Artur Jorge, treinador do Al-Rayyan
Artur Jorge, treinador do Al-Rayyan - Foto: IMAGO

Artur Jorge com saudades do Brasil e um sonho: «Treinar uma seleção seria interessante»

Treinador português está atualmente no Qatar e, nos últimos dias, foi apontado pela imprensa brasileira como possibilidade para o Flamengo caso Filipe Luís não renove

Artur Jorge, atualmente no Al-Rayyan (Qatar), admitiu que sente saudades do Brasil, onde orientou o Botafogo, em 2024, e venceu Brasileirão e Libertadores. O treinador português abordou as principais diferenças que sentiu na chegada ao Qatar e referiu que foi no Brasil que teve o maior nível de competitividade na carreira. 

«Digo sempre que é a paixão, a paixão daquilo que sentes em cada momento do teu dia a dia. E é incomparável, porque venho do Brasil, onde, para mim, é o topo de nós vivermos essa paixão futebolística. E, portanto, sinto falta disso, sinto falta daquilo que é o dia a dia, a rotina, a competitividade, os termos essa envolvência do ganhar e perder de uma forma mais marcante, mais exigente. Porque, depois, tudo o resto, aquilo que são condições e estruturas, nós temos todas aqui no Qatar. Mas falta o que acho que é o principal. A falta que eu tenho é a competitividade, que nós acabamos por aligeirar aqui em termos de campeonato ou em termos de qualquer outra competição», disse, em entrevista ao Globoesporte, feita a 8 de dezembro e divulgada agora.  

O nome de Artur Jorge surgiu nos últimos dias como possibilidade para o Flamengo, caso Filipe Luís não renove. De acordo com o Globoesporte, Leonardo Jardim, que deixou recentemente o Cruzeiro, e Thiago Motta também estão na lista do Mengão. Artur Jorge tem contrato até junho de 2027 com o Al-Rayyan e uma cláusula de rescisão de cerca de cinco milhões de euros. 

O técnico português continua atento ao futebol brasileiro e admitiu que pode reforçar-se com jogadores do Brasileirão

«Só podemos ter 10 estrangeiros e não podem jogar todos. Ou seja, há um limite de número de jogadores estrangeiros na lista. Obviamente que, para mim, tendo em conta aquilo que foi a minha vivência no Brasil, em 2024, fez com que eu fizesse força para que contratasse jogadores que eu conhecia. Não posso falar só daquilo que é a qualidade futebolística, mas também do caráter, daquilo que foi importante para eu perceber quem são estes jogadores. Portanto, para mim, o Gregore era um prioritário, porque o conheço muitíssimo bem, na sua qualidade futebolística, naquilo que é também como homem. O facto de irmos buscar o Wesley, que fez um ano de 2024 muitíssimo bom no Internacional, é de um jogador que tinha o perfil futebolístico que nós precisávamos», explicou. 

«É, de facto, um campeonato que conheço bem, conheço as equipas, os jogadores, e há muitos jogadores que poderiam jogar aqui seguramente, mas temos também esta questão que esbarra no número limite de jogadores estrangeiros. Mas, com toda a certeza, podemos ter aqui jogadores num futuro próximo que este ano estiveram a competir no Brasil, por exemplo», acrescentou. 

Sonho de orientar uma seleção num Mundial

Aos 53 anos, Artur Jorge sonha em treinar uma seleção, embora defenda que ainda precisa da adrenalina diária de comandar um clube. Espera, ainda assim, disputar um Mundial por uma seleção. 

«Eu tenho traçado alguns objetivos para mim e não vou esconder que treinar uma seleção seria muito interessante daqui a alguns anos, porque ainda me vejo a precisar da adrenalina, da paixão de treinar todos os dias a minha equipa, os meus jogadores, e de jogar, jogar, jogar para ganhar. Faz-me falta isto, em vez de estar à espera das competições internacionais ou competições mais alargadas no tempo. Mas faz parte do meu projeto poder treinar uma seleção num futuro mais adiante», comentou.  

Artur Jorge, treinador do Al Rayyan
Artur Jorge, treinador do Al-Rayyan

O Qatar organizou a última edição do Mundial, em 2022, que teve a Argentina como vencedora. 

«Eu vejo um legado e vejo também aquilo que é uma forma muito inteligente de tirar proveito daquilo que é o mundo do futebol. Porque o futebol, de facto, é aquilo que une, que apaixona qualquer nacionalidade, qualquer país que se fale de futebol. Eu já fui para a Arábia Saudita de carro e reconheceram-me na fronteira por ter sido treinador do Botafogo. Portanto, isto é uma coisa extraordinária para mim, estar tão longe e ter esse reconhecimento. E acho que aqui o Qatar percebeu facilmente que o futebol pode ser um meio de atrair e de fazer com que o país possa ser falado mundialmente. O facto de ter o Mundial e a Intercontinental pela segunda vez este ano, de ter um campeonato do Mundo garantido por mais uns anos do Mundial Sub-17, acho que é uma forma muito inteligente, porque têm condições, têm infraestruturas suficientes e boas para isso mesmo. O facto de terem a seleção que este ano também se apurou para o Mundial dos Estados Unidos, Canadá e México é um feito enormíssimo», atirou, falando sobre a chegada de Ancelotti à seleção do Brasil. 

«É um treinador que merece e que tem o respeito de um Mundo inteiro, exceto de algumas pessoas que se pronunciam de uma forma infeliz. Mas, como eu há pouco valorizei o trabalho do Filipe Luís, eu vejo o treinador na sua pessoa, vejo o treinador pela sua competência, naquilo que é a sua essência, e não pela sua nacionalidade. E eu vejo, e eu próprio, que sou português, tenho um selecionador espanhol, que é o Roberto Martínez. Temos um treinador que fez história, a melhor campanha da história do futebol português, que foi o Scolari. Portanto, isto, para mim, resume-se à competência. E vejo a competência, que é inquestionável, de um treinador como o Ancelotti para poder estar à frente de uma seleção com tão bons jogadores e tantas escolhas como é a seleção brasileira», completou.