A taça que falta, a borrada e a voz rouca: treinador do Benfica na íntegra
— Expectativas do Benfica para o jogo da Allianz Cup perante o Tondela, que tem sentido dificuldades no regresso à Liga?
— Taça é Taça, são competições diferentes, com uma maneira de pensar diferente também. É verdade que estão numa posição não muito fácil da tabela, mas normalmente as equipas que são promovidas, na época seguinte, até encontrarem a sua estabilidade, precisam de algum tempo para se adaptarem. Não queremos facilitar, queremos ir à Final Four. No nosso estádio ganhámos, e bem, o último jogo e queremos tentar dar continuidade e ganhar o jogo. Bem sei que temos um jogo muito difícil e importante em Guimarães no sábado, mas preparámo-nos, com um bom treino, para estar a um bom nível e poder ganhar o jogo.
— Deixou numa gala de um jornal italiano a mensagem de que o Benfica lhe permitiu voltar a Portugal por uma porta gigante. E também falou dos 85 mil sócios votantes nas eleições. Quer dizer mais sobre isto?
— Quando saí do Fenerbahçe não estava à espera de regressar tão rapidamente. Queria, obviamente, mas não estava à espera de regressar tão rapidamente. Queria ser muito seletivo na minha escolha, tinha-me preparado psicologicamente para dizer muitas vezes que não, porque queria aceitar alguma coisa que eu sentisse que era verdadeiramente uma motivação, uma responsabilidade. Quando o Benfica apareceu fui rápido a dizer o sim. Aquele processo eleitoral tem tido um impacto extraordinário fora, principalmente na comunidade futebolística, foi um impacto extraordinário. Aproveitei a oportunidade para vincar o meu orgulho de estar aqui, e por outro lado, se posso ser também um veículo de promoção, de projeção do Benfica, também o faço com maior orgulho.
— Otamendi marcou ao Arouca e passou a ser o jogador mais velho a marcar com a camisola do Benfica. É também capitão de equipa e titular indiscutível. Tendo em conta que está em final de contrato, mas que terá 38 anos quando chegar ao fim da época, recomendará a renovação?
— Acho que nos jogadores de futebol uma coisa é a idade real e outra coisa é aquilo que nós vemos em campo. No meu caso, não é só aquilo que eu vejo em campo, em jogo, mas aquilo que eu vejo também em campo, em treino. Há jovens de 20 anos que são jogadores velhos e há velhos — espero que eles não se ofendam porque eu sou mais velho do que eles — de 38 e de 40 anos que são jovens. Para perceberem também um pouco a minha relação com ele e ao nível a que está a nossa comunicação, eu perguntei-lhe muito objetivamente e disse-lhe muito objetivamente, temos Guimarães e temos Leverkusen, o que é que fazemos amanhã? E ele disse-me: ‘temos Guimarães, temos Leverkusen e temos Tondela’. Joga. É um jogador importantíssimo para nós. Para questões contratuais e do futuro temos, obviamente, gente para decidir, mas em relação às perguntas que me façam, eu cá estou para responder.
— Vai fazer muitas alterações?
— Poucas, algumas. Não mudo 11, nem mudo 10, nem 9, nem 8, nem 7, mudo alguma coisa.
— Qual o perfil desses tais jogadores que pretende em janeiro?
— Eu não disse que iria, eu falei disso tendo em conta os jogadores, as qualidades, as limitações, quer ao nível individual, quer ao nível do plantel, e porque não queria que se criasse a perceção de que o Benfica precisava de 10 jogadores novos ou de 5 jogadores novos. Eu falei de um ou dois jogadores-chave. Muitas vezes um ou dois jogadores são o suficiente para dar um cariz, para dar um equilíbrio ao grupo e à equipa completamente diferentes. Eu não pedi jogadores a ninguém e ninguém me disse que me iam ser dados jogadores. Internamente, obviamente, abro a minha análise e falo sobre a minha visão e sobre aquilo que eu acho que pode ser importante para melhorar, mas nada mais do que isso. A minha missão aqui não é estar a pedir jogadores e pedir e pedir e pedir, a minha missão aqui é trabalhar com os jogadores que eu tenho, tentar melhorá-los individualmente, tentar melhorar a equipa também, e depois no mercado de janeiro, se a Direção nos puder ajudar, um ou dois jogadores de um determinado perfil seria ótimo.
— Falou do impacto das eleições do Benfica lá fora, tiveram também impacto no plantel?
— Acho que as eleições sentem-se há tanto tempo… há meses que se sentem as eleições do Benfica, acho que ainda antes de eu chegar já se sentia. Jogadores foram-se habituando, um bocadinho isolados de alguns contextos que podiam prejudicar, mas eu acho honestamente que não prejudicaram, a equipa conseguiu, umas vezes com bons resultados no campo, outras vezes com resultados negativos. Mas não considero que exista relação entre os resultados negativos e o período eleitoral.
— Este formato da Taça da Liga faz sentido para si?
— Habituei-me a jogar muitos jogos, estive muitos anos em Inglaterra onde havia também Taça da Liga inglesa e FA Cup. Habituei-me, na minha cabeça, também no meu corpo, que já não é jovem. Na minha cabeça gosto de jogar, gosto de jogos e não nunca vou estar contra qualquer tipo de competição. Se esta competição depois ao nível económico significa alguma coisa para os clubes? Isso não me preocupa, se calhar tem um impacto menor para os clubes maiores, se calhar tem um impacto maior para os clubes mais pequenos, não faço a minha ideia como é a distribuição das receitas. É a única competição em Portugal que eu ainda não ganhei, pode ser que consiga ganhá-la. Diria que o Benfica nem mesmo a jogar jogos particulares pode fazer borrada, portanto acho que esta Taça da Liga não é para brincar, é para jogar. Obviamente, tenho de dar descanso a alguns jogadores, não posso fazer jogar sempre os mesmos. Amanhã vou fazer 3 ou 4 alterações.
— Sócios do Benfica mostraram que confiam no projeto desportivo de Rui Costa com José Mourinho?
— Não faço a mínima ideia, quando eu vim para o Benfica, nem o presidente do Rui Costa, nem o diretor Mário Branco me tocaram no tema eleitoral. O único momento em que tocaram no momento eleitoral foi para sensibilizar-me a aceitar um contrato que respeita as eleições no sentido de uma hipotética nova direção. A poder decidir em função de não ser o treinador que eles queriam. A partir do momento em que eu aceitei essa situação ética. Só me falaram do Benfica, do futuro do Benfica, dos motivos pelos quais queriam que eu fosse o treinador do Benfica. Este toque ao nível contratual, que em situação normal de não eleições eu nunca aceitaria, aceitei porque também eu queria ser ético relativamente às eleições.
— Manu Silva pode ter minutos?
— Não, não.
— No último jogo deu algumas indicações a Lukebakio sobre posicionamento defensivo. Tem de haver crescimento nesse sentido, tendo em conta que joga também com Pavlidis, Sudakov e Prestianni?
— Verdade, verdade. Relativamente a Lukebakio eu até brinquei com ele: para ele não pensar que quando joga no lado oposto ao banco está tranquilo, que eu não vejo. Porque eu vejo-o na mesma e às vezes apareço aqui rouco exatamente por gritar muito, portanto ele não fica tranquilo mesmo quando joga no lado oposto. Mas é verdade, as dinâmicas defensivas, principalmente quando se joga com muitos jogadores de cariz ofensivo, são importantes relativamente à disciplina e às funções de cada jogador. É uma equipa ofensiva, com Aursnes a lateral, é importante que a equipa trabalhe bem defensivamente. Hoje só trabalhámos a organização ofensiva.
— Obrador e Joshua Wynder podem ir a jogo?
— Em relação a Joshua é uma pena, porque teve um pequeno problema no treino de hoje. Quando são coisinhas pequenas a nível muscular eu não gosto de arriscar, se há lesões com as quais eu não me sinto confortável são pequenas coisas a nível muscular. Joshua está fora, o Obrador é muito possível que tenha minutos, que jogue, é um rapaz que tem boas condições, que tem de maturar, de crescer. Do ponto de vista mental e da autoconfiança, mas vai chegar lá, vai chegar. Não penso que seja um produto acabado. É bom miúdo, um miúdo inteligente, um miúdo que se vê que absorve e procura melhorar, eu acho que ele vai melhorar e vai chegar a um nível bom para nós. Neste momento tem um caminho ainda a percorrer, mas nós estamos aqui para percorrer esse caminho com ele.