Cada vez mais perto
MAIS um Dia D para o Sporting na deslocação ao Estádio dos Arcos, em Vila do Conde, um sítio onde não costuma ser feliz. Mais um jogo sem Rúben Amorim no banco devido à suspensão pelo Conselho de Disciplina da FPF, que demorou quase sete meses (!!!) a apreciar as declarações do treinador no final do jogo com o FCP em Alvalade (2-2 a 17 outubro de 2020). O timing, como o atraso, é estranhíssimo e já é impossível não reparar que Rúben Amorim parece estar a ser alvo de um tratamento especial - talvez porque o Sporting não manobre os cordelinhos do sistema. Disse ele, sobre a nova suspensão: «É tão claro que às vezes mais vale não dizer. Está à vista de todos.» Nada de novo. O campeonato português, por definição, nunca se decide só nos relvados e qualquer treinador que tenha passado por Alvalade nos últimos 40 anos, de John Toshack e Manuel José a Paulo Bento e Jorge Jesus, sabe isso por experiência própria. Rúben é mais um.
Entre parti pris indisfarçáveis, critérios díspares, cumplicidades inadmissíveis, arbitragens manhosas e episódios públicos da mais chocante rufianaria, o futebol português continua a cheirar pessimamente e a parecer uma fantochada. É uma pena que ninguém ponha cobro a isto.
Logo a seguir ao duelo de Vila do Conde vem o clássico na Luz onde se joga basicamente para o segundo lugar: um duelo decisivo apenas para o Benfica, que tem imperiosamente de ganhar para poder aspirar à ultrapassagem do campeão. Da conjugação destes dois resultados - e até podemos estar a falar de dois empates, atenção - pode adivinhar-se com mais segurança o destino do campeonato. Ganhando em Vila do Conde, o ausente Rúben Amorim consegue a qualificação automática do Sporting para a Champions (neste momento vale cerca de 33 milhões para os cofres leoninos) e dá mais um passo rumo ao objetivo de ser campeão. Se o conseguir, bem podem os adeptos sportinguistas dizer com propriedade que foi contra tudo e contra todos. O jogo é difícil para os leões, privados de Tiago Tomás, Porro e Tabata, mas muito mais difícil para o Rio Ave de Miguel Cardoso, que tem a corda na garganta - dois pontos acima da linha de água - e não ganha um jogo desde 7 março, somando seis empates e duas derrotas nas últimas oito jornadas. O Sporting continua a ter imensas dificuldades de finalização, sobretudo perante equipas que defendem com oito ou nove jogadores, o que tem acontecido com frequência. Mas isto era expectável a partir do momento em que os leões passaram a ser o alvo a abater. Um líder, ainda por cima invicto, tem de estar preparado para enfrentar obstáculos e resistências cada vez mais tenazes. Dentro e fora dos relvados. De qualquer maneira, pelo que se tem visto e «se tudo for normal», como diz Pinto da Costa, o Sporting está cada vez mais perto de ser feliz.
Rúben Amorim e o ‘seu’ Sporting estão muito perto de conquistar o título, 19 anos depois
CLÁSSICO DOS DERROTADOS
NO entanto, nada está escrito, nada está decidido: a discussão pode reabrir se o Sporting tropeçar em Vila do Conde e o FC Porto vencer na Luz; aí teremos nova aproximação e suspense redobrado para as três jornadas em falta… não esquecendo que o Sporting ainda tem de jogar na Luz. Mas também pode acontecer o contrário: o FCP não passar - ou mesmo perder - na Luz e dizer adeus ao bicampeonato.
No estádio do Benfica defrontam-se os (até agora) grandes derrotados da época. De um lado o FC Porto, campeão nacional e detentor da Taça de Portugal, que, apesar da estupenda campanha e grande receita na Champions (mais uma), arrisca terminar a época sem ganhar um único título importante; do outro, um Benfica que investiu muito mais de 100 milhões em Jorge Jesus e naquilo que parecia ser um super plantel para ganhar tudo em termos domésticos e até «um título europeu», como projetou Luís Filipe Vieira no início da época; aqui chegados, nem o objetivo óbvio da qualificação direta para a Champions o Benfica tem assegurado. O 2.º lugar vale 40 milhões e creio que o resultado do Rio Ave-Sporting pode influenciar a abordagem do FCP. Se o líder ganhar, o FCP poderá encarar o empate (e consequente manutenção dos 4 pontos de avanço) como resultado aceitável, uma espécie de mal menor. Se o líder tropeçar, o FCP terá de entrar com tudo para ganhar. O Benfica, já se disse, está obrigado a vencer. Tudo o que não for três pontos é dizer adeus ao 2.º lugar. O histórico recente é amplamente favorável ao FC Porto, sobretudo na nova Luz, onde o Benfica só ganhou 4 dos 17 jogos realizados com o rival desde fevereiro de 2004. Eu acho que o FCP é mais competitivo que o Benfica, mas também acho que, num jogo, o Benfica tem jogadores para ganhar ao FCP. Será hoje?
RONALDO: QUATRO VEZES 100!
COM o bis à Udinese (que interrompeu uma série de três jogos sem marcar), o nosso Cristiano chegou aos 99 golos com a Juventus (em 129 jogos) e está a um golo de fazer história, mais uma vez. Com o próximo, será o primeiro futebolista a chegar aos 100 ou mais golos por três clubes europeus (fez 118 pelo Manchester United e 450 pelo Real Madrid) e o único a marcar 100 ou mais golos com quatro equipas diferentes (aos clubes há que somar os 103 golos pela Seleção de Portugal). A proeza, verdadeiramente admirável, pode ser alcançada no domingo, por ocasião do clássico Juventus-Milan. O brasileiro Romário é, com CR7, o único futebolista centenário com três clubes (PSV Eindhoven, Flamengo e Vasco da Gama), mas só um deles europeu e nem esse das big five. Dos futebolistas em atividade, só cinco chegaram aos 100 ou mais golos com dois clubes: Kun Aguero (Atl. Madrid e City), Edinson Cavani (Nápoles e PSG), Luis Suárez (Ajax e Barcelona), Robert Lewandowski (Dortmund e Bayern) e Klaas-Jan Huntelaar (Ajax e Schalke).
P.S. - Nunca te canses, Ronaldo; e se estiveres mesmo a pensar terminar a carreira em casa, acredito que até os mais fanáticos adeptos portistas e benfiquistas aplaudirão o teu regresso ao Sporting. Seria bonito podermos despedir-nos do maior desportista português de todos os tempos… em Portugal.
EM ROMA SÊ... ITALIANO
MOURINHO já não estará no radar das superpotências (a Roma é um Tottenham de Itália) mas vê-se que continua a ter lugar nas ligas de topo. Creio que é uma boa ideia o regresso ao futebol italiano - onde foi tão feliz com o Inter -, sobretudo a um clube onde não lhe vão exigir, à cabeça, que ganhe o campeonato e chegue à final da Champions. Ademais, o futebol atual de Mourinho enquadra-se melhor na Serie A do que na Premier League ou na La Liga. A Roma, sem monstros sagrados nem primas-donas, pode vir a ser um projeto interessante para quem sabe que tem de relançar a carreira. Há milhões de adeptos à espera disso. Felicidades, special!