Após ter terminado a 'missão' de dez anos na NBA, o conhecido treinador e comentador de basquetebol anuncia, em A BOLA, que avança para liderar a Federação

Carlos Barroca: «Os selecionadores nacionais só não continuam se não quiserem»

Parte 6 — Após ter terminado a 'missão' de dez anos na NBA, o conhecido treinador e comentador de basquetebol anuncia, em A BOLA, que avança para liderar a FPB. Numa longa conversa, fala da inquietude que não o faz pensar em reforma, o que quer oferecer, onde pretende chegar, explica porque surgiu nas eleições do Benfica, como deseja liderar a FPB, com que tipo de colaboradores quer contar, diz o que acha sobre a continuidade dos selecionadores nacionais e as eleições face ao Comité Olímpico

Referiu o sucesso das seleções, que têm sido conduzidas pelos mesmos selecionadores há uns anos, a masculina, então há bastantes, e os resultados têm aparecido, vindo também o fruto das jogadoras e dos jogadores portugueses passarem a jogar lá fora, aprenderam, trazem conhecimento.
O jogo evoluiu dentro da Seleção, passou a existir um banco mais profundo. Eles, com o fim de mandato do atual presidente, também estarão em final de contrato durante as qualificações para os mundiais que agora estão a acontecer. Como é que vê? Também precisa de reunir as pessoas que irão estar à sua volta para decidir se estes selecionadores devem continuar, uma vez que o resultado tem sido positivo, ou poderá ter que haver mudanças?

— É bastante fácil e seria pouco inteligente da minha parte não responder de outra maneira. Acho que temos as pessoas certas no lugar certo. Temos de perguntar às pessoas, e sou amigo de ambos, de um deles, do Mário Gomes, companheiro de escola, de universidade, de rua em Linda-a-Velha, e de viagens por esse mundo fora, a mesma coisa que o Ricardo Vasconcelos. Só se eles não quiserem. Não sei se isto responde à pergunta, mas só se eles não quiserem.

Seria impensável substituí-los. Se de mim depender, não é isso que vai acontecer, certamente.

Acho que, primeiro, não vejo com bons olhos que os selecionadores nacionais não sejam portugueses. É a tal questão do que representa a camisola. Podemos ter o melhor treinador do mundo mas não se identificar com aquilo que representa a seleção portuguesa é difícil. Seria uma asneira tremenda da minha parte se fosse presidente da federação pensar sequer em que os que lá estão, e que têm levado a Seleção Nacional ao nível que levaram, com um trabalho impressionante de passar pelos maus bocados para chegar onde chegaram agora, seria impensável substituí-los. Se de mim depender, não é isso que vai acontecer, certamente.

Uma última pergunta. A federação vai ter eleições em 2026. Todas as outras federações tiveram eleições um ano antes de acontecerem as eleições no Comité Olímpico. A federação de basquetebol, tirando a dos desportos de inverno, que é natural porque os seis Jogos Olímpicos disputam-se no meio dos Jogos de verão, está desfasada de todas as outras federações. Que é uma coisa que sempre me fez confusão, uma vez que ela também vota para o Comité Olímpico, também necessita do dinheiro, e cada vez mais vindo do Comité Olímpico, e ocupam cargos no Comité Olímpico. Não quer dizer que fosse no seu primeiro mandato de quatro anos, porque isso iria logo reduzi-lo a três, mas acha que a Federação Portuguesa de Basquetebol devia alinhar com todas as federações nacionais e decidir uma coisa tão importante como é o Comité Olímpico ou a Confederação do Desporto, ou seja o que for, ao mesmo tempo que todos os outros e não desfasada um ano, porque isso dá sempre a pensar de duas maneiras?
- Bom, primeira parte, não fui eu responsável por isso, seguramente.

Alguém devia ter resolvido já isso há algum tempo. Penso que nenhuma federação deve existir sem estar em conformidade com as leis do país. Portanto, acho que o mais rapidamente possível isso deve ser recolocado.

Não estou a dizer quem foi. Já acontece há uns bons anos.
— Já acontece há uns bons anos. Segundo, já devia ter sido resolvido, ou por iniciativa da federação ou do Governo…

Ou do Comité Olímpico.
— Ou do Comité Olímpico. Alguém devia ter resolvido já isso há algum tempo. Penso que nenhuma federação deve existir sem estar em conformidade com as leis do país. Portanto, acho que o mais rapidamente possível isso deve ser recolocado. Colocado às instâncias superiores, como é lógico, porque isto tem que se viver em harmonia com a lei e de acordo com a lei. Não deve fugir à lei. Essa é apenas uma circunstância que tem que ser resolvida. Nem sequer vejo isso como um problema. Vejo como uma limitação que tem que ser ultrapassada. Gosto muito de utilizar aqui o título do livro do Chuck Daly, Every Step a Struggle [Cada passo uma luta]. É apenas uma dificuldade para ser ultrapassada.

Aliás, não vejo, à exceção de negatividade que possa haver no basquetebol de algum setor, não vejo nada, se não algumas dificuldades para ultrapassar. O basquetebol é uma modalidade fantástica. Gosto muito desta palavra fantástica. Quem me seguia na televisão durante 25 anos sabe que esta era uma palavra-chave. Há muita gente que nem me conhece, mas conhece a palavra fantástico. Trabalhar no desporto é uma coisa excecional que só edifica, valoriza e revitaliza todos os que estão envolvidos. 

A indústria do desporto nunca teve tanto valor como tem hoje e a elevação de quem está a trabalhar debaixo da nossa orientação e o crescimento dessas pessoas é o melhor resultado que se pode ter. Seja isto para os dirigentes dos clubes, para os que dirigem associações, para quem esteja na federação, para os treinadores que trabalham com miúdos, para os pais da comunidade que existem à volta. Isto é tão fácil. É preciso ter coisas tão simples, ter amor por aquilo que se faz, ter princípios por aquilo que se faz, ter capacidade de dizer que não àquilo que é feito de forma errada, e saber construir sonhos.

Construir sonhos é elevar o nível. Construir sonhos é fazer perceber que é possível fazer mais e fazer melhor. E eu acredito que tenho no meu sorriso, na minha determinação, na minha forma consumada de fazer coisas a este nível, a níveis muito difíceis, acredito que é possível fazer e que o basquetebol português pode ser, não transformado radicalmente, mas revitalizado para caminhos que deem mais prazer a todos que estão envolvidos na modalidade de terem mais tempo para falar das coisas boas do basquetebol e menos tempo para falar das coisas menos boas do basquetebol. Juntos conseguimos fazer esse processo. Sozinho ninguém consegue. 

Não quero ser presidente da federação para mandar no basquetebol, quero ser presidente para ser inspirador de que todos aqueles que estejam no basquetebol percebam que têm um papel no crescimento da modalidade, na criação do produto, na edificação do edifício e que construímos visão para esta geração e para aquelas que vão vir a seguir.