«Um estádio moderno deve estar ativo 150 dias por ano, o que implica a cobertura e o rebaixamento do relvado». Foto Miguel Nunes
«Um estádio moderno deve estar ativo 150 dias por ano, o que implica a cobertura e o rebaixamento do relvado». Foto Miguel Nunes

Benfica District: aprovar o conceito, discutir o futuro

'Tribuna livre' é um espaço de opinião em A BOLA aberto ao exterior, este da responsabilidade de Mauro Xavier, gestor e sócio do Benfica

O Benfica District é a decisão patrimonial mais importante do clube desde a construção do Estádio da Luz. Representa uma visão de futuro para o Benfica, para o Estádio e para a sua relação com a cidade. Não é um plano fechado, nem acabado, e isso é positivo. O que os sócios são chamados a decidir é o conceito, a ambição e a direção estratégica. Essa decisão não pode ser encarada como um cheque em branco. Aprovar não significa abdicar de exigência. Significa permitir que a Direção continue a trabalhar, incorporando contributos, detalhando soluções e apresentando, no momento próprio, um modelo final e concreto, que deverá ser novamente submetido à apreciação e aprovação dos sócios.

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Depois de analisados os detalhes, há dois pontos estruturais determinantes para o sucesso do projeto, com um objetivo claro: gerar mais receitas para reter talento e ganhar mais.

O primeiro é a utilização do Estádio da Luz. Um ativo desta dimensão não pode continuar a ser utilizado, em média, três vezes por mês. Um estádio moderno deve estar ativo cerca de 150 dias por ano. Para isso, são necessárias duas alterações: a cobertura do estádio e o rebaixamento do relvado, com um sistema eficaz de estrado de proteção. A cobertura permite viabilizar eventos no inverno. O estrado permite realizar eventos ao longo de todo o ano, garantindo sempre a qualidade do relvado. Em Lisboa, existe procura para um grande espaço desta natureza, mas apenas para um. Se o Benfica não for o primeiro a avançar, arrisca-se a oferecer essa oportunidade ao seu rival. Estamos a falar de cerca de 40 milhões de euros adicionais por ano em receitas de eventos.

O segundo ponto estrutural, talvez o mais decisivo, é a escolha do parceiro estratégico. O projeto só faz sentido se implicar investimento do parceiro e não do Benfica, garantindo que o risco financeiro e de execução não recai sobre o clube. A definição desse parceiro deve ser o primeiro grande passo, através de um processo claro, envolvendo entidades com provas dadas na gestão e promoção de estádios de futebol. Operadores internacionais como a Legends, a Anschutz Entertainment Group, a Oak View Group, a Live Nation, a CTS Eventim ou a Lagardère Sports devem ser convidados a apresentar propostas.

Com um parceiro definido para um horizonte longo, por exemplo 30 anos, e com um modelo de partilha de receitas, será possível discutir com rigor as restantes valências do projeto. Este modelo mitiga riscos de derrapagens financeiras e atrasos de execução, garantindo maior disciplina e responsabilização. Para estes parceiros, o racional é simples: investir entre 400 e 450 milhões de euros para explorar um ativo com um valor potencial entre mil e mil e cem milhões de euros.

Para além destes dois pontos estruturais, existem melhorias relevantes a considerar, como a integração da loja e do museu no interior do estádio. Hoje, quem visita o Estádio da Luz não é conduzido de forma natural à história do clube nem à sua principal área comercial. Integrar o museu e a loja no percurso da visita permite modernizar a experiência e aumentar o valor médio por visitante. A história e a identidade do Benfica são ativos únicos e devem estar no centro da experiência.

O Benfica precisa de evoluir, acompanhar os melhores exemplos europeus e valorizar um dos seus maiores ativos. Trata-se de um projeto com impacto para décadas. É natural que os sócios exijam rigor e garantias. Apoiar este caminho e contribuir para o seu aperfeiçoamento é, enquanto sócio, um dever de compromisso com um Benfica vencedor.