Lukebakio, Obrador, Ríos e... «um gajo qualquer»: 'show' Mourinho antes do Gil Vicente
— Como sente a equipa do Benfica e que comentário faz sobre o sorteio da Taça de Portugal que ditou visita a Chaves?
— O sorteio é bom para o Chaves, que tem um jogo grande em sua casa. E é bom para os benfiquistas transmontanos, porque é a oportunidade de nos terem lá. Para nós, obviamente, é complicado do ponto de vista desportivo, é complicado do ponto de vista logístico. Mas olhamos para o lado positivo da coisa, que é a festa da Taça. E a equipa está bem, está preparada.
— Lukebakio entrará no onze?
— Lukebakio não tem gasolina para 90 quilómetros, tem gasolina para 45 quilómetros e depois, se for um híbrido, ainda vai um bocadinho mais. Se for só a gasolina, não tem. Temos de analisar bem. Amanhã, seguramente, os jogadores já vão aparecer em melhores condições.
— Benzema pode ser hipótese para janeiro?
— Foi a primeira vez que ouvi o nome [dele] e a hipotética possibilidade. Jogámos [ainda no Fenerbahçe] um particular contra a equipa dele, conversámos um bocado. A última coisa que está no horizonte dele é voltar ao futebol europeu e, neste caso, a uma equipa como a nossa. Vai ficar ali, tem sido feliz e conquistado títulos, está numa situação económica invejável. Quando se sai do futebol europeu de alto nível, nestas idades, para a Arábia Saudita não penso que o objetivo seja regressar. Se me falar de miúdos mais jovens que vão e depois de 2/3 anos estão numa idade de voltar ao futebol europeu, sim. Mas jogadores como o Karim, não. Esta história, apesar de não ter perguntado a alguém internamente... quase que arriscaria a dizer que não existe nenhuma possibilidade, nem entendo muito bem como o nome do Karim chegou a esta situação.
— Vê em Aursnes, como outros treinadores, alguém capaz de fazer várias posições?
— Sim, é um jogador que permite que tudo aconteça no jogo. Temos sempre uma solução alternativa que pode compensar toda a imprevisibilidade. Honestamente, eu preciso de o conhecer melhor. Treinámos muito pouco, é só uma semana. Ele jogou pouco. É um jogador que eu preciso conhecer melhor. Se você me perguntar qual é o jogador que eu conheço menos, eu diria que é o Obrador, até pela sua própria personalidade, é um rapaz introvertido, reservado. Temos de o ajudar a ser mais ele próprio e a perder, entre aspas, a vergonha. Perder um bocadinho a vergonha e poder mostrar mais o potencial que ele tem.
— Prestianni vai ao Mundial sub-20? Quando vai e porquê?
— É importante para ele, é importante para o Benfica também. Temos outras opções. Obrigá-lo a ficar não parece ser uma decisão correta. Está convocado, mas depois irá.
— Bruno Lage utilizou Pavlidis, Ivanovic e Henrique Araújo na frente de ataque, mas José Mourinho queixou-se da falta de presença na área. Está nas prioridades para janeiro? Sente-se de mãos atadas porque o mercado está fechado?
—Não, eu nem sequer penso no mercado de Janeiro. Eu disse que o Benfica tinha um bom plantel e continuo a achar que o Benfica tem um bom plantel, os três atacantes são três bons atacantes. Quando digo presença, digo também um determinado tipo de fisicalidade. Quando se joga contra uma muralha defensiva, como contra o Rio Ave, às vezes não consegues entrar em combinação, não consegues entrar em apoio, não consegues entrar em profundidades curtas. Às vezes uma presença de um jogador deste tipo vale um golo, vale dois pontos. É óbvio que nós não temos isso agora mas longe de mim pensar no mercado de janeiro, longe de mim pedir alguma coisa. O meu trabalho não é pedir, o meu trabalho é desenvolver ao máximo aquilo que temos.
— Está aqui para terminar um trabalho iniciado há 25 anos?
— Um trabalho inacabado... Eu nem comecei o trabalho aqui. Estive aqui três meses, sete ou oito partidas.
— APAF fez queixa por causa das suas críticas à arbitragem no final do jogo com o Rio Ave. Quer comentar?
— Tenho de adaptar-me. A Liga portuguesa é nova para mim. Tenho muito, muito claro que a ofensa pessoal põe em causa a dignidade das pessoas, não o posso fazer e não o fiz. Se não posso criticar o trabalho de um árbitro da mesma maneira que milhões de pessoas criticam o meu trabalho não penso que seja muito democrático. Sinto que não fiz nada que justifique algum tipo de ação, seja ela disciplinar, seja para analisar em profundidade as palavras. Lembro-me de ter dito que o árbitro não teve influência nenhuma no resultado do jogo. Nem sequer disse que o golo deveria ter sido validado. Se quiserem ser objetivos e dizer que é proibido falar dos árbitros tornam a nossa missão mais fácil. Se alguém me der uma diretiva dizendo claramente que é proibido analisar o trabalho dos árbitros acho que facilita muito a vida. Há uma coisa que é óbvia para mim, antes do jogo não falo de árbitros. Depois do jogo, sinto-me no direito de falar e é um prazer elogiar árbitros, ainda me dá mais prazer elogiar árbitros quando perco.
— Vê razões para as críticas que estão a ser feitas a Richard Ríos?
— Vejo razões para eu o ajudar muito, vejo razões para eu tentar tirar o melhor dele. Vejo razões para tentar não lhe pedir coisas que ele tem alguma dificuldade em fazer. Vejo razões para estar muito perto dele, para que mostre aquilo que de bom tem e esconda aquilo que de menos bom tem. No treino tentámos pedir-lhe coisas em que ele se sinta confortável. Sabemos que o jogador, quando entra em campo, tem um autocolante nas costas com os milhões que se pagaram pela sua transferência. Não vou ser eu a criar mais pressão no jogador. Ríos joga de certeza.
— André Villas-Boas avisou que Mourinho será recebido no Dragão como qualquer treinador do Benfica.
— Estou totalmente de acordo com o presidente André. Se eu for recebido como todos os treinadores do Benfica, com respeito, com educação, sem amor, sem carinho, estou absolutamente de acordo. É o reflexo daquilo que é o FC Porto, que é um clube extremamente competitivo. Não é ingratidão alguma. Para mim é absolutamente correto nas declarações.
— Ao terceiro jogo sente necessidade de alterar as coisas em vez de afiná-las? E para quando o cunho de Mourinho?
— É muito difícil afinar, porque quanto mais jogamos, mais fadiga, mais fadiga significa menos trabalho de campo, menos trabalho de campo significa afinar só em reunião, em conversa, em grafismo, que é uma coisa na qual eu não acredito muito. É uma parte mínima daquilo que é a educação técnica e tática de um jogador. Agora, repetir sempre o mesmo erro é que não. Daqui a quanto tempo é que poderemos ver uma equipa com a qual me identifique? Honestamente, não sei, porque jogamos contra o Chelsea na terça-feira, jogamos contra o FC Porto três dias depois, os jogadores desaparecem para as seleções. Já me disseram que vamos fazer aqui, durante 15 dias, umas peladas 8 contra 8, mas são seis treinadores e dois jogadores. Nem sequer são seis jogadores e dois treinadores, vamos estar aqui e fazer umas peladas com o Aursnes e… um gajo qualquer, nem sei quem é. Depois o diretor Mário Branco acertou no sorteio da Taça… Eu disse-lhe: ‘Sintrense’, Atlético da Malveira, Atlético’. Apanhar uma equipa nesta altura não é obviamente fácil para um treinador.
— Vem aí o jogo com o Gil Vicente.
— Parabéns ao César [Peixoto], que é um dos meus jogadores que virou treinador, a equipa é boa, a equipa tem dedo de treinador, a equipa está bem organizada, não são só jogadores bons, é também uma equipa boa. Acho que a última vez que estive com o César foi na final da Champions.
— Depois do jogo com o Rio Ave, falou de ingenuidade, como reagiram os jogadores?
A mensagem? Disse-lhes diretamente, mas no dia seguinte. A deceção foi grande, precisavam de uma mão, precisavam que todos nós dividíssemos a responsabilidade com aqueles dois que estiveram mais diretamente envolvidos. E há uma coisa que eu lhes disse quando cheguei, que sou muito direto, que lhes direi muita coisa boa, mas que lhes direi também muita coisa má.
— Bruno Lage não via Leandro Barreiro como um 6, como vê o jogador?
O Bruno conhece, seguramente, os jogadores melhor do que eu, eu analisei-os a jogar contra, ele trabalhou com eles meses, obviamente conhece os jogadores melhores do que eu. Estou de acordo com o Bruno no sentido de que o Leandro é um jogador que tem bom timing de chegada na área, se estiver sempre preso e mais posicional sofre um pouquinho. É um bom soldado, tenta cumprir aquilo que se lhe pede, é rápido, tem uma boa transição defensiva para parar contra-ataques de uma equipa que seja mais defensiva. Mas é perigoso a chegar a partir de trás.
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