Discípulo de Peseiro e fã de Mourinho quer catapultar Amora
O Amora Futebol Clube, histórico clube da margem sul do Tejo, procura voltar a afirmar-se no futebol português, resgatando o prestígio que teve na década de 80. Depois de um arranque instável na Liga 3, a direção do clube apostou em Nuno Presume como treinador principal, trazendo para o projeto alguém com experiência sólida como adjunto de José Peseiro e passagem por diversos clubes e países.
A chegada de Presume surge com ambição e vontade de dar um novo rumo ao clube, conciliando conhecimento da Liga 3 com o desejo de elevar o Amora a patamares mais competitivos no futebol nacional.
Nuno Presume, depois de vários anos ligado a José Peseiro como adjunto, decidiu abraçar o projeto como técnico principal e, em conversa com a A BOLA, explicar por que aceitou.
«Recebi este convite com vontade imensa de ajudar os investidores do Amora, a SAD do Amora e o clube, para catapultá-lo para um patamar mais elevado. Não podia recusar este convite também porque estava a desejar ser treinador principal. Falei com quem de direito e a pessoa disse-me para arrancar com este projeto. Obviamente, falo de José Peseiro», contou, explicando o porquê de não ter enveredado por esse caminho mais cedo: «Tive a oportunidade de ser treinador principal ao longo de todos estes anos e fui sempre rejeitando, porque tinha um grande enquadramento e, no caso concreto, uma liderança por parte de José Peseiro que me fez estar com ele quase na totalidade destes anos.»
Nuno Presume chegou num período delicado, com três derrotas seguidas do Amora.«Se o momento fosse bom, certamente não teria vindo», admitiu. Ainda assim, sublinhou o trabalho do antecessor.
«O Miguel Valença subiu de divisão com esta equipa e começou bem o campeonato, mas os treinadores estão sempre sujeitos aos resultados», lembrou.
Em relação ao plantel, o novo técnico deixou elogios aos jogadores. «Encontrei equipa com dimensão humana extraordinária, jogadores que, obviamente, não estavam confiantes porque vinham de três derrotas, mas com uma vontade imensa em ultrapassar as dificuldades», detalhou, sentindo-se atraído pelo projeto, também, pelo profundo conhecimento que tem do terceiro escalão nacional.
«Porque noutras funções acompanhei o nascimento e o berço desta liga. Não estou a mentir se disser que já fiz mais de 100 jogos desde o início desta competição, num contexto diferente. Refiro-me ao conhecimento que tenho dos jogadores; é uma liga que catapulta treinadores para patamares superiores do futebol», vincou.
O objetivo «proposto» foi «a manutenção na Liga 3, porque o Amora vem do Campeonato de Portugal», mas Presume não escondeu ambição para algo mais: «Nós, no grupo, temos um objetivo que muito gostaríamos de ver concretizado; se esse objetivo foi-me proposto? Não...»
Encanto pelo Brasil
Com uma carreira que passou por vários países, Presume não escondeu o encanto pelo Brasil.
«Foi o campeonato que mais gostei de disputar. Ficou-me a paixão. Tenho o objetivo de regressar, um dia, para treinar na Série A ou na B. Tenho esse sonho e quero, um dia, passar à ação», revelou.Em relação ao país menos atrativo... « talvez o Egipto».
Antes de assinar pelo Amora, Nuno Presume foi treinador adjunto de José Peseiro nos egipcíos do Zamalek e, entre os muitos jogadores que lhe passaram pelas mãos ao longo da carreira, destacou nomes «excecionais, como Bruno Fernandes, Raphinha ou Cauly, no Bahia». E lembrou um outro, que não mais lhe sairá da memória:«Miguel Cunha, no Atlético Riachense. Foi ele que me disse o que era ser um capitão de equipa. Marcou-me profundamente. Infelizmente, perdemo-lo no decurso deste ano civil.»
O desejo, agora, é só um para o treinador de 56 anos: puxar o Amora para cima:«É um clube que já passou pela 1.ª Divisão. Quer voltar a crescer, não sei se para chegar à Liga, mas quer crescer. E merece ter os adeptos em força a apoiar.»
«Devíamos agradecer constantemente a Mourinho»
Aprendeu com muitos e não percebe as críticas «ao maior treinador português da história»
O futebol é feito de experiências, pessoas e portas abertas e Nuno Presume conhece bem essa realidade. «Fui adjunto de três treinadores: Daúto Faquirá, José Peseiro e Renato Paiva», recordou, reconhecendo o valor de cada aprendizado. Porém, para o treinador do Amora, José Mourinho é marco incontornável. «Vejo críticas ao maior treinador português da história, mas, na verdade, devíamos agradecer-lhe constantemente. Se hoje há treinadores reconhecidos e a profissão é respeitada, muito disso se deve a ele. Mourinho abriu portas para o mundo e despertou em muitos a paixão por treinar. Será sempre uma referência», sublinhou, sem esquecer outros nomes que também mudaram o panorama: «Carlos Queiroz, Jesualdo Ferreira e Nelo Vingada foram fundamentais para criar oportunidades e abrir caminhos para muitos profissionais.»
Questionado sobre a multiplicação de treinadores em Portugal, não se esquivou: «Existem muitos treinadores para poucos clubes.»
Relativamente à evolução do futebol, Presume diz que ainda pode evoluir mais. «Tal como noutras modalidades coletivas, as substituições poderiam acontecer em pleno jogo, sem necessidade de parar tudo para cinco alterações», sugeriu, defendendo mais dinamismo. E foi mais além...
«Com algumas mudanças nas regras, o futebol poderia ser mais rápido, mais atrativo. Hoje, a dimensão física é totalmente diferente e exige pensar antes de executar, no instante certo», concluiu, mostrando que o jogo, como os treinadores, não pára de se reinventar.