Benfica, presidido por Rui Costa, apresentou em 2024/25 um resultado líquido de 34 milhões de euros e receitas recorde de 230 milhões
Rui Costa - Foto: Imago

Contas Benfica 2024/25: lucros com açúcar a mais

'Tribuna livre' é um espaço de opinião em A BOLA aberto ao exterior, este da responsabilidade de João B. Duarte, Economista e Professor Associado da Nova SBE

O Benfica apresentou em 2024/25 um resultado líquido de 34 milhões de euros e receitas recorde de 230 milhões. À primeira vista, parece um sinal inequívoco de recuperação. Mas uma análise mais cuidada mostra outra realidade: estas contas funcionam como o açúcar. Dão uma pica imediata, deixam tudo mais doce no curto prazo, mas trazem consigo o risco do inevitável sugar crash.

O lucro não nasceu de uma gestão mais eficiente. Resultou de dois fatores extraordinários: a participação no Mundial de Clubes, que acrescentou 22,5 milhões em receitas (17,1 milhões líquidos), e a venda de João Neves, o maior talento da formação, por quase 60 milhões. O resultado foi positivo, sim, mas assente em eventos que não se repetem todos os anos.

Entretanto, os custos continuam a crescer. Mesmo descontando os 9 milhões da indemnização da equipa técnica, a despesa com pessoal chegou a 118,7 milhões, quase 40% acima de 2019/20. A dívida líquida mantém-se nos 197 milhões, com um dado crítico: 60 milhões em empréstimos de curto prazo vencem já no próximo ano. Dívida financeira, não fornecedores — uma pressão imediata sobre a tesouraria. Em pleno ano recorde, a dívida praticamente não desceu.

Nas transferências, o padrão mantém-se. Entre julho de 2024 e junho de 2025, o Benfica registou 188,9 milhões em vendas brutas, mas apenas 117,3 milhões entraram como rendimento líquido. Apenas 62% de conversão — e ainda assim só alcançado porque João Neves saiu praticamente sem custo contabilístico. No triénio anterior, o rácio tinha sido de 52%, contra 93% de Sporting e FC Porto.

Mais importante: a política de alto volume de compras e vendas continua intacta. Como já analisado em fevereiro, este carrossel acarreta custos muito elevados em comissões. A analogia é simples: como um day trader, o Benfica paga sempre que compra e sempre que vende. Mesmo quando um jogador é comprado por 10 milhões e vendido pelos mesmos 10 milhões, o clube não fica no zero. Pelo contrário, perde dinheiro em cada operação, porque as comissões e encargos associados corroem o resultado. Esse efeito cumulativo reduz de forma substancial o impacto positivo das melhores vendas, incluindo a de João Neves.

O risco maior está em 2025/26. Logo em julho, após fecho do exercício, o Benfica comprometeu-se com mais de 100 milhões em aquisições obrigatórias (Ríos, Ivanovic, Lukebakio, Barrenechea e Sudakov). Nas contas, isto significa 17–20 milhões adicionais por ano em amortizações. Houve também vendas relevantes — Álvaro Carreras, Kerem Akturkoglu e Arthur Cabral — que ajudam a compensar, mas o saldo líquido de julho é negativo. E aqui está a diferença essencial: em julho de 2024, o Benfica iniciou o exercício com a mais-valia excecional de João Neves, que deu folga imediata às contas; em julho de 2025, começa em desvantagem, sem esse estofo inicial.

O verdadeiro desafio está no lado das receitas. Em 2024/25, o Benfica contou com os 22,5 milhões do Mundial de Clubes, que não se repetem. Já os ganhos da UEFA dependerão da performance desportiva: se a equipa não passar da fase de grupos ou dos oitavos, o fosso poderá rondar 30–40 milhões face ao exercício anterior.

Se o Benfica quer — como deve — voltar a enfrentar de olhos nos olhos os grandes clubes da Europa, precisa de uma estrutura que aguente tanto os bons como os maus momentos. Não pode repetir-se o que aconteceu em 2023/24, quando um ano menos feliz resultou em 30 milhões de prejuízos e foi necessário vender o maior talento da formação para tapar buracos.

As contas de 2024/25 mostram lucros. Mas lucros com açúcar a mais. O clube não pode perder-se no entusiasmo do sabor doce inicial, esquecendo que a seguir pode vir o sugar crash. Se quer ambicionar — e bem — voltar a olhar de frente para os grandes da Europa, precisa de uma base sólida que não dependa do imediato, mas que sustente o futuro.