Começou na III divisão, sofreu uma lesão grave e agora está à porta do Mundial
O futebol, já se sabe, é pródigo em histórias de superação e uma das mais inspiradoras pode muito bem ser a de Jean Mateta, avançado do Crystal Palace e, desde há pouco tempo, da seleção francesa.
Convocado pela primeira vez por Didier Deschamps na paragem de outubro, o ponta-de-lança de 28 anos repetiu a chamada na janela FIFA em curso e, a julgar pela resposta dada dentro de campo, está cada vez mais perto de assegurar uma vaga no avião dos bleus para o Mundial-2026.
Até aqui, nada de extraordinário, certo, mas o caso muda de figura quando olhamos para o percurso de Mateta, que, há menos de 10 anos, andava 'perdido' na III divisão do futebol gaulês.
Formado a meias entre o modesto Drancy e, numa fase posterior, no Châteauroux, o possante dianteiro começou a dar nas vistas na equipa B e, em 2015/16, foi promovido ao plantel principal. Marcou 11 golos em 22 jogos, tinha apenas 19 anos e, na temporada seguinte, protagonizou uma surpreendente transferência. Sempre atento aos talentos que despontam nos escalões inferiores, o Lyon desembolsou pouco mais de quatro milhões de euros para assegurar o concurso do talento emergente.
Empréstimo, Bundesliga e... lesão grave
A transição para a Ligue 1 não foi fácil. Ainda jovem e habituado a um nível de exigência manifestamente inferior — os concorrentes diretos eram Lacazette e Memphis Depay —, Mateta fez apenas três jogos na segunda metade de 2016/17. O empréstimo no verão que se seguiu surgiu como opção natural. Esfregou as mãos o Le Havre, que recebeu o avançado de braços abertos: Jean-Philippe anotou 19 golos em 37 desafios.
Não voltaria ao Lyon. O Mainz abriu cordões à bolsa e pagou o dobro do valor que o Lyon havia gasto por Mateta ano e meio antes. A primeira temporada na Bundesliga correu bem ao atacante — 16 tentos em 36 partidas ao serviço de uma equipa que ficou em 12.º lugar —, mas a seguinte trouxe um grande revés. O francês, de 1,92 metros de altura, sofreu uma rotura de ligamentos num joelho no verão e só voltou a competir em meados de dezembro.
Poucos acreditaram que Mateta poderia voltar ao nível já exibido, mas o tempo foi amigo do futebolista. 2021 trouxe o salto que poucos adivinhariam: primeiro, foi emprestado ao Crystal Palace. Meia época chegou para convencer os londrinos a avançarem para a contratação em definitivo do jogador, mas a verdade é que, a partir daí, começou a desenhar-se a derradeira subida de patamar.
Golos, presença na área e, enfim, o sonho da seleção
Se os primeiros meses em terras de Sua Majestade não correram de feição a Mateta, que ia demonstrando pouco apetite pelas balizas adversárias, a chegada do austríaco Oliver Glasner ao comando técnico do Palace mudou tudo. Nas duas últimas temporadas, o ponta de lança gaulês elevou a fasquia e marcou nada menos do que 36 vezes em 85 partidas. Na temporada em curso, a conta vai em oito tentos em 19 encontros, números que Deschamps não pôde ignorar.
Mateta estreou-se na receção ao Azerbaijão, a 10 de outubro, e abriu a conta goleadora pela seleção no encontro seguinte, frente à Islândia. Já este mês, mais precisamente no domingo, voltou a picar o ponto, agora na visita a Baku. Dois golos nas três primeiras internacionalizações, num atestado de eficácia que, provavelmente, acabará por garantir a presença de Jean-Philippe na lista final de eleitos de França para o Mundial das Américas. Nada mau, para alguém que fez o percuros desde as divisões inferiores e superou uma lesão grave até brilhar na Premier League...