada que tem sido um desfile de superioridade.
No final, Van Aert terminou apenas no 10.º lugar, com a frustração estampada nas palavras. «Senti-me bem e por isso decidi tomar a iniciativa desde o início. O Mathieu e eu conseguimos abrir uma vantagem rapidamente. Ele pressionou-me algumas vezes, mas hoje eu estava determinado a transformar a corrida num duelo. No final, os contratempos foram decisivos. Furei o pneu duas vezes em momentos muito maus, longe da zona das boxes. É dececionante, mas o apoio dos fãs ao longo do percurso manteve-me motivado.»
Van der Poel, por sua vez, confessou que só percebeu o que se passava mais tarde. «Não reparei logo que ele tinha furado», explicou. «Não era fácil olhar para trás. De repente, vi que a diferença estava a tornar-se muito grande, por isso soube que algo tinha acontecido. Isto é lamentável para a corrida», assumiu.
«As flores são para a minha mãe, porque é o seu aniversário», acrescentou. «Mas não vou de bicicleta entregá-las. Já está escuro e não tenho luzes, por isso vou de carro», gracejou. Van der Poel em tempo de celebrações.